Liberdade de expressão

Celular virou bicho-papão da esquerda pequeno-burguesa

Esquerdista pequeno-burguês acredita que a mentira nasceu com as big-techs, quando, na verdade, é a grande imprensa a maior difusora de mentiras

Bicho-Papão

O artigo Quem lê tanta notícia?, de Miguel Paiva, publicado no Brasil247 neste sábado (1º), começa falando de um saudosismo, quando as pessoas “se juntavam na frente [das bancas de jornais] para ler enquanto esperavam o bonde”.

Para fazer o contraponto, o articulista alega que “isso hoje em dia está sendo feito nas redes sociais. Depois que inventaram o celular e com ele as big- techs, a vida mudou. As pessoas andam com o celular diante dos olhos como se a tela substituísse a realidade. Um pouco elas já fazem isso. A realidade pode ser moldada ao bel prazer do comunicador. A mentira está aí para isso. Levar a população a pensar de um jeito que favoreça aquele pensamento, usando mentiras ou verdades”.

Miguel Paiva se esquece de um detalhe: a mentira já estava lá, nos jornais, que manipulavam a realidade sendo moldada a bel-prazer do comunicador. Não foi necessário que surgissem as tais big-techs, um dos bichos-papões que fazem boa parte da esquerda ter medo de dormir no escuro.

Lima Barreto, em 1909 (!), em seu livro Recordações do Escrivão Isaías Caminha, já desnudava o que era a imprensa burguesa. Ótima leitura para quem quer saber como essa coisa funciona. A mentira nunca necessitou de tecnologias. O que a grande imprensa precisa é do monopólio da informação. Por isso existe essa Cruzada mundial contra os celulares.

A esquerda pequeno-burguesa, sensível às preocupações da burguesia, comprou a ideia de que os celulares são um mal. De certa maneira, são, sim, pois democratizam o poder de informação, e isso a burguesia detesta.

Segundo Paiva, “todo mundo tem um celular. O último censo feito mostrava que havia mais celular do que gente no Brasil. Em todo lugar todo mundo está diante de um celular. Na rua caminhando, na bicicleta trabalhando, na academia malhando, todos usam o celular e é sempre muito mais para ver alguma coisa do que para se comunicar. A solidão de outros tempos se foi. Hoje você tem ‘amigos’ virtuais e pode ficar sabendo da vida de todos sem precisar ler um jornal. Claro que isso trouxe uma sensação de democratização da comunicação. Ao mesmo tempo um perigo de que aquelas mentiras que falamos possam se difundir e mudar a realidade como até já vimos acontecer” – grifos nossos.

Não é “sensação”, é democratização de fato. Em 2013, durante as manifestações, a selvageria da repressão pela polícia foi colocada nas redes sociais em tempo real. Policiais espancando pessoas ajoelhadas, cegando pessoas com tiros de borracha, atirando gás lacrimogênio dentro de apartamentos, dentro de recintos fechados, policiais quebrando deliberadamente o vidro de viaturas para culpar manifestantes, policiais infiltrados dentro da manifestação… tudo isso foi desmascarado.

Aquela farra da Globo, e mais um punhado, de mudar a realidade, de falar sozinha, acabou. O perigo, portanto, não são as mentiras, mas as verdades que um simples celular é capaz de mostrar. E isso a burguesia não pode admitir.

O que a burguesia quer é censurar. É claro que não utilizam essa palavra, fala o mesmo que Miguel Paiva repete: “estudo e uma regulamentação são importantes e fundamentais”. Liberdade de expressão atenta contra o monopólio da informação, por isso que lemos no artigo “liberdade de expressão precisa de regras”.

Ao mesmo tempo, nunca faltam as falácias do tipo “qualquer associação precisa de regulamentação. Casamento precisa, futebol precisa, enfim, seguindo as regras, ou os limites, tudo é possível. Sua liberdade vai até onde começa a do seu vizinho, já dizia aquele azulejo velho da casa demolida”.

Liberdade de expressão não tem nada a ver com futebol, casamento etc. Isso é falacioso. E, por falar em casa demolida, no Reino Unido mais de 12 mil pessoas estão presas por se expressarem contra a demolição de casas na Cisjordânia e em Gaza; pessoas que denunciam o genocídio. Eis a razão de ser da “regulamentação” da liberdade de expressão.

Querem proibir os jovens de acessarem as redes sociais, de utilizarem celulares. A desculpa já bastante velha, do tempo em que se lia jornais em frente às bancas de jornais: “é para proteger a juventude”.

O Estado burguês não investe em educação, as escolas estão caindo aos pedaços, os professores recebem salários de fome, não conseguem dar uma boa aula e, ainda assim, temos que acreditar que existe preocupação com os jovens. Acredita quem quer. Colocar a culpa nos celulares chega a ser uma piada.

É preciso impedir que os jovens vejam o que acontece em Gaza, no continente africano. É necessário impedir que assistam à agressão dos EUA contra a Venezuela, que vejam dezenas de corpos enfileirados nas favelas, brutalmente assassinados pela polícia, com marcas de tiros no rosto, na rua. Mostrar isso desmonta o que a grande imprensa diz.

Paiva diz que é certo também que o povo fica vendo foto, lendo fofoca, jogando e trocando mensagens na maioria dos casos. Mas também é alvo da informação mal intencionada”. E o que o articulista tem a dizer das notícias que alegam que a maioria do povo aprova a maior chacina no Rio de Janeiro? A intenção terá sido boa? As imagens cruas, o choro das pessoas ajoelhadas diante de seus mortos, gritam que os jornais mentem descaradamente.

Miguel Paiva diz que “a ideia de liberdade de expressão americana, por exemplo, é uma ilusão”. Isso é falso! Está circulando um vídeo nas redes sociais que mostra três policiais no Texas indo à casa de um cidadão para questionar suas postagens a respeito da comunidade judaica. O homem simplesmente manda os policiais darem o fora, alegou exercia sua liberdade de expressão. Se fosse no RU, estaria em cana, mais um para se juntar aos mais de 12 mil.

O artigo termina em uma choradeira, reforçando a ideia que a grande imprensa divulga, de que “o celular reproduz a sociedade que vivemos e tenta mantê-la viva”. Em seguida, diz que “se conseguirmos mudar a sociedade, torná-la mais justa talvez consigamos mudar também os celulares”.

Em um mundo com uma brutal concentração de renda, com chacinas, censura, famílias com dívidas até o pescoço, o problema é o celular. Faz de conta.

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