No momento em que o Estado nazista de “Israel” retoma a sua guerra genocida contra a população da Faixa de Gaza, assassinando quase 500 palestinos em 24 horas, a Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), em uma parceria com a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), decidiu publicar uma cartilha tenebrosa sobre a questão palestina.
O texto já chama a atenção logo no seu início, quando, em sua apresentação, escrita por Luciana Genro, dirigente do Movimento Esquerda Socialista (MES), uma das correntes do PSOL, diz:
“Enquanto estas palavras são escritas, no final do mês de novembro de 2024, a Palestina já contabiliza 417 dias de genocídio, com 55.031 exterminados na Faixa de Gaza, considerando os 10 mil desaparecidos sob escombros.”
As primeiras palavras da cartilha mostram que foram necessários incríveis 417 dias para que o PSOL, um partido com 14 deputados na bancada de sua federação (PSOL-REDE), conseguisse editar uma cartilha sobre a guerra mais criminosa dos dias de hoje. Se dependesse do PSOL para que a guerra cessasse, portanto, o povo palestino já teria sido exterminado.
O caso mostra o como é ridícula a ideia de que a comunidade internacional irá parar o genocídio. Quem impediu que “Israel” acabasse com a população de Gaza e quem impôs um vitorioso acordo de cessar-fogo, que humilhou o sionismo, foi a Resistência Palestina, que, desde o primeiro dia, está, de fato, lutando contra “Israel”.
A demora inacreditável para publicar uma cartilha – isto é, para tomar uma única iniciativa por parte do PSOL diante do genocídio – é complementada com a hipocrisia do trecho seguinte:
“É impossível traduzir o horror em números, por mais impactantes que eles sejam, mas é possível transformar a indignação em luta por mudanças profundas para que esses números – que vêm se repetindo há pelo menos 100 anos, e atualmente de forma ainda mais dramática – não mais venham a existir.”
De que “luta” o PSOL está falando? O que o partido vinha fazendo ao longo de mais de um ano, enquanto imagens de crianças despedaçadas rodavam o mundo inteiro?
Logo em seguida, aprendemos por que Luciana Genro foi escolhida para redigir a apresentação. A ex-candidata à presidência da República pelo PSOL se considera “descendente do Judaísmo” – afinal, a esquerda não resiste a uma demagogia com os judeus quando trata da questão palestina, tamanho o medo de ser acusada de “antissemitismo”.
A “descendente do Judaísmo”, então, nos ensina que “só existe uma questão Palestina no mundo porque a Europa tornou insustentável a permanência dos judeus em seus países, agravando a perseguição ao longo do século XIX até chegar à barbárie nazista no século XX”. Isso não faz o menor sentido.
Mesmo que nunca tivesse aparecido nenhum único judeu no mundo, a Palestina seria ocupada pelo imperialismo. Não tem nada a ver com os judeus, nem com a perseguição aos judeus nos séculos passados. O controle da Palestina era uma política colonial do imperialismo britânico e, depois, do imperialismo norte-americano.
A cartilha faz parecer que a presença judaica é o centro da questão, mas isso é uma completa distorção histórica. É uma brecha, obviamente, para que a presença dita “judaica” – isto é, dos sionistas oriundos da Europa – seja considerada aceitável nas terras palestinas. Afinal, se os “judeus” estão na Palestina porque foram expulsos, é porque a Palestina também deveria ser terra deles também.
Depois de tanta bizarrice, Luciana Genro conclui, em sua apresentação, que “o desafio posto para mudar essa complexa realidade é cerrar fileiras em defesa do povo palestino”, mas sem uma linha combativa clara. E ainda afirma que “não abrimos mão de cumprir um papel ativo e internacionalista”. Depois de assistir à morte de mais de 50 mil palestinos, falar em papel ativo soa, no mínimo, irônico.
O que a apresentação de Luciana Genro indica é que a cartilha serve mais para dar alguma satisfação, após a inação vergonhosa do partido ao longo de um ano e meio de genocídio, do que propriamente uma publicação para impulsionar a luta do povo palestino. A “solidariedade” proposta pelo PSOL, ao que dá entender, é a mesma da qual vem praticando: uma publicação nas redes sociais a cada dois meses, um choro em frente às câmeras e a eterna lamentação por aqueles que estão pagando com o seu sangue o preço por sua libertação.
Não causa surpresa. Isso também explica a parceria com a Fepal. Ainda que tenha sido forçada a denunciar os crimes de “Israel” contra a Faixa de Gaza, uma vez que ficar em silêncio causaria uma crise insustentável na federação, a Fepal possui relações diretas com a Autoridade Palestina (AP) no Brasil.
Isto é, com a entidade corrompida e sustentada pelo imperialismo e pelo sionismo para represar a insurgência do povo palestino contra “Israel”. A defesa tácita da “solução de dois Estados”, ao relacionar os pogrons judeus à causa palestina, e à mais completa e absoluta ausência de qualquer menção à luta da Resistência Palestina, dirigida pelo Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), são mais que convenientes para a Autoridade Palestina.
Por parte do PSOL, a cartilha está de acordo com a covardia do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), que, quando cobrado para que apoiasse as falas do presidente Lula contra o Estado de “Israel”, disse não ser candidato a prefeito de Telavive – ou seja, disse que a questão palestina não era uma prioridade, principalmente porque há muita gente no PSOL que não apoia de fato a Palestina.
A primeira nota que o PSOL emitiu sobre a Palestina é outro desastre: condena o Hamas, dizendo que matou 1.200 pessoas. Ou seja, é uma defesa da Palestina que, na prática, parece uma defesa dos sionistas.
O PSOL demorou um ano inteiro para se posicionar diante do genocídio e, quando se posiciona, sai em defesa dos responsáveis pelo genocídio. É um desastre.