A crise que atingiu o ministro Alexandre de Moraes e o Supremo Tribunal Federal (STF) revelou, mais uma vez, a completa desorientação política da esquerda nacional. Diante de um escândalo gigantesco, que envolve um contrato de 129 milhões de reais entre a esposa de um juiz da suprema corte e um banco acusado de fraudes bilionárias, a reação de uma parcela significativa da esquerda não foi a de exigir investigações ou denunciar a podridão do regime. Pelo contrário: estes setores atuaram como advogados de defesa não remunerados de um funcionário do grande capital.
Segundo essa esquerda, se a Rede Globo ataca Moraes, então Moraes deve ser defendido. Um raciocínio infantil que ignora a natureza de classe do caso. Esquecem-se de que Moraes sempre foi um homem de confiança dessa mesma burguesia, utilizado para perseguir o próprio PT no passado e para tutelar o governo Lula no presente.
Ao mesmo tempo, há poucas semanas, essa mesma esquerda bradava contra a chamada “PEC da Blindagem”, exigindo o fim da imunidade parlamentar e discursando contra a impunidade de políticos eleitos. Agora, diante de fatos concretos e cifras astronômicas envolvendo um magistrado não eleito, o discurso ético evapora. Se fosse um filho de Bolsonaro acusado de receber tal quantia de um banco fraudulento, o clamor por prisão seria ensurdecedor. Como o alvo é o “Xandão”, o suposto herói da democracia, fecha-se os olhos à realidade material em nome de uma conveniência política imaginária.
O que move essa cegueira é a crença no conto da carochinha do “golpe de Estado”. A esquerda pequeno-burguesa comprou a farsa de que o STF e Alexandre de Moraes são as únicas barreiras entre a civilização e o fascismo. Para sustentar essa fantasia, aceitam tudo: censura, prisões arbitrárias e agora, até mesmo, suspeitas gravíssimas de corrupção.
No entanto, é preciso notar o silêncio ensurdecedor das raposas velhas da política. Lula, os seus ministros e os senadores do PT não saíram em defesa de Moraes. Porquê? Porque, como diz o ditado popular, “macaco velho não põe a mão em cumbuca”. A cúpula do PT sabe que as denúncias são graves e que a burguesia (os bancos e a imprensa) decidiu fritar o ministro. Sabem que Moraes entrou no “corredor da morte” político.
Ao insistir nesta defesa envergonhada, a esquerda fica, mais uma vez, com o “mico” na mão. A burguesia, cínica e pragmática, usou Moraes enquanto ele servia e agora prepara-se para descartá-lo ou enquadrá-lo. Aos setores iludidos da esquerda, restará o papel humilhante de viúvas de um “herói” que nunca esteve do seu lado, defendendo o indefensável e desmoralizando-se cada vez mais perante a população, que assiste atónita a “defensores do povo” passarem pano para os negócios obscuros do sistema financeiro.





