A euforia demonstrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diante da prisão de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), e de generais envolvidos na chamada “trama golpista” é vista nos corredores do Palácio do Planalto como a certeza de uma vitória eleitoral facilitada em 2026. Ao classificar o evento como uma “lição de democracia para o mundo” e enaltecer o Supremo Tribunal Federal (STF), Lula parece crer que o aniquilamento político de seu rival garante um caminho suave para a reeleição.
Contudo, por trás da prisão de Bolsonaro, esconde-se uma armadilha política de alto risco. O que Lula comemora não é o desfecho de um processo movido por seus aliados diretos, mas sim a conclusão de uma operação que, na verdade, está sendo conduzida por um setor hostil ao petismo e que tem um plano bem definido para 2026: a ascensão de uma alternativa de direita unificada e com perfil neoliberal.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é o nome que melhor encapsula essa nova articulação. Ao mesmo tempo em que presta vassalagem à liderança de Bolsonaro – respeitando seu capital político para “pacificar as arestas” –, Tarcísio projeta um candidato com discurso furiosamente neoliberal. Após a prisão do ex-presidente, Tarcísio afirmou que o campo da direita tem até março para se organizar e que seu projeto será “vencedor ano que vem”, com a missão de “livrar o Brasil do PT”.
A prisão de Bolsonaro, em vez de eliminar o risco à esquerda, está, ironicamente, eliminando as contradições que impediam a união da burguesia e de setores empresariais em torno de um nome único de direita.
Jair Bolsonaro é o maior cabo eleitoral da direita, mas, ao mesmo tempo, a direita tradicional e o grande capital viam nele um risco para seus planos. Ao dar legitimidade e endossar a operação que culmina na prisão de Bolsonaro e na desorganização de seu núcleo duro, Lula está, inadvertidamente, pavimentando o terreno para a unificação da direita em torno de um nome “palatável”.
A verdadeira ameaça a Lula não é o bolsonarismo desorganizado, mas sim a direita disciplinada. O presidente Lula, ao festejar a proscrição de Bolsonaro pelos golpistas de 2016, está brincando com fogo. Ele corre o risco de dar legitimidade a uma manobra que, no final das contas, pode ter como resultado um golpe de Estado.





