No último dia 21 de março, foi lançado o programa Crédito do Trabalhador, criado pelo governo Lula através da MP nº 192, que libera o crédito consignado para 47 milhões de trabalhadores com carteira assinada, incluindo os domésticos, os rurais e os empregados do MEI. Segundo dados da Dataprev e divulgados pelo Ministério do Trabalho até as 11h da manhã de domingo (23), o sistema já havia registrado quase 36 milhões de simulações de empréstimos e 6,7 milhões de pedidos de propostas encaminhadas às instituições financeiras em apenas 17 horas.
Os empréstimos são dirigidos aos trabalhadores do setor privado e as operações podem ser feitas tanto pelos bancos públicos como pelos privados. Conforme anunciado pelo governo, o crédito contará com juros mais baixos e, para a alegria dos banqueiros, as parcelas serão descontadas diretamente na folha de pagamento dos trabalhadores, o que significa risco zero de inadimplemento, e terão também como garantia, no caso de demissão do trabalhador celetista, o desconto que será aplicado sobre as verbas rescisórias, distribuídas o limite legal e sobre o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
Os números apresentados, que são mais de dois terços do total de trabalhadores atingidos pela medida, em apenas três dias do começo do programa são impressionantes, revelam o quanto os trabalhadores estão com a corda no pescoço, estrangulados pela situação econômica, endividados no cartão de crédito, cheque especial, consignados, crédito pessoal, carnês etc.
Por outro lado, a Medida Provisória só trouxe alegria para os banqueiros.
Com os orçamentos pressionados pela alta da inflação e das taxas de juros, desemprego, trabalho informal e salários baixos, o percentual de famílias brasileiras com dívidas e/ou contas atrasadas em fevereiro deste ano, mesmo tendo um pouco de melhora, é gigantesco.
Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) informa que, em fevereiro de 2025, 67,7% é o percentual de famílias endividadas que, em números absolutos, são 2.766.161 família, sendo que 775.289 delas estão com as contas em atraso e 337.605 não terão condições de pagar.
Desses 67,7% de famílias endividadas, 71,9% delas são famílias com renda de até 10 salários mínimos e de 55,5% acima de 10 mínimos. Das famílias com contas em atraso, 22,3% são aquelas com renda de até 10 salários mínimos e as de mais de 10 mínimos, 10,7%.
Quando dissemos que os banqueiros estão com um sorriso de orelha a orelha com a medida é porque, logicamente, as adesões dos trabalhadores aos atuais empréstimos consignados para os trabalhadores celetistas privados serão revertidos para saldar dívidas, principalmente com os banqueiros, se “livrando” de dívidas com juros na estratosfera do tipo cartão de crédito, cheque especial, e adquirindo essa “nova” modalidade de dívida, com juros mais barato, com a garantia para os banqueiros de inadimplência zero.
Ao invés dos banqueiros realizarem os tais “mutirões” de renegociação de dívidas em atraso, agora podem contar com mais esse benefício.