O ataque ao jornal satírico francês Charlie Hebdo completou dez anos na última terça-feira (7). Naquele dia, em 2015, dois homens armados invadiram a redação do jornal em Paris e assassinaram 12 pessoas, evento que desencadearia um recrudescimento da campanha imperialista contra os povos árabes e os muçulmanos em geral, incluindo os não-árabes.
Na manhã de 7 de janeiro de 2015, os irmãos Said e Chérif Kouachi, franceses de origem argelina, invadiram a sede do jornal Charlie Hebdo, localizada no 11º distrito de Paris. Armados com fuzis AK-47, eles atacaram o edifício em resposta ao órgão de imprensa que, sob o pretexto da liberdade de expressão, promovia ataques sistemáticos contra os povos muçulmanos e suas crenças. Ao longo de anos, o jornal se dedicou a difamar o Islã e seus símbolos, publicando charges voltadas a escarnecer com a fé islâmica, agindo como um instrumento ideológico do imperialismo europeu.
O ataque teve início no térreo, onde o porteiro Frédéric Boisseau foi morto. Em seguida, os irmãos subiram ao segundo andar, onde ocorria a reunião editorial semanal do jornal. Durante o ataque, que durou cerca de dez minutos, dez pessoas foram mortas, incluindo cartunistas como Charb, Cabu, Wolinski e Tignous. Na fuga, assassinaram o policial Ahmed Merabet, também de origem muçulmana, que patrulhava a região.
Dois dias depois, os irmãos Kouachi foram cercados em um armazém em Dammartin-en-Goële, onde foram mortos pela polícia. Esses acontecimentos não podem ser vistos como atos isolados, mas como expressões da revolta de povos historicamente explorados e violentados por potências imperialistas.
Na mesma época, a França participava ativamente de bombardeios na Síria e em nações africanas da região do Sahel, perpetuando um ciclo de destruição e opressão que alimenta a resistência dos povos muçulmanos contra seus agressores. A reação francesa ao ataque foi marcada por uma manifestação de cinismo.
No dia 11 de janeiro daquele ano, o então presidente François Hollande liderou uma marcha em Paris, acompanhado por líderes de mais de 40 países, entre eles, a chanceler alemã Angela Merkel, e o presidente espanhol Mariano Rajoy. Ou seja, importantes articuladores da ditadura mundial eram “Charlie”, como diziam os manifestantes.
Enquanto isso, a mesma França que clamava por liberdade e tolerância aterrorizava populações muçulmanas com suas campanhas militares. A hipocrisia alcançou seu auge com a difusão do slogan “Je Suis Charlie” (“Nós somos Charlie”, em tradução livre), que buscava transformar o jornal em um símbolo da liberdade de expressão, ignorando seu papel como provocador e colaborador ideológico das agressões imperialistas.
Essa campanha também serviu para justificar uma escalada na islamofobia na França e em outros países europeus. Sob o pretexto de defender valores ocidentais, o imperialismo aproveitou o momento para intensificar ataques contra muçulmanos, tanto em seus territórios quanto no exterior. A população do Sahel, bombardeada durante anos, só conseguiu expulsar os invasores franceses em 2023, um feito que evidencia a resistência persistente dos povos oprimidos contra a dominação estrangeira.
A continuidade das publicações do Charlie Hebdo, agora em uma sede secreta e com segurança reforçada, é apresentada como uma vitória da liberdade de expressão. Contudo, não passa de uma celebração da impunidade de um jornal que atuou como uma extensão da propaganda imperialista, desrespeitando sistematicamente as crenças e as dores dos povos muçulmanos.
O atentado de 2015 deve ser compreendido dentro de uma conjuntura mais amplo: uma reação à violência colonial que segue viva, manifestada em guerras, exploração econômica e campanhas de difamação cultural. Longe de ser um episódio isolado, trata-se de uma resposta desesperada de um povo oprimido contra o sistema que os submete ao sofrimento há séculos. O imperialismo francês, ao impulsionar a campanha “Je Suis Charlie” enquanto bombardeava muçulmanos, demonstrou mais uma vez seu cinismo e sua crueldade ao manipular tragédias para legitimar suas próprias atrocidades.