Nesse sábado (2), o portal Brasil 247 publicou o artigo Brasil de cabeça erguida, assinado pelo deputado federal Elvino Bohn Gass (PT/RS), vice-líder do governo Lula no Congresso Nacional. O texto é uma tentativa de defender a política do governo do qual faz parte diante da crise causada pelas medidas impostas por Donald Trump ao Brasil e ao ministro-ditador Alexandre de Moraes.
Gass começa o texto assim:
“Donald Trump atacou o Brasil. Não com tanques, mas com tarifaços e chantagens. Mais grave: contou com a cumplicidade de brasileiros – ou melhor, de traidores da pátria.”
Até aí, à exceção do tom dramático, poderíamos concordar com o autor. Impor tarifas de importação não é um “ataque”, é uma política econômica normal, vigente em todos os países do mundo. No entanto, impor tarifas com o interesse explícito de pressionar as instituições brasileiras a mudar de política é, sim, um ataque à soberania nacional e uma forma de chantagem. Da mesma forma, o brasileiro que defende a atitude de Trump está traindo a nação.
O problema do artigo, no entanto, está nas conclusões estapafúrdias do deputado.
“A reação foi à altura. O presidente Lula foi claro: ‘soberania aparece em primeiro lugar em nossa Constituição’. O STF enquadrou os bolsonaristas, e até líderes do Centrão entenderam: com os EUA pressionando o Judiciário brasileiro, qualquer chance de anistia no Congresso está morrendo.”
Dizer que “soberania aparece em primeiro lugar em nossa Constituição” não significa absolutamente nada. A questão é: se a ação de Trump é uma ingerência — e de fato é —, haveria algum motivo para negociar com ele? Óbvio que não. Se Trump já deixou claro que o seu objetivo é modificar a condução do processo judicial contra Jair Bolsonaro (PL), qualquer negociação implicaria em ceder a esse tipo de chantagem.
O deputado aplaude a reação do presidente porque é conveniente para a sua própria política. Nem Lula, nem o autor do artigo protestaram contra os ataques recentes à soberania nacional. Não denunciaram a infiltração do Mossad na Polícia Federal e no Judiciário brasileiro, nem denunciaram a patifaria dos senadores do Partido dos Trabalhadores (PT) no Senado Federal ao votar o dia da amizade Brasil-“Israel”. Também ficaram em silêncio quando o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, admitiu que o governo norte-americano teria atuado nas eleições presidenciais brasileiras de 2022.
Quanto ao STF, também somos obrigados a informar ao deputado que sua visão da Corte não corresponde à realidade. Alexandre de Moraes ameaçou de prender Jair Bolsonaro (PL) após um evento na Câmara dos Deputados; no entanto, recuou após a pressão da grande imprensa sobre o ministro. Mais recentemente, metade do STF se recusou a assinar um manifesto em apoio a Moraes, demonstrando o medo dos juízes de serem sancionados por Trump.
Mais à frente, o autor afirma que:
“Enquanto a extrema direita se comporta como capacho de interesses estrangeiros, o governo Lula defende o povo brasileiro. Haddad protege a economia com responsabilidade fiscal e investimento social. Alckmin, com diplomacia, garantiu exceções às tarifas de Trump. Tebet e Amorim constroem alianças fortes nos BRICS. E os frutos estão aí: o Brasil voltou a ter pleno emprego — 5,8% de desemprego, a menor taxa desde 2012 — e Lula recupera apoio popular, ultrapassando os 50% de aprovação.”
Aqui fica claro por que o deputado celebra tanto a postura do governo e do Judiciário — que ensaiam uma capitulação vergonhosa. O deputado beneficiário da política de “frente ampla”, política com a qual os deputados do PT não querem romper por medo de perderem seus acordos com a direita nacional.
A política de Fernando Haddad é tão vergonhosa quanto a capitulação perante o governo norte-americano. O ministro da Fazenda está promovendo um conjunto de cortes sociais, com o único objetivo de poupar dinheiro para abastecer os cofres dos grandes bancos. Ao mesmo tempo, a política externa do governo, que favoreceu a tentativa de golpe na Venezuela em 2024, fez com que a última reunião do BRICS, sediada no Brasil, fosse a mais desprestigiada dos últimos anos.
É preciso, sim, seguir de cabeça erguida, como diz o artigo. No entanto, o que o autor propõe é o exato oposto. É baixar a cabeça para os inimigos do povo brasileiro em troca, supostamente, de uma vantagem eleitoral.




