José Antonio Kast, candidato de extrema direita, fundador do Partido Republicano, foi eleito o novo presidente do Chile neste domingo (14), ao derrotar a candidata do Partido Comunista do Chile, Jeannette Jara, no segundo turno. Com uma vitória avassaladora, que lhe garantiu 58,2% dos votos válidos contra 41,8% de sua adversária, Kast consolida a derrota da insurreição chilena de 2019. A vitória põe fim a um ciclo de quatro anos do governo da frente ampla no Palácio de La Moneda, hoje sob comando de Gabriel Boric.
A jornada eleitoral, marcada pela primeira vez pelo voto obrigatório, mobilizou mais de 7 milhões de chilenos para o lado do candidato de direita. Os dados oficiais, com mais de 99% das urnas apuradas, revelaram uma vitória de Kast em todas as regiões do Chile, atestando o fracasso retumbante do governo Boric. Em contraste, Jeannette Jara conseguiu prevalecer em apenas 32 dos 345 municípios do país.
Kast, um advogado de 59 anos, que já teve quatro mandatos como deputado, fez sua campanha prometendo um “governo de emergência” baseado na restauração do Estado de Direito e no controle rígido da imigração. Ele se beneficiou diretamente da campanha contra o crime organizado, prometendo a deportação de imigrantes irregulares e inspirando-se em políticas de “mão dura” regionais.
Do lado da frente ampla, a derrota é a mais amarga da esquerda pequeno-burguesa desde 1990. O governo de Gabriel Boric chegou ao seu fim com enorme desgaste, após realizar um governo neoliberal e repressivo, traindo a insurreição de 2019 contra o governo de Sebastián Piñera.
A candidata Jeannette Jara reconheceu a derrota em um pronunciamento, afirmando que “a democracia falou forte e claro” e parabenizando Kast pelo triunfo. A transição será iniciada já nesta segunda-feira (15) de dezembro, com o tradicional encontro entre o presidente eleito e o atual mandatário, Gabriel Boric, no Palácio de La Moneda.
A postura da esquerda chilena frente à derrota apenas reforça a ideia de que a frente ampla andina representa uma tendência muito diferente ao nacionalismo de países como Venezuela, Nicarágua e Honduras. Enquanto os governos destes países procuram, apesar de suas limitações, enfrentar a ofensiva golpista do imperialismo sobre a América Latina, Boric e seus aliados saúdam a suposta “democracia” que levou um fascista de volta ao poder.
A vitória de um candidato de extrema direita em um país sacudido por uma insurreição seis anos atrás não pode ser considerada democrática sob nenhum aspecto. A insurreição de 2019 foi um grande levante das massas chilenas contra o regime político, que é a continuidade da ditadura fascista de Augusto Pinochet.
Pinochet foi o chefe de um laboratório macabro da política neoliberal na América Latina. Seu governo foi marcado não apenas pela duríssima repressão, mas por um conjunto de medidas econômicas que devastaram o país. Uma das grandes características dessa política foi a destruição da Previdência pública, que levou inúmeros idosos ao suicídio, tamanho o desespero.
A insurreição chilena foi derrota após uma série de golpes articulados pelo grande capital e apoiados pelas direções pequeno-burguesas da esquerda. A primeira grande capitulação da esquerda chilena foi não defender a derrubada do governo de Sebastián Piñera, contra qual a mobilização se insurgia. Essa capitulação criou as condições para que a burguesia oferecesse um acordo verdadeiramente humilhante: a realização de uma assembleia constituinte com a manutenção do governo Piñera.
Esse acordo, que desmoralizou profundamente o movimento, levou a uma série de derrotas. Durante o processo, a burguesia seduziu a esquerda chilena com a ideia de uma grande frente ampla em conjunto com vários setores direitistas. Dentro da frente ampla, os setores mais próximos da insurreição chilena foram isolados, e o desconhecido Gabriel Boric acabou se tornando o candidato do bloco.
A vitória de Boric nas prévias presidenciais foi uma grande derrota para o movimento popular chileno. Ao vencer as eleições, Boric se recusou a libertar os presos políticos da insurreição de 2019 e levou adiante um governo que, em sua essência, era uma continuação do governo Piñera.
Durante o governo Boric, a correlação de forças se modificou tanto que a esquerda sequer conseguiu acabar com o pinochetismo. A constituinte não representou avanços significativos e ainda ofereceu uma oportunidade para que a extrema direita se reagrupasse, abrindo caminho para a candidatura de Kast.
A vitória de Kast coincide com um momento de grande ofensiva golpista e repressiva do imperialismo sobre a América Latina. A burguesia apoiou o candidato desde o primeiro turmo, optando por um governo de força. No entanto, não há como não destacar o papel extremamente negativo da frente ampla chilena — em especial, do governo Boric — na ascensão da extrema direita.





