Não lhes parece curioso que o sonho do presidente Trump a respeito da reconstrução de Gaza é a criação de uma cidade artificial, sem vida, plastificada, criada para ser um enorme cassino ao ar livre, com suas praias limpas, restaurantes, casas de jogos, (provavelmente) prostituição, shows de música, festas suntuosas, mulheres extravagantes, muita gente branca ao dado de uma multidão de trabalhadores simples de pele escura? A imaginação logo nos leva a enxergá-la como uma grande “Las Vegas Oriental” às margens do mar, com luxo, sofisticação e com algumas pinceladas das extravagâncias de Dubai.
Não acredito que essa fantasia seja uma coincidência, até porque esse é a imagem de progresso que um bilionário americano, e dono de cassinos, como Trump, projeta para Gaza. É assim que o centralismo capitalista enxerga esses lugares exóticos. Assim era Cuba antes de ser liberta pela Revolução: um lugar para os ricos passarem as férias, dançarem, encontrarem mulheres boas e baratas e serem servidos pelos garçons nativos. Percebam que é desta maneira que Hollywood retrata o oriente, dos árabes passando pelo Havaí, a Tailândia e tantos outros lugares onde o Imperialismo controla com seu exército ou sua economia.
Por outro lado, Dubai nos mostra como esse tipo de empreendimento realmente funciona. Ao lado da suntuosidade das torres gigantescas, das praias artificiais, dos restaurantes e da vida noturna existe um exército gigantesco de trabalhadores que habitam a cidade de Sonapur, na periferia da cidade glamourosa. São eles – uma mão de obra quase exclusivamente composta de estrangeiros – que mantém acesas todas as luzes do espetáculo da cidade, mesmo recebendo salários miseráveis e sofrendo a extrema exploração que os expatriados normalmente recebem.
No capitalismo, a ideia nunca se afasta desse padrão: uma multidão semi-escravizada trabalha para que os bem-aventurados possam se divertir, mesmo que isso custe aos trabalhadores sua saúde, a liberdade, o conforto e o contato com a família. Isso sem falar do tráfico de pessoas, uma ferida aberta de direitos humanos que acontece amiúde nesses projetos. As cidades dos bilionários da península arábica possuem milhares de histórias de mulheres abusadas, traficadas, usadas como escravas domésticas e impedidas de retornar aos seus países de origem. Enquanto no submundo ocorrem crimes de toda ordem, o espetáculo não pode parar e a música precisa continuar a tocar indefinidamente.
Trump planeja para Gaza um bordel americano, um lindo jardim às margens do Mediterrâneo, tendo os palestinos como seus empregados, e todo o dinheiro nas mãos de alguns poucos americanos, judeus e árabes dos Emirados vizinhos. Estes vão explorar a população da Palestina até que tudo que lá existe acabe sendo possuído por estes poucos capitalistas. Nesse momento o sonho sionista será concretizado, e os palestinos, por fim, se sentirão estrangeiros em sua própria terra.