O jornalista Janio de Freitas, em coluna para o portal Poder360, publicada na última sexta-feira (3) deu sua opinião sobre a questão da participação do governo brasileiro na posse do presidente venezuelano eleito, Nicolás Maduro. “A presença de representante brasileiro na posse presidencial de Nicolás Maduro será, se confirmada, uma capitulação do Brasil” ― assim começa o texto de Freitas.
O colunista prega que o governo Lula mantenha a “coerência” na posição de não reconhecimento da vitória do candidato bolivariano. Ele afirma:
“Convalidar a posse é subscrever a legalidade e a legitimidade de um resultado eleitoral não reconhecido como legal e legítimo. É incoerência com efeito retroativo: nega todo valor ― político, humanitário e moral ― à atitude brasileira precedente, de defesa dos mesmos fundamentos pelos quais aqui se lutou contra a fraudulência e o golpismo.”
Janio de Freitas reproduz, no texto, a verborragia que o imperialismo norte-americano divulga aos quatro cantos para atacar o governo nacionalista de Maduro. Ele fala em “farsa eleitoral venezuelana”, “traição à vontade, às esperanças e às lutas da maioria”, “traição feroz à maioria do povo venezuelano”; qualifica Maduro de “golpista” e “ditador”.
Ficou claro, desde a partida, que o imperialismo preparava uma ação golpista de maior envergadura a ser desferida em meio ao processo eleitoral venezuelano. A campanha de acusações de uma suposta fraude eleitoral se conjugou com as ações de rua das hordas de extrema direita financiadas e estimuladas pelos EUA.
A tentativa de emplacar um “Guaidó 2.0”, agora com Edmundo González à cabeça, não teve êxito por enquanto, tendo a vista a reação do governo bolivariano, que bloqueou, pelo menos por ora, a ofensiva golpista. O imperialismo tenta há cerca de duas décadas derrubar o regime chavista, mas sem sucesso.
Freitas se coloca inteiramente no campo do imperialismo; comporta-se como um escriba dos piores inimigos dos povos explorados do mundo, em particular dos latino-americanos. Reconhece a existência do embargo imperialista contra a Venezuela, mas relativiza a situação:
“É enganosa a ideia de que a situação social venezuelana seja tão grave por consequência das sanções econômicas. Maduro e seus ministros se ocupam de criar demagogia e de suas próprias ambições.”
A Venezuela sofre um brutal bloqueio do império norte-americano e de vários outros países, imperialistas ou subservientes aos EUA. Mais de 150 empresas e navios petroleiros sofrem boicote internacional, 718 autoridades do país tiveram revogados os seus vistos de entrada nos EUA e em países aliados do imperialismo.
País pobre e com um povo sofrido, a Venezuela teve trinta e uma toneladas de ouro roubadas pelo Banco da Inglaterra, o banco central britânico. A desculpa usada pelos ingleses para roubar US$1 bilhão em ouro da Venezuela foi a de que só entregariam o ouro para Juan Guaidó, o antigo boneco de ventríloquo do imperialismo.
Freitas tenta ainda conferir um verniz esquerdista aos seus ataques contra Maduro. “Nicolás Maduro não é de esquerda, como em geral o veem. É de direita como todo ditador.” É um chamado para que a esquerda em geral preste seu apoio à iniciativa de derrubar Maduro. Freitas se apoio no bom e velho parâmetro da luta entre “ditadura” e “democracia”, um parâmetro falso, que conduz aos piores resultados em política, na medida em que oculta o fundamento real da luta, isto é, a luta de classes.
O governo Maduro é um governo de tipo nacionalista burguês. Ele expressa, na sua essência, a existência da burguesia local de um país atrasado, dominado pelo imperialismo.
Os marxistas sempre ensinaram, a partir da análise científica da luta política ao longo da história, que as burguesias nacionais dos países de capitalismo atrasado compõem uma classe semi-explorada e semi-exploradora, inserida como está entre, de uma lado, a burguesia imperialista mundial e, de outro, a classe operária. Um governo que expressa, em larga medida, os interesses da burguesia nacional num país atrasado, como no caso da Venezuela, é um governo que apresenta, em determinadas situações, consideráveis contradições com o imperialismo.
O governo Maduro é um representante desse fenômeno e qualificá-lo como “de direita” não tem outro intenção que não desmoralizar o regime bolivariano perante as massas populares e suas organizações, no esforço de paralisar as suas bases reais de apoio.
Janio de Freitas defende que o governo Lula não envie um representante para a posse de Maduro e mantenha firme na posição pró-imperialista de não reconhecer a sua vitória presidencial. Freitas considera que, ao adotar tal posição, o governo estaria capitulando.
Ocorre que, verdadeiramente, a única capitulação real do governo Lula foi a exigência das atas eleitorais e o não reconhecimento dos resultados legitimados pelas instituições de um país soberano. O governo Lula capitulou ante o imperialismo naquele momento. Enviar um representante para a posse de Maduro é uma primeira iniciativa, ainda que modesta e insuficiente, para corrigir essa posição vergonhosa.