Julgamento de Bolsonaro

É preciso denunciar a ofensiva do STF contra o Brasil

Seguir a confusão de que ambos são direitistas e que o julgamento não importa, não apenas desarma a esquerda, mas coloca o campo na posição de cúmplice do imperialismo

No artigo Bolsonaro, generais e militares no banco dos réus, acusados de tentativa de golpe de estado, assinado por Danilo Paris e publicado no órgão Esquerda Diário, do Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) é tratado como um evento que expõe a podridão do regime político brasileiro, porém não sai disso, escorregando feio ao tratar ambos os campos como direitistas inimigos dos trabalhadores, sem nenhuma consideração política real. A análise ignora o que realmente importa para um marxista, a batalha social por trás desse confronto. O máximo que o MRT consegue, nesse quesito, é o que está nos parágrafos abaixo:

“No país da impunidade militar, após tantas incursões autoritárias na vida política nacional, muitos vão sentir alívio com Bolsonaro e seu séquito de generais, sargentos e aliados sentados no banco dos réus.

Ao mesmo tempo, nunca se esquecer que o martelo da toga e o fuzil da farda verde oliva são dois pilares de um regime político mais do que apodrecido, é uma questão de primeira ordem para que a extrema-direita seja derrotada pela raiz. Projeto esse sustentado por esse judiciário que garantiu a implementação e manutenção de todas as contrarreformas e aniquilação dos poucos direitos que restavam na constituição de 1988.”

Aqui, o texto sugere que STF e bolsonarismo são males iguais, mas não esclarece o que os diferencia a ponto de desencadear a disputa, como se não houvesse um conflito real e o embate fosse fruto da vontade de indivíduos.

O STF foi um dos principais executores do golpe de 2016, sendo ainda responsável por prender Lula em 2018 e, com isso, abrir caminho para a eleição de Bolsonaro. É também o STF que agora libera privatizações, como a das escolas em São Paulo, entregando o País ao capital estrangeiro. Isso tudo deve ser lembrado para evitar ilusões estranhas e compreender que o STF não ataca Bolsonaro por Justiça, mas pelo menos motivo que fez o julgamento-farsa do Mensalão, deu cobertura à famigerada Operação Lava Jato e vem intervindo no regime político desde então, sem outro propósito além de reforçar a ditadura imperialista no País.

Dizer que ambos sustentam um “regime apodrecido”, como faz o Esquerda Diário é absurdamente insuficiente para a compreensão da realidade. O STF serve ao imperialismo, enquanto Bolsonaro expressa um movimento de massas, que reúne interesses distintos, desde setores capitalistas ligados aos bancos, a setores da classe média empobrecidos. Para os trabalhadores, o resultado desse conflito não é indiferente.

Se o STF vencer, o imperialismo ganha força para atacar ainda mais os operários, camponeses e estudantes. Por essa razão, a esquerda não pode ficar neutra: deve intervir mantendo sua independência da burguesia, mas denunciando e combatendo o STF, com a clareza de que o combate está sendo travado contra os monopólios norte-americanos e europeus.

Por não enxergar essa dinâmica, o Esquerda Diário acaba adotando uma política parecida com a do PT. O partido, sem entender a natureza imperialista do STF, se alia ao regime político achando que isso o protegerá. É uma ilusão perigosa, que só fortalece o inimigo.

A posição da esquerda deve ser outra: combater o STF é combater o imperialismo, a ditadura mundial que oprime os povos. Não se trata de defender o bolsonarismo, mas de expor que o Judiciário é o principal agente do grande capital no Brasil. Só assim a esquerda pode construir uma luta independente, sem conciliação, contra o verdadeiro inimigo dos trabalhadores.

A política do Esquerda Diário, ao rejeitar qualquer diferenciação entre os lados desse embate, conduz a esquerda a uma posição estéril e inócua. A crise no interior da direita é sempre um momento privilegiado para que a classe trabalhadora avance contra seus inimigos.

Se Bolsonaro e seus aliados militares são alvos de ataques do STF, a esquerda deve explorar essa contradição para enfraquecer a burguesia como um todo, e não se colocar como espectadora passiva ou, pior, ajudar indiretamente o imperialismo a consolidar sua posição. A política do MRT, ao tratar os dois polos como equivalentes, impede a esquerda de utilizar essa fraqueza do inimigo a seu favor e, na prática, a empurra para a paralisia.

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