América Latina

Brasil vai pedir as atas do Equador?

São vários os indícios de fraude eleitoral nas eleições do Equador que levam novamente a cadeira de presidente do país um agente do imperialismo

Vários meios de comunicação noticiaram nesta segunda-feira (14) a vitória do candidato à presidência do Equador, Daniel Noboa, da Ação Nacional Democrática, sobre a candidata da Revolução Cidadã, Luisa González. Quase 13,7 milhões de habitantes foram convocados às urnas entre 7h e 17h (9h e 19h em Brasília) neste domingo (13). No total, 83,7% dos cidadãos habilitados para votar compareceram às urnas, segundo o relatório definitivo do Conselho Nacional Eleitoral.

Noboa e González terminaram o primeiro turno praticamente empatados, com uma diferença de 0,17% a favor da candidata de esquerda. Agora, neste segundo turno, analistas e pesquisas apontavam uma disputa voto a voto. Nas pesquisas de intenção de voto, ambos estavam empatados. A empresa Comunicaliza deu a Noboa 50,3% dos votos válidos e a González 49,7%, enquanto a Telcodata apontava uma vitória da candidata de esquerda com 50,2% contra 49,8% do atual presidente.

A vitória que está sendo concedida a Noboa, em relação aos números, está muito aquém do que mostravam as pesquisas. Daniel Noboa ficou em primeiro lugar no primeiro turno das eleições com apenas 0,2 ponto percentual de vantagem sobre sua principal adversária. Uma margem de apenas 19.747 votos separou os dois candidatos. Noboa obteve 44,17% dos votos válidos (4.527.255), contra 43,97% (4.507.508) de González, de acordo com a contagem do CNE. Com 5,25% do total de votos (538.435), o líder indígena Leonidas Iza ficou em terceiro lugar nas eleições de 9 de fevereiro.

A candidata Luisa González afirmou, ao final do domingo, que não reconhece o resultado do segundo turno das eleições presidenciais no Equador. González questionou o resultado e apontou uma “fraude grotesca” na apuração. “Denuncio ao povo equatoriano e ao mundo a fraude eleitoral mais escandalosa da nossa história”, declarou em discurso. A candidata do Movimento Revolução Cidadã afirmou que pedirá a recontagem dos votos e reabertura das urnas.

Às vésperas da eleição, no sábado (12), Noboa decretou estado de exceção em Quito e outras sete províncias. Entre as medidas previstas no Decreto Executivo nº 599 estão a suspensão do direito à inviolabilidade do lar nas províncias de Guayas, Los Ríos, Manabí, Orellana, Santa Elena, El Oro e Sucumbíos; no Distrito Metropolitano de Quito e na cidade de Camilo Ponce Enríquez. Nos mesmos locais, também está suspenso o direito à inviolabilidade da correspondência.

O ex-presidente do Equador, Rafael Correa, denunciou nesta segunda-feira (14), por meio da rede social X, uma “megafraude” no segundo turno das eleições presidenciais do país, após a divulgação de resultados que, segundo ele, indicam uma manipulação grosseira dos votos. Correa se dirigiu diretamente ao povo equatoriano com duras críticas ao processo eleitoral.

“Povo equatoriano: vocês sabem que, diferentemente dos nossos adversários, sempre aceitamos a vitória do oponente quando ela é justa. Desta vez NÃO é”, escreveu Correa. “Estatisticamente, o resultado é IMPOSSÍVEL. Luisa teria praticamente o mesmo número de votos do primeiro turno. Eles cometeram uma megafraude, mas cometeram um erro: foram longe demais.”

É importante ressaltar que Correa, que governou o país entre 2007 e 2017, mantém forte influência política e segue sendo uma das figuras mais populares do país. Com um governo nacionalista e popular, Correa apoiou a eleição de Lenín Moreno. A traição de Moreno ao correísmo foi um verdadeiro golpe de Estado, levando o país nacionalista para o mais puro regime neoliberal. Após essa transição, o Equador tem passado por diversas crises políticas.

O estado de exceção decretado por Noboa na véspera da votação também foi alvo de questionamento por parte da Secretaria Executiva da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA-TCP), que denunciou “ações irregulares”. “A Secretaria Executiva da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América condena categoricamente essas ações irregulares que apontam para a realização de uma fraude eleitoral premeditada”, diz o texto.

A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) Social emitiu um comunicado internacional para expressar seu apoio à candidata do movimento Revolução Cidadã. “Em nossa qualidade de participantes e observadores do processo eleitoral no Equador, levantamos nossa voz para denunciar energicamente o grave atentado contra a vontade popular cometido durante as recentes eleições presidenciais”, expressou a entidade na nota.

“Os sinais de fraude são múltiplos e alarmantes: alterações de última hora nos locais de votação, uso arbitrário de recursos estatais para fins clientelistas, exclusão deliberada de observadores internacionais e a inaceitável suspensão do voto de milhares de equatorianos no exterior”, enfatiza o comunicado.

O deputado federal João Daniel (PT-SE), direto de Quito, denunciou nesta segunda-feira (14), ao Conexão BdF, uma série de irregularidades e medidas autoritárias que podem comprometer o resultado das eleições. Segundo Daniel, há dezenas de lideranças políticas da esquerda equatoriana exiladas e proibidas de retornar ao país. “O Equador viveu uma história parecida com a do Brasil, mas aqui é como se a Lava Jato tivesse vencido, sem nunca ter sido desmascarada pela Vaza Jato. O Judiciário aqui segue aliado a setores reacionários e ao governo conservador.”

Em nota divulgada nesta segunda-feira, a Internacional Antifascista denunciou “fraude de origem e manobras autoritárias e fascistas” nas eleições equatorianas. “Denunciamos que Noboa e seus operadores prepararam essa fraude com meses de antecedência, utilizando recursos do Estado, cooptando instituições e coordenando-se com mercenários estrangeiros para semear o caos e justificar uma escalada autoritária. Este não é um governo legítimo, mas uma ocupação encoberta a serviço das elites corruptas e poderes estrangeiros.”

A Revolução Cidadã listou uma série de irregularidades que, segundo eles, evidenciam fraudes:

– Redução seletiva de votos: milhares de votos a favor de González foram supostamente perdidos injustificadamente durante a contagem, enquanto Noboa registrou aumentos estatisticamente impossíveis;
– Manipulação de registros: afirmam que “dezenas” de registros oficiais, sem assinaturas ou validade, certificaram exclusivamente resultados favoráveis a Noboa;
– Restrições ilegais: proibição do uso de celulares em seções eleitorais sob ameaça de multas de até US$ 30 mil e impedimento à documentação visual do processo;
– Interrupções técnicas: apagões inesperados e falhas de transmissão eletrônica em locais importantes podem ter causado alterações na contagem;
– Intimidação militar: presença excessiva de tropas que, segundo a RC, dificultou o trabalho de observadores e pesquisadores independentes.

O processo eleitoral no Equador demonstra que, através de meios democráticos, o imperialismo não vence eleições. Noboa é claramente um agente do imperialismo sentado novamente na cadeira de presidente. Portanto, as campanhas em defesa dos tribunais eleitorais e dos supostos sistemas democráticos pelo mundo são ridículas, pois a fraude é a regra, e não a exceção.

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