O caso de Isabella Cêpa, feminista brasileira que precisou buscar asilo político na União Europeia, é a demonstração explicita de que o identitarismo não é um movimento “de vanguarda” na luta contra a opressão. Pelo contrário: é uma corrente política reacionária, policialesca e aliada objetiva das forças mais conservadoras da sociedade.
Isabella, designer gráfica e ativista, foi processada no Brasil por se referir à deputada Erika Hilton de acordo com o sexo biológico. Com base na decisão do STF que equiparou “transfobia” a racismo, o caso poderia levar a até 25 anos de prisão, uma pena que rivaliza com a de crimes hediondos. Diante dessa ameaça absurda, Isabella obteve reconhecimento internacional como vítima de perseguição política, tornando-se a primeira brasileira a receber asilo na União Europeia desde o fim da ditadura militar, e o primeiro caso no mundo relacionado a gênero.
Não estamos diante de uma “defesa legítima de direitos humanos”, mas de um mecanismo de intimidação que se vale de uma roupagem progressista, da defesa da mulher, dos negros, das pessoas trans. O identitarismo, ao substituir a luta de classes por disputas morais e linguísticas, fornece à burguesia uma ferramenta eficaz para perseguir dissidentes, criminalizar adversários e desmobilizar movimentos sociais.
O verniz progressista do autoritarismo
O identitarismo cumpre esse papel. Sob o pretexto de “proteger minorias”, fortalece o aparato repressivo do Estado, dando cada vez mais poder para perseguir indivíduos por suas opiniões. Essa corrente política não ameaça o poder real do capital. Pelo contrário, é funcional a ele: fragmenta a classe trabalhadora em nichos identitários, neutraliza a luta unificada contra a exploração e desloca o debate do terreno material para o simbólico. Enquanto o operário é explorado no chão de fábrica, a juventude é criminalizada nas periferias e as mulheres massacradas pela exploração doméstica, a pauta central do identitarismo é censurar, condenar, botar gente na cadeia.
O resultado é um ambiente de medo e autocensura, onde as críticas políticas são enquadradas como crimes, a pavimentação perfeita do caminho para um regime autoritário.
Não é por acaso que o movimento “Woke” encontra tanto espaço nas universidades, ONGs financiadas por fundações imperialistas e pela grande imprensa. Ele não ameaça a estrutura de poder, apenas oferece um novo código moral para disciplinar a população e dividir a classe trabalhadora.
Ao invés de organizar os explorados contra os exploradores, o identitarismo os coloca uns contra os outros, criando hierarquias de opressão e disputas por reconhecimento simbólico. Assim, a burguesia segue intocada, e qualquer crítica ao seu modelo de sociedade pode ser descartada como “discurso de ódio”.
O caso Isabella Cêpa desnuda essa lógica. A perseguição a uma mulher por um suposto “crime” de linguagem revela que estamos diante de um movimento que não teme usar o aparato repressivo do Estado para impor sua ideologia. O identitarismo já mostrou suas garras: é autoritário, é inimigo da liberdade e é aliado da classe dominante.




