Política internacional

“Artilharia” de Trump é um canhão de festim

Presidente dos Estados Unidos tem menos força que o setor dirigente do imperialismo, que é inclusive o principal articulador de golpes e guerras pelo mundo

Neste último sábado (19), o portal Brasil 247 publicou uma coluna intitulada “Trump, o gangster global: os novos ataques ao Brasil e a urgência histórica da resistência democrática”, assinada pelo advogado João Lister. De maneira muito contraditória, o que demonstra o estado de completa confusão política de setores da esquerda, Lister inicia comentando sobre a queda do absolutismo:

Em 14 de julho de 1789, o povo francês tomou a Bastilha — símbolo do absolutismo e da opressão monárquica. Aquele ato, que daria início à Revolução Francesa, não foi apenas a destruição de um cárcere físico, mas o desmantelamento de um sistema político fundado no privilégio, na mentira e no medo. Hoje, mais de dois séculos depois, a democracia brasileira vê-se desafiada por ameaças que, embora distintas na forma, repetem os fundamentos do autoritarismo travestido de populismo.

A segunda metade de seu parágrafo já dá o tom. Ora, o autoritarismo travestido de populismo seria o bolsonarismo. Contudo, o bolsonarismo não exerce poder absoluto no Brasil. Pelo contrário, ele está sendo perseguido por um dos poderes estatais que de fato está colocado acima dos outros dois, o Judiciário brasileiro. Assim sendo, a reivindicação de uma luta contra o absolutismo teria que se direcionar, necessariamente, contra esse, o único entre os três poderes que não é eleito pelo voto popular, e que exerce um poder de tutela sobre o regime político, submetendo o Executivo e o Legislativo em todas as esferas do Estado nacional. Continuemos:

Donald Trump, figura central dessa nova onda reacionária, voltou recentemente suas armas contra o Brasil. Em 25 de junho de 2024, em comício no Texas, declarou que Lula “nunca teria vencido uma eleição limpa”, acusando o sistema eleitoral brasileiro de fraude — sem apresentar qualquer prova. A fala, embora risível em sua pobreza argumentativa, representa um gesto gravíssimo de ingerência sobre a soberania de uma nação. […] Hoje, o que se apresenta é a consolidação de uma tática conhecida na história dos Estados Unidos: desestabilizar governos soberanos que não se alinham aos seus interesses.

O colunista não define porque Trump seria “figura central dessa nova onda reacionária”. Bom, Trump teria contestado o resultado eleitoral brasileiro. De fato, ele então não ocupava qualquer cargo nos Estados Unidos, e apresentou sua posição pessoal e política, a qual é livre para expressar. Nesse sentido, não chega aos pés da posição, por exemplo, do governo Lula no Brasil, ao não reconhecer as eleições na Venezuela, também sem quaisquer provas, e tratando-se, em agravante evidente, da posição não de um candidato ou figura política, mas de posição oficial do governo brasileiro. Fato é que, por parte do trumpismo, não há uma operação golpista contra o governo brasileiro em si. Trump está realizando uma disputa com o setor majoritário do imperialismo. Curiosamente, o colunista aponta uma série de movimentos golpistas e guerras causados pelo setor central do imperialismo, a que Trump se opõe nos EUA, ainda que de maneira incompleta, para falar em uma “nova forma de atuação”:

As recentes declarações de Trump não são isoladas. Elas seguem um padrão estabelecido pela política externa norte-americana ao longo dos séculos XX e XXI: a instrumentalização da mentira para justificar intervenções ou deslegitimar governos. Do Irã de Mossadegh em 1953 ao Iraque de Saddam Hussein em 2003, passando pelo Chile (Allende, 1973), Nicarágua, Panamá, Haiti e tantos outros, a história é marcada pela repetição de um modelo imperialista de intervenção. Agora, porém, essa lógica assume uma nova forma: a desinformação como arma geopolítica.

Trump não precisa mais de mísseis nem de tropas. Sua artilharia é simbólica, mas devastadora: redes sociais, palanques repletos de slogans vazios e um exército de seguidores que replicam mentiras em escala global.

Apesar de parecer marcar uma força maior, de fato Trump tem menos força que esse setor do imperialismo, que é inclusive o principal articulador de golpes e guerras pelo mundo. Por exemplo, a campanha contra o Iraque teve como linha de frente os maiores jornais e emissoras de vários países, mas Trump não dispõe desse aparato. Assim, o trumpismo fica restrito ao emprego de redes sociais. A máquina de propaganda desse setor que seria de “extrema direita” é na realidade uma fração ínfima se comparada à máquina de propaganda do imperialismo de conjunto. E é por isso que a artilharia de Trump é “simbólica”, tais como as tarifas que ameaça implantar e que sequer entraram em vigor ainda. A “artilharia” de Trump, comparada ao maquinário que engloba CNN, BBC, El País, etc. etc., é um canhão de festim.

Não à toa, uma série de setores da esquerda pequeno burguesa nacional bradam contra ele, coisa que jamais fazem contra o imperialismo de fato. A exemplo disso, temos a questão do Hamas, do Irã, da Venezuela, da venda do petróleo para “Israel”, e inúmeros outros.

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