A polarização política no mundo se acirra na mesma medida em que a luta de classes se acirra. No Brasil, a manifestação eleitoral desse acirramento é a dualidade Lula x Bolsonaro. No entanto, a polarização é um fenômeno econômico, fundamentalmente da luta da classe operária contra a burguesia e o imperialismo, e não um fenômeno eleitoral, como crê a maior parte da esquerda.
Em coluna publicada no sábado (8) no Brasil 247, Emir Sader revela uma confusão que paira sobre as cabeças de uma grande parcela dos dirigentes do PT. De acordo com a tese dele, a luta ocorre apenas no terreno eleitoral e o único defeito do governo Lula é não saber comunicar de forma eficiente que Bolsonaro é um demônio, ou algo do tipo.
Para Sader, as pessoas não compreendem o que é a extrema-direita e, por isso, apoiam Bolsonaro. De fato, parte do apoio que Bolsonaro tem da população vem do fato dele ser um político oportunista e demagogo, mas não é só isso.
Está implícita nessa tese que a população brasileira funciona como um gado (como muitos esquerdistas efetivamente a chama), e que o problema da esquerda seria conseguir domar esse gado para seu lado. Sader argumenta que a economia vai bem, que a democracia vai bem, mas o povo não vê.
Nada poderia estar mais distante da verdade. Bolsonaro cresce na falência do regime político de conjunto, o qual o PT se atrela e afunda junto. A população brasileira, com toda razão, passou a desacreditar dos tipos de políticos chamados de tradicionais, mais definidamente representados por elementos do PSDB, como FHC, Serra, etc. Do outro lado, o PT, que aparece como liderança de uma grande massa de trabalhadores, tenta se apresentar da mesma forma, o que o desmoraliza.
Além do mais, há o identitarismo, que é uma política extremamente repressiva e que o cidadão comum despreza, pois não atende de fato aos interesses dos oprimidos, incluindo aí as mulheres, negros, LGBTs, etc, que os identitários supostamente estariam defendendo.
Quando o PT se apresenta dessa forma, a mensagem que passa é a de que ele teria se tornado mais um partido como o PSDB. Porém, o PSDB está completamente falido, portanto, não há vantagem nisso. E o bolsonarismo se aproveita do espaço que se abre, que é o espaço de ser contra esses criminosos, lacaios do imperialismo, como FHC.
Essa é uma parte do problema. Uma parte importante, mas não é tudo. Além de procurar se apresentar para a população da maneira descrita, o governo Lula tem tido uma política que também se aproxima da desses setores.
Sader argumenta que a economia vai bem, mas não é o que o bolso dos trabalhadores sente. Ele também fala do fortalecimento da democracia, mas o que ocorre é a diminuição das liberdades democráticas, simbolizadas pelo aumento da censura na internet, da arbitrariedade judicial e da própria perseguição a Bolsonaro e aos manifestantes do 8 de janeiro.
Portanto, o problema da comunicação do governo não é o fundamental. O problema é político. Enquanto o PT achar que basta conseguir dizer pro povo que está tudo bem e o povo vai aceitar, a situação não vai melhorar. É preciso ter uma política efetivamente popular. Bolsonaro é apenas um demagogo e não defende nenhum interesse da população pobre nem do país. Para derrotá-lo, é necessário revelar a farsa que ele é, contrapondo a isso uma política verdadeiramente nacional, democrática e em defesa das condições de vida dos trabalhadores.
