O recente colapso do fornecimento de energia elétrica em São Paulo expôs, uma vez mais, os podres da privatização e da política neoliberal que jogou nas mãos do capital estrangeiro um serviço essencial à vida da população. O apagão que tem deixado milhões sem luz, durante dias, revela que o lucro dos grandes monopólios vale mais do que a dignidade do povo trabalhador.
No centro dessa crise está a Enel, uma empresa italiana que age como um verdadeiro parasita instalado sobre a maior cidade do país. Em plena catástrofe, enquanto a concessionária alardeava estar com 1.600 equipes nas ruas, as câmeras do sistema Smart Sampa, da prefeitura de São Paulo, flagraram apenas dez veículos da empresa circulando. Dez equipes para atender uma cidade de mais de 12 milhões de habitantes. Um deboche. E a resposta da Enel? A velha cantilena de que está tudo dentro das normas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mais uma entidade cúmplice do saque privatista.
A crise atingiu tal proporção que até o Ministério Público e a Defensoria Pública foram obrigados a se mover, entrando com uma ação civil pública contra a Enel, exigindo uma multa de R$200 mil por hora até que a energia seja restabelecida. É o reconhecimento oficial de que a população está sendo tratada com desprezo, submetida a condições de vida humilhantes por uma empresa privada que deveria, no mínimo, garantir um serviço básico.
A indignação popular obrigou até mesmo setores da direita, comprometidos com uma política de destruição dos serviços públicos, a se mover. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) — ex-ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro (PL) e defensor das privatizações — veio a público pedir intervenção federal na Enel, apontando que a empresa é incapaz de garantir o fornecimento mínimo de energia. Em ato de puro cinismo, tenta agora posar de defensor da população. Mas sua verdadeira intenção é clara: jogar a responsabilidade no colo do governo Lula e tirar proveito político da situação.
É nesse jogo que a burguesia entra com sua jogada: apresentar a conta para Lula pagar. Mesmo diante de tamanha destruição causada pela privatização, o governo federal, por meio do Ministério de Minas e Energia, insiste na renovação antecipada do contrato da Enel, que ainda vale até 2028. O caso escancara a fragilidade do governo Lula, que se encontra completamente emparedado, a ponto de nomear um inimigo para a presidência do Banco Central e declarar “neutralidade” diante da ameaça de invasão iminente da Venezuela.
O deboche da burguesia com o governo Lula é um atestado do fracasso da política pseudo-equilibrista do governo. Quanto mais se compromete com a política neoliberal, mais o governo Lula se desmoraliza diante das massas e de seus próprios adversários.
É preciso levar adiante uma política oposta. A única saída verdadeira é a reestatização do setor elétrico, sob controle dos trabalhadores e da população, sem indenização aos capitalistas.





