Esquerda brasileira

Bolsonaristas de esquerda contra ladrões de bicicleta

Jornalista do Brasil 247 reproduz uma das política mais desumanas do bolsonarismo para defender repressão contra quem rouba celulares

Colunista do portal de esquerda Brasil 247, o jornalista Alex Solnik usou seu espaço para publicar um artigo intitulado Ladrões de bicicleta, defendendo que “o que tira o sono de quem mora em São Paulo, como eu, não é o narcotraficante do PCC nem o pequeno vendedor de droga que atua embaixo de algum viaduto, o que apavora é o ladrão de celular”. Trazendo outras posições que podem ser encontradas também no órgão da extrema direita brasileira Revista Oeste, Solnik adota o melhor tom bolsonarista e diz que “qualquer pessoa, de qualquer idade, de qualquer classe social tem um celular”, acrescentando:

“O grande pavor de pais, como eu, é que esses ladrões de bicicleta ou de moto cruzem o caminho de seus filhos e eles entrem na lista das mais de 270 mil vítimas de roubo de celular em 2024.”

Não faz muito tempo, a esquerda era atacada pela direita justamente devido à compreensão de que a delinquência, tal como outros fenômenos sociais, eram oriundos da violenta ditadura da classe dominante. A violência do meio social não brota ao acaso, é uma consequência da barbárie com a qual a classe trabalhadora é esmagada pela burguesia e o imperialismo.

Entendendo-se o fenômeno social, torna-se evidente que a raiz do problema é a pobreza, e não um fenômeno alheio à vida social material.

Não é à toa, por exemplo, que, nos países ricos, onde o padrão de vida da classe trabalhadora é melhor do que em países atrasados, os indicadores de violência sejam melhores. É bem verdade que a crise do imperialismo esteja mudando essa situação, porém isso só confirma a regra.

A direita, por outro lado, sempre se empenhou em mascarar a questão da violência como um problema individual, quase genético, uma tara criminosa inata dos setores mais oprimidos da sociedade. O que dizer então de um colunista que se pretende de esquerda adotando o mesmo posicionamento?

A exemplo dos bolsonaristas, Solnik assume como verdadeiro problema da sociedade brasileira não a miséria imposta pela classe dominante, nem a degradação das condições de vida do povo, mas sim o perigo representado pelos pobres que, esmagados por um sistema econômico criminoso, encontram na contravenção uma forma de sobrevivência. Ao escamotear os fatores sociais responsáveis por produzir o crime, Solnik desloca a culpa do sistema econômico para o indivíduo, defendendo a política repressiva que massacra a população pobre. Finalmente, ao fazer isso, defende um dos aspectos mais criminosos da política bolsonarista, que é o absoluto desprezo pelo “bandido”, isto é, os setores mais pobres da classe trabalhadora.

Não por acaso, sua solução para o problema não envolve qualquer mudança na situação econômica da população, mas a simples ampliação da repressão policial. Seu pedido por brigadas de policiamento ostensivo, visíveis e permanentes, é o mesmo que qualquer vereador bolsonarista propõe em São Paulo. Ao fim, o jornalista defende:

“Em vez de mais camburões e mais PMS armados até os dentes, em vez de chacinas e balas perdidas, precisamos de brigadas de policiais de bicicleta e de moto policiando as avenidas mais movimentadas, aquelas onde transitam pessoas de todos os bairros, todas as classes sociais.”

O artigo de Solnik expressa uma tendência cada vez mais evidente em uma ala da esquerda pequeno-burguesa: a defesa da política da extrema direita no âmbito da “segurança pública”. Se no governo Bolsonaro o grande mote era a necessidade de carta-branca para chacinas promovidas pela polícia e “matar 30 mil”, setores dessa esquerda “civilizada” tentam apresentar uma versão higienizada da repressão, defendendo a posição de que mais policiamento e “presença ostensiva” resolverão o problema da violência urbana. Como se fosse possível reprimir a miséria sem exterminar os miseráveis.

Fato é que, mesmo com o aumento exponencial do efetivo policial e o genocídio da população pobre, os índices de criminalidade seguem elevados. Isso porque a violência não se resolve com mais barbárie estatal, mas com a transformação radical das condições de vida da classe trabalhadora.

O crime não é uma questão moral ou metafísica, mas sim econômica e social. Reduzir a violência exige redistribuição de renda, acesso à educação, emprego digno e moradia, coisas que os reformistas como Solnik nunca estarão dispostos a defender de fato.

A conclusão inevitável desse debate é que o colunista de Brasil 247 está na esquerda por acidente. Seu pensamento é indistinguível do bolsonarismo na questão da segurança pública.

Se amanhã um candidato “linha dura” da direita defender suas mesmas propostas, ele não terá argumento para se opor. Sua posição política, porém, é um reflexo do direitismo crescente da esquerda pequeno-burguesa, que teme mais a violência dos oprimidos do que a violência do sistema capitalista contra os povos oprimidos.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.