Faixa de Gaza

Cessar-fogo não é ‘só alívio’, é vitória colossal do Hamas

A esquerda pequeno burguesa reproduz textos ligados a Autoridade Palestina que não só não lutou contra “Israel”, como atacou a resistência em meio ao genocídio 

O cessar-fogo na Faixa de Gaza foi uma das maiores vitórias dos oprimidos no século XXI, foi a vitória do povo de Gaza, liderado pelo Hamas, contra todo o bloco imperialista unificado. A esquerda pequeno-burguesa, no entanto, não comemora essa vitória, não enxerga o tamanho do baque que tomou o imperialismo com esse cessar-fogo. A Revista Movimento, ligada ao PSOL, publicou o texto de Mahmoud Mushtaha “Um cessar-fogo pode trazer apenas um alívio temporário. O que conta é o que vem depois” que segue essa tese de diminuir o tamanho da vitória que foi o cessar-fogo.

O texto começa falando sobre a devastação na Faixa de Gaza e depois aborda as incertezas do acordo de cessar-fogo, algo que é inevitável diante do inimigo dos palestinos, o sionismo. Nesse sentido, ele começa apresentando essa linha política de ocultar o quanto o acordo foi uma vitória gigantesca dos palestinos. Foca no sofrimento do povo, algo que poderia ser um tópico de debate. No entanto, quando a vitória não é citada se torna apenas uma política reacionária.

Mushtaha adentra os tópicos políticos dizendo: “como palestinos, muitas vezes nos vimos vítimas dos cálculos políticos e estratégicos ruins de nossos líderes: desde os Acordos de Oslo, que descarrilaram a trajetória de nossa luta, até o cisma político de 2007, que dividiu nosso povo geográfica e ideologicamente, e, mais recentemente, o ataque de 7 de outubro, que não trouxe nenhuma melhoria tangível para os habitantes de Gaza”.

A crítica aos líderes é uma crítica direta ao Hamas. Em seguida, critica o próprio 7 de outubro, ou seja, a gloriosa operação Dilúvio de al-Aqsa, o maior desastre militar e político da história de “Israel”. A ideia de que a luta do Hamas não trouxe nada tangível para o povo de Gaza é absurda. O enfraquecimento gigantesco de Estado colonialista aproxima muito a Palestina de sua libertação. Mas o autor quer focar apenas nos bombardeios, na destruição da infraestrutura e nas mortes, essa é uma política reacionária. Em vez de considerar que o inimigo está se enfraquecendo, apenas se detém nos danos que o inimigo causou.

O autor segue dizendo que “o Hamas há muito tempo explora os sentimentos nacionais e manipula as emoções, ao mesmo tempo em que silencia as vozes discordantes para justificar ações que muitas vezes resultam em consequências adversas para a população de Gaza. Sua incapacidade de lidar com as principais questões desde que assumiu o poder em Gaza em 2007 – pobreza, desemprego, colapso da infraestrutura e isolamento internacional – corroeu a confiança dos habitantes de Gaza. Em vez de promover nossa causa, suas ações aprofundaram as divisões sociais, isolando ainda mais Gaza da realidade palestina mais ampla e minando nossa luta coletiva”.

A crítica ao Hamas se amplia, outra crítica absurda e entreguista. Desde que o Hamas foi eleito, algo que ele prefere omitir, o Estado de “Israel” começou um cerco monstruoso à Faixa de Gaza. Enquanto persistir essa situação é totalmente absurdo culpar o Hamas pelo sofrimento do povo de Gaza, a culpa é de total responsabilidade do sionismo. O Hamas, por sua vez, é extremamente popular e é a organização que promove a causa Palestina no mundo, é o principal partido do povo palestino. O autor tenta esconder essa realidade, como se o Hamas não fosse um movimento de massas, mas apenas um governo burocrático de Gaza. A prova que o Hamas é um movimento de massas é que ele resistiu ao mais brutal ataque do imperialismo e ainda se fortaleceu.

Mushtaha então coloca qual deveria ser a política do Hamas: “realisticamente, nem o Hamas, nem a Autoridade Palestina (AP), sozinhos, têm a capacidade de interromper as mortes, as prisões ou a destruição infligida aos palestinos em Gaza e na Cisjordânia”, e segue: “no entanto, a rivalidade política entre o Hamas e a AP – incentivada pela estratégia de longa data de Israel de “dividir para conquistar” – garante que os palestinos permaneçam politicamente fragmentados e incapazes de apresentar uma frente unificada para exigir responsabilidade ou justiça. A falta de unidade não apenas enfraquece a defesa palestina no cenário global, mas também exacerba as divisões que foram exploradas para prolongar a ocupação e o sofrimento do povo palestino”.

Essa também é uma crítica desmedida ao Hamas. O partido, desde 2017, tenta se reconciliar com a Autoridade Palestina, mas é constantemente sabotado pelo governo Mahmoud Abbas, capacho do sionismo. Durante a guerra em Gaza, a Rússia e a China mediaram um acordo do Fatá com o Hamas, mas a Autoridade Palestina segue o sabotando. Prova maior disso é que na Cisjordânia a AP está atacando a resistência, inclusive o Hamas, com suas forças de repressão. Quem age contra a unidade é a AP, o Hamas faz de tudo para conquistar a unidade. Tanto é assim que forma um bloco unificado com diversas organizações como a FPLP, a FDLP e a Jiade Islâmica.

O autor do texto, em um claro ato de má-fé, culpa o Hamas por não incluir o Fatá: “em vez disso, o Fatá permaneceu totalmente excluído das negociações de cessar-fogo entre Israel e o Hamas, enquanto a AP busca recuperar o governo unilateral da Faixa de Gaza sem o Hamas e, ao mesmo tempo, ajuda Israel a reprimir os movimentos de resistência palestina na Cisjordânia”. Ele ao menos critica as ações da AP, mas que o Fatá deveria ter alguma participação no cessar-fogo é ridículo. O Fatá não estava lutando a guerra, se acovardou no gabinete de governo em Ramalá, por que deveriam discutir um cessar-fogo? O Hamas, por sua vez, fez questão de colocar líderes do Fatá que estão presos na lista de prisioneiros a serem libertados.

A posição do texto, ao final, é reacionária. Critica o Hamas por travar a luta armada, a única que garantiu vitórias para os palestinos em décadas. Critica também por não unificar com o Fatá, o que é um ataque falso, pois o Hamas faz de tudo para conquistar essa unidade. E, por fim, e não menos importante, não considera que o cessar-fogo foi uma enorme derrota de “Israel”. Ou seja, o autor se ausenta da luta política que acontece em seu país. Enquanto isso, o povo de Gaza sai às ruas celebrando a vitória das Brigadas al-Qassam contra o exército nazista do século XXI.

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