Editorial

Às ruas pelo fim da tutela militar

Forças armadas, por seu funcionamento burocrático e pelo monopólio das armas, são intrinsecamente golpistas

Os militares tutelam o regime político brasileiro.

Dizer isso nada tem a ver com dizer que houve uma tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023. É o exato oposto. Aqueles que creem nessa fantasia, são obrigados a admitir que ou o tal “golpe” foi impedido pela ação dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ou foi impedido pelos generais “democráticos” das Forças Armadas. Crer nisso e crer em Papai Noel é a mesma coisa.

As forças armadas brasileiras são uma burocracia armada contra um povo completamente desarmado. Por si só, já se trata de uma instituição altamente propensa ao golpismo. Pelo controle que os militares têm das armas, eles são capazes de prender autoridades facilmente, de cercar palácios e até mesmo de assassinar desafetos. Se é assim, por que um covarde como Alexandre de Moraes, que persegue todos os brasileiros que ofendem a sua “moral”, seria capaz de enfrentar os militares?

Dois exemplos mostrarão bem que uma toga não é páreo para um tanque de guerra. Em 2018, o então comandante Eduardo Villas-Bôas chantageou o STF pelas redes sociais para que não concedesse um habeas corpus a Lula. A chantagem surtiu tanto efeito que Rosa Weber contradisse o que havia dito meses atrás e votou contra o direito democrático do petista. No ano seguinte, o ministro Dias Toffoli tornou-se presidente do STF. E, como tal, ele poderia conceder liberdade a Lula. Era o mais provável, uma vez que ele foi favorável ao seu habeas corpus. Para impedir isso, as forças armadas lhe impuseram um “assessor”. Isto é, um espião.

A solução para o problema da tutela militar não está na dissolução das forças armadas. Todo país precisa tê-las. O problema está em como essas forças são organizadas. O seu caráter absolutamente burocrático é o que faz com que seja uma instituição tão corrupta, criminosa e conspirativa.

Os militares ativos no Brasil são mais de 350 mil. No entanto, as decisões cabem a meia dúzia de generais. É uma ditadura total. As centenas de milhares de subordinados vivem enclausurados nos quartéis, sem direito a uma participação política na sociedade. Dessa forma, o caminho fica aberto para a doutrinação fascista e pró-imperialista dos generais. A progressão na carreira militar segue a mesma regra. Ninguém é eleito comandante, as tropas não escolhem seus superiores. Para conquistar uma patente mais alta, é necessário agradar os de cima. No topo dessa escada, está o imperialismo, que impede que qualquer elemento minimamente progressista tenha algum cargo de importância nas forças armadas.

Some-se a tudo isso o fato de que os militares não são treinados de fato para defender o País de uma ameaça externa. Na maior parte do tempo, são obrigados a fazer serviços humilhantes, apenas para satisfazer os seus comandantes. Ao mesmo tempo, o recrutamento militar é feito de maneira a reduzir a quantidade de praças, para que assim as tropas sejam mais facilmente controláveis.

A luta contra a tutela militar passa, portanto, não apenas pela denúncia dos crimes cometidos por esses senhores fardados que conspiram dia e noite contra o Brasil. Passa, também, por um conjunto de reivindicações democráticas, que inclua a sindicalização dos soldados e o serviço militar obrigatório para todos, com tempo reduzido e com a única função de ensinar os cidadãos a manejar as armas.

No próximo dia 30 de março, abre-se mais uma oportunidade de o povo brasileiro lutar contra a tutela militar sobre o regime. É preciso ir às ruas contra a ditadura fardada.

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