No comovente velório de Natália Pimenta, ocorrido neste domingo (24), destacava-se uma coroa de flores, na qual se lia: “no sofrimento e no luto, cerremos fileiras, aproximemos os nossos corações, agrupemo-nos mais estreitamente para as novas batalhas!”. A bela frase foi escrita pelo revolucionário Leon Trótski, que se lançou na difícil tarefa de redigir um obituário para o maior líder revolucionário de todos os tempos: Vladimir Lênin.
Em seu texto, Trótski questiona:
“Lênin morreu. Estas palavras caem sobre a nossa consciência de uma maneira terrível, tal como o rochedo gigante cai no mar. Poderá acreditar-se? Poderá aceitar-se?”
Frases como “como isso foi possível?” e “não é verdade, é apenas um pesadelo” estão entre as mais ouvidas após a notícia do trágico falecimento de Natália no último sábado (22). Para os que acompanharam sua trajetora inabalável, acreditar parecia doloroso demais.
Militante desde os 12 anos de idade, Natália dedicou quase três décadas de sua vida à revolução socialista, tornando-se dirigente do Partido da Causa Operária (PCO) e, mais recentemente, vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal). Ela deixa um legado imenso, assim como o vazio provocado pela ausência de um ser humano tão bondoso.
A incredulidade com a morte de Natália reside não apenas em sua trajetória, mas também nas circunstâncias em que ela ocorreu. A dirigente, mãe de dois filhos pequenos, tinha apenas 40 anos, e foi vítima de um descaso brutal da burocracia estatal. Natália contraiu câncer de mama, câncer no cérebro e leucemia, mas foi a falta de um remédio vital que encurtou de maneira fulminante a sua vida. Mais precisamente, foi a negação deste remédio, por aqueles que comandam a máquina estatal, que impediram Natália de seguir com seus filhos, amigos, familiares e companheiros de partido.
Como ninguém, Trótski era consciente da importância de Lênin à época de sua morte. Ele compreendia, conforme desenvolveria em seus textos posteriores, que a Revolução Russa de 1917 não havia sido suficiente para liquidar o capitalismo. “O inimigo dispõe ainda de uma força considerável; o caminho a percorrer é longo; a grande tarefa, a maior que jamais foi empreendida na História, não está terminada”, explicou o revolucionário. Mesmo assim, coube a Trótski explicar que aqueles que, em vida, lutaram pela revolução, continuarão guiando nosso caminho, mesmo após o corpo se esvair.
“Neste momento, os nossos corações estão invadidos por esta dor tão profunda, porque todos nós fomos contemporâneos de Lênin, trabalhamos a seu lado, estudamos na sua escola. O nosso Partido é o leninismo em ação; o nosso Partido é o guia coletivo dos trabalhadores. Em cada um de nós vive uma parcela de Lênin, o que constitui o melhor de cada um de nós.”
O choque com a morte precoce de Natália conviverá entre nós no próximo período. Amanhã, daqui a um semana, daqui a um mês, continuará a pergunta: “como isso foi acontecer”?. Mas Trótski, talvez no momento de maior tristeza para a classe operária mundial, nos indicou: “lembremo-nos que a nossa responsabilidade é agora muito maior”.
Natália seguirá viva na luta dos trabalhadores por sua libertação. A partir de sua memória, é hora de se preparar para as próximas batalhas.





