Cultura

Calúnias contra o Modernismo, como na Semana de 22

A difamação contra o Modernismo serve a um único propósito: destruir a identidade nacional para dividir o País

Na última quinta feira, dia 3 de abril, vimos uma lamentável demonstração do que deveríamos chamar de intelectualidade brasileira da atualidade. O jornalista Ruy Castro, em sua coluna da Folha de São Paulo, nos deu uma demonstração lamentável de sua identidade como inseto político, atacando o movimento que moldou toda a cultura brasileira posterior, e colocou o Brasil entre as vanguardas mundiais da cultura, a Semana de 22, e ele faz isso através de ataques rasteiros e pessoais, típicos da época de identitarismo e cancelamento, contra uma das figuras mais importantes de 22, Oswald de Andrade.

Oswald de Andrade foi uma figura revolucionária na cultura do Brasil. Ele mudou a maneira de pensar sobre arte, literatura e identidade nacional, rompendo com os padrões estéticos tradicionais brasileiros da época. Na Semana de Arte Moderna de 1922, participou ativamente e também foi fundamental na divulgação, articulação e na adesão de outros artistas como Mário de Andrade e Anita Malfatti à exposição. Seu trabalho é marcado pelo uso de linguagem coloquial, ironia e crítica à tradição literária brasileira, rompendo com a tradição nacional da época. Em 1928, escreveu o “Manifesto Antropofágico”, talvez sua contribuição mais emblemática, que propunha a ideia de “devorar” culturalmente o que vinha de fora para criar algo novo, genuinamente nacional.

Todas essas contribuições, e muitas outras, colocam Oswald no pódio dos grandes imortais da cultura nacional brasileira. Oswald de Andrade não é apenas um mero artista na história do País, é um patrimônio da cultura nacional com sua obra que buscava uma identidade artística brasileira através do modernismo. Sendo assim, os ataques promovidos por Ruy Castro, contribuem para a continuidade de uma campanha sórdida não apenas contra a cultura nacional, mas contra o próprio País.

O texto de Castro vem motivado por uma nova biografia de Oswald, chamada de “O Mau Selvagem”, escrita por Lira Neto, que veio com o mesmo propósito: uma tentativa de difamar e assassinar a reputação de Oswald por meio de calúnias, críticas pessoais e difamações mesquinhas. Esse tipo de ação tem se tornado cada vez mais comum nos últimos anos, e acontece com os mais diversos personagens da cultura nacional, um exemplo recente que vale ressaltar é o de Ailton Krenak, que no ano passado, aceitou “organizar” a exibição da peça o Guarani, de Carlos Gomes, somente para mutilar essa que é provavelmente a maior obra da ópera nacional de um dos maiores compositores de todos os tempos. Krenak além de cortar trechos e “adaptar” partes da peça à cartilha identitária, após ser escorraçado pela crítica após a segunda exibição desse crime contra a cultura nacional que este ousou chamar de “O Guarani”, desprezou a obra que vandalizou a chamando de “papo furado”.

Voltando à coluna de Ruy Castro, este procura contribuir para o assassinato de reputação de Oswald de Andrade através de “revelações” sobre sua vida pessoal, querendo retratar o autor como um farsante, rejeitado pelo meio cultural brasileiro, que supostamente só teria o reconhecimento que lhe é dado hoje pois: “Em 1964, exumado pelos concretistas, Oswald foi entronizado como um gênio rebelde e incompreendido”.

Castro procura manchar a imagem de Oswald com as afirmações “historicamente precisas” apresentadas pela biografia de Lira neto, dizendo coisas como:

Oswald de Andrade fez do mundo um circo, com ele no centro do picadeiro. No começo, foi um sucesso. Mas o mundo passou de ano e cansou-se de assistir ao mesmo show —frases de efeito, trocadilhos, insultos, brigas, reconciliações oportunistas e mais brigas. Nos dez anos anteriores à sua morte e nos primeiros dez que se seguiram, ninguém lhe deu bola.

Proferindo mais difamações, Castro continua:

Desde sua ressurreição, Oswald só conheceu o trono. Dezenas de livros celebram suas lendas, em maioria disseminadas por ele próprio 30 anos depois dos fatos e adotadas sem verificação.

Para Castro, a genialidade de Oswald não é mérito do movimento cultural mundialmente reconhecido criado por este, que moldou toda a cultura posterior do Brasil até os dias de hoje. Para ele, todo esse reconhecimento não teria mérito, mas sim seria fruto de estórias fabricadas por Oswald, estórias essas que conseguiram enganar o mundo, mas não o gênio rebelde e incompreendido chamado Ruy Castro.

A campanha com que Castro contribui, inocentemente ou não, tem uma origem muito clara: ela vem diretamente do imperialismo. A destruição da cultura nacional é um primeiro passo para a destruição do País, que interessa aos poderosos. Essa campanha expõe que as ambições do imperialismo vão além da simples espoliação econômica do Brasil. É necessário acabar com o País por completo, e para isso é preciso atacar diretamente a cultura nacional, invalidá-la, fazer tábula rasa da história brasileira e de tudo que unifica o Brasil em uma nação, para que os tubarões do capital possam mais facilmente dividir e explorar o povo brasileiro e as riquezas nacionais.

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