A acusação formal de Jair Bolsonaro (PL), feita pela Procuradoria-geral da República junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), foi celebrada pelos setores governistas como se fosse uma grande vitória deles. O argumento é o seguinte: se Bolsonaro foi o adversário que venceu o Partido dos Trabalhadores (PT) em 2018, então a sua eventual inelegibilidade significaria uma via aberta para a vitória eleitoral em 2026.
Esse raciocínio infantil parte da ideia de que as instituições do Estado não têm um caráter de classe. É como se o STF, que foi uma peça central no golpe de 2016, fosse uma corte puramente técnica, e não uma arma do imperialismo para impor a sua política no regime de conjunto.
O STF, a Polícia Federal, a PGR e a rede Globo estão levando adiante a perseguição política contra Bolsonaro, baseada em um atropelo grotesco de seus direitos democráticos, porque têm um plano. Restam, então, duas hipóteses: ou o plano da burguesia seria tornar Bolsonaro inelegível para que Lula seja reeleito ou seria fazê-lo para que outro candidato, que não fosse nem Lula, nem Bolsonaro, fosse eleito.
Não há por que acreditar que a burguesia esteja disposta a realizar toda uma conspiração para apoiar o PT. Conforme a situação internacional mostra, a política do imperialismo para a América Latina é de devastação econômica total, como visto no caso do argentino Javier Milei. O “choque” neoliberal que está sendo realizado na Argentina não pode, no entanto, ser realizado por Lula, pois isso levaria a uma crise insuportável junto a sua base.
A prova disso está na própria imprensa burguesa. Os grandes monopólios de comunicação, que sempre apoiaram a perseguição a Bolsonaro, já estão falando abertamente o que querem.
Quem queimou a largada foi a revista Veja, estampando o “Plano T”, com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) na capa. Agora, a mesma ideia toma conta dos editoriais de O Estado de S. Paulo.
Na publicação mais recente, o jornal da Família Mesquita analisa a crise em torno da disputa pela direção do PT e coloca claramente a sua política: seria preciso evitar que chegasse ao cargo alguém que estimulasse a polarização política. Isto é, seria necessário que o PT tivesse um presidente disposto a apoiar uma candidatura da “terceira via”.
Um artigo de opinião da mesma edição, assinado por Roberto Freire, Eduardo Jorge, Gilberto Natalini e Augusto de Franco, estampa em seu título: A hora do centro democrático é agora.
É essa a política da burguesia.