Passados apenas quatro meses desde que as direções sindicais dos bancários fecharam um acordo com os banqueiros em relação à campanha salarial da categoria, cuja data-base é no mês de setembro, e alegavam que o acordo era uma “vitória” dos trabalhadores bancários, agora essas mesmas direções, que cantaram essa vitória, choram no colo dos banqueiros solicitando o pagamento antecipado da Participação nos Lucros e Resultados (PLR).
O que chama a atenção, em relação à solicitação da antecipação da PLR para os bancários, é que as direções sindicais defenderam a proposta dos banqueiros, na Campanha Salarial 2024/2026, de arrocho salarial (INPC + 0,9% de “ganho real” em 2024 e INPC + 0,6% de “ganho real” em 2025) por mais dois anos e diziam que as propostas dos banqueiros traziam uma série de conquistas para os trabalhadores.
Agora, contraditoriamente, alegam as dificuldades financeiras dos bancários, com a justificativa de que “nos meses de janeiro e fevereiro concentram-se as maiores despesas por parte dos trabalhadores, em razão da cobrança de IPTU, IPVA, matrícula e material escolar, entre outras, razão pela qual se justifica a solicitação para que o banco faça o pagamento em data antecipada”. (Site Contraf 06/02/2024)
A tal solicitação de antecipação da PLR mostra, mais uma vez, a farsa da campanha salarial, cuja política das direções é de reivindicar e aceitar um reajuste miserável e de abandono das verdadeiras perdas salariais (que passam de 30%), na defesa de um Plano de Cargos e Salários e de um salário de ingresso que atenda às necessidades dos trabalhadores bancários. O piso da categoria (escriturário) passou de R$ 2.912,64 para fabulosos R$ 3.197,22, sendo que estudos realizados pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) informam que, para uma família trabalhadora, composta por dois adultos e duas crianças, ter as suas necessidades básicas garantidas pela Constituição Brasileira, o salário mínimo necessário deve ser de R$ 7.200.
E, aí, para encobrir a farsa da campanha salarial, a burocracia sindical utiliza a PLR como meio de iludir os trabalhadores. Um instrumento político dos patrões que tem como natureza evitar o aumento real dos salários. A PLR é uma espécie de abono, que não incide na folha de pagamento, não é incorporada aos salários, nem aos seus benefícios e direitos (FGTS, férias, décimo terceiro, etc.).
Logicamente, valores adicionais para os trabalhadores são sempre bem-vindos, mas esse artifício não pode ser um instrumento que venha prejudicar os salários dos trabalhadores na hora da campanha salarial da categoria, salários esses que vêm sistematicamente se deteriorando devido a essa política de capitulação da burocracia sindical para com os patrões.