Apesar das comemorações da esquerda pequeno-burguesa diante das novas medidas cautelares impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o que está em curso no Brasil é uma ofensiva política e econômica articulada pelo imperialismo, pela burguesia e pelo grande capital nacional, com o objetivo de realizar uma faxina geral nas estruturas sociais do País. Trata-se de um movimento para desmontar os serviços sociais remanescentes e impor uma retomada do programa neoliberal, como já ocorre em países como a Argentina, governada por Javier Milei.
É um imperativo econômico, que tende a ser extremamente destrutivo se for vitorioso. Neste sentido, a figura de Jair Bolsonaro é secundária. O mais importante para a luta de classes no Brasil é a operação política que está sendo montada, cujo objetivo nada tem a ver com “defender democracia”. A classe dominante está criando as condições para que o próximo presidente aplique um plano econômico de terra arrasada.
A atuação de Bolsonaro durante seu governo (2019-2022) foi contraditória, o que explica por que ele não é hoje uma peça central para os planos da burguesia. Embora tenha contado com figuras como Paulo Guedes, que implementaram parte do programa econômico exigido pelo grande capital, seu governo também demonstrou falta de disciplina em relação à política neoliberal. Isso, somado à sua popularidade, explica as tentativas de tirá-lo do cenário político.
O que a burguesia busca hoje é um novo Fernando Henrique Cardoso ou um Javier Milei: alguém capaz de impor com rigor o receituário neoliberal. A extrema direita, nesse quadro, não seria eliminada, como sonha a esquerda pequeno-burguesa, mas controlada. A extrema direita é um recurso da burguesia em uma situação determinada de repressão ao movimento operário em ascenso, o que não acontece neste momento.
Neste momento, o papel que Bolsonaro cumpre na situação política é como o do pano vermelho da tourada. Enquanto todos olham para ele, o toureiro prepara o golpe fatal.
O verdadeiro alvo está em outro lugar.
