O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, em meio à gigantesca crise gerada pelo seu apoio ao Estado de “Israel”, está seguindo planos definidos pelas monarquias árabes. Foram anunciadas reformas políticas e administrativas na estrutura da AP durante uma reunião no Egito, incluindo uma anistia geral para todos os expulsos do Fatah, partido de Abbas. Isso pode ser o início de uma transição política, já que Abbas governa sem eleições desde 2005.
A anistia inclui membros do Comitê Central, como Mohammed Dahlan e Nasser al-Qudua. Além disso, Abbas propôs novos cargos na liderança da Autoridade Palestina, como “Vice-presidente do Estado da Palestina” e “Vice-presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP)”.
Após anos rejeitando qualquer reconciliação interna dentro do Fatah, Abbas foi forçado a mudar de política. Essa reviravolta anula os argumentos que ele usava para justificar sua posição anterior, incluindo a independência da decisão palestina e a autonomia das resoluções do partido. É uma tentativa de salvar a Autoridade Palestina em seu momento de maior crise, após a vitória política gigantesca do Hamas em Gaza.
Durante a cúpula no Egito, Abbas enfatizou a necessidade de reestruturar as lideranças estatais, renovar a OLP, o Fatah e outras instituições, e convocar o Conselho Central Palestino em breve. Além disso, Abbas afirmou estar pronto para realizar eleições gerais — presidenciais e legislativas — na Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental no próximo ano, caso as condições adequadas sejam atendidas. Caso essas eleições aconteçam, a vitória do Hamas seria quase garantida.
Ao tomar essa decisão, Abbas superou sua hesitação e sua recusa em atender às exigências de reforma, incluindo a reconciliação com figuras que o desafiaram pessoalmente, como Mohammed Dahlan e Nasser al-Qudua. Ambos foram figuras-chave no sistema político e de segurança da Autoridade Palestina antes de sua expulsão.
Outro passo significativo foi a decisão de nomear um vice-presidente, algo que Abbas sempre considerou uma ameaça ao seu poder, pois poderia ser um primeiro passo para reduzir sua autoridade e eventualmente substituí-lo.
Os regimes reacionários e a AP
A Autoridade Palestina foi criada em 1993 como um pseudo-Estado da Palestina, equivalente aos regimes reacionários do mundo árabe: as monarquias do Golfo, a ditadura militar do Egito e a Jordânia. Ela atua como uma polícia de “Israel” para esmagar a resistência e tem fortes relações políticas com esses países, que na prática possuem a mesma política de força auxiliar do sionismo, em maior ou menor escala.
Sendo assim, parece que esses países agora tentam reformar a AP para tentar salvá-la do colapso total. É preciso destacar que a AP, a partir de dezembro de 2024, começou a realizar operações militares em conjunto com “Israel” contra os palestinos. É uma desmoralização gigantesca, e tudo aponta para o colapso da AP e a ascensão de um governo da resistência.
Esses países árabes, assim como Abbas, reconhecem que a expulsão de dezenas de membros do Fatah ligados a Dahlan — que tem fortes laços com os Emirados Árabes Unidos e boas relações com o Egito — criou uma base de apoio para ele dentro da Faixa de Gaza. Como resultado, o Fatah ficou dividido, algo que poderia se tornar ainda mais evidente caso a Autoridade Palestina retorne ao território, agora governado totalmente pelo Hamas. Para evitar isso, é necessário reintegrar os apoiadores de Dahlan ao movimento.
As decisões de Abbas estão alinhadas com o plano egípcio para Gaza, cujo objetivo — que parece ser impossível — é remover o poder político do Hamas e preparar a AP para assumir o controle do território, sob supervisão árabe e internacional durante o processo de reconstrução. Para que esse plano funcione, é essencial que o Fatah esteja unido e tenha uma base de apoio coesa. Diante de um plano tão improvável, surgem muitas questões, principalmente: quem será o sucessor de Abbas?
Uma possibilidade é que Abbas escolha uma figura leal a ele, preparando-a para assumir a presidência, como Hussein al-Xeique. Outra opção seria manter Rauhi Fattouh no cargo, reafirmando o decreto presidencial anterior, que determinava que Fattouh assumiria temporariamente a presidência por 90 dias em caso de vacância do cargo — período no qual novas eleições seriam realizadas, com a possibilidade de uma única extensão desse prazo, caso necessário.
Outra alternativa seria a nomeação de duas figuras separadas para os cargos de vice-presidente da Palestina e vice-presidente da OLP, com uma delas vinda da Faixa de Gaza. Apesar de Hussein al-Xeique ser um dos favoritos e ter proximidade com Abbas, sua nomeação não é garantida.
Outra possibilidade é que os líderes da Autoridade Palestina tenham chegado à conclusão de que seu poder está próximo da extinção, ameaçado tanto pela força da resistência quanto pelas políticas da extrema-direita de “Israel” para desmantelar a AP. Por essa razão, Abbas pode estar já preparando o fortalecimento da OLP para um momento em que a AP for extinta.