O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou neste sábado (12) a imposição de tarifas de 30% sobre todos os produtos importados do México e da União Europeia. As medidas, que entram em vigor em 1º de agosto, foram oficializadas em cartas enviadas à presidente do México, Claudia Sheinbaum, e à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e publicadas na rede social Truth Social.
No caso do México, Trump justificou a taxação com base na crise do fentanil, acusando o país vizinho de ser incapaz de combater o narcotráfico. “Apesar do nosso forte relacionamento, o México ainda não conseguiu deter os cartéis que tentam transformar toda a América do Norte em um playground do narcotráfico”, afirmou o republicano. Ele alegou que os cartéis são formados pelas “pessoas mais desprezíveis que já pisaram na Terra”, e que o governo mexicano falhou ao permitir que essas organizações despejem drogas nos Estados Unidos.
O governo mexicano classificou a medida como “injusta”. Em comunicado conjunto, os ministérios da Economia e das Relações Exteriores informaram que uma delegação mexicana se reuniu com representantes norte-americanos na sexta-feira (10) para instalar uma mesa de trabalho permanente. Segundo o ministro da Economia, Marcelo Ebrard, o objetivo é “proteger empresas e empregos de ambos os lados da fronteira”. Ele declarou ainda que a medida foi rejeitada pela delegação mexicana e que o país continuará negociando uma alternativa.
A ofensiva comercial de Trump também se estendeu à União Europeia. O republicano afirmou que a tarifa de 30% visa reduzir o déficit comercial dos Estados Unidos com o bloco europeu, que alcançou US$235 bilhões em 2024, segundo o U.S. Census Bureau. “A União Europeia permitirá o acesso completo e aberto ao mercado dos Estados Unidos, sem que nenhuma tarifa seja cobrada de nós, em uma tentativa de reduzir o grande déficit comercial”, escreveu Trump. Ele também acrescentou que o valor das tarifas poderá ser ampliado, caso o bloco decida retaliar.
A presidente da Comissão Europeia respondeu que a medida trará prejuízos para “negócios, clientes e pacientes dos dois lados do Atlântico”. Ursula von der Leyen afirmou que a União Europeia está disposta a continuar as negociações, mas deixou claro que o bloco tomará “todas as medidas necessárias para salvaguardar os interesses da UE, incluindo contramedidas proporcionais”.
O presidente francês, Emmanuel Macron, endossou a posição e exigiu da Comissão Europeia a aceleração da elaboração das retaliações. A ministra da Economia da Alemanha, Katherina Reiche, defendeu uma solução “pragmática” para o impasse, enquanto o presidente da associação de exportadores alemães, Dirk Jandura, considerou as ameaças parte de uma “estratégia bem ensaiada” de Trump.
Na Itália, o Ministério da Economia alertou contra uma polarização maior nas relações comerciais e expressou confiança em um “acordo justo”. Já o principal sindicato agrícola do país, Coldiretti, estimou que as tarifas podem gerar prejuízos de até 2,3 bilhões de euros (aproximadamente R$14,9 bilhões) para o setor agroalimentar italiano.
A decisão de Trump ocorre em meio a uma escalada protecionista contra diversos países. No início da semana, foram impostas tarifas de 25% sobre produtos vindos do Japão e da Coreia do Sul. Na quarta-feira (9), o Brasil foi alvo de uma tarifa ainda maior: 50%, a mais elevada entre todas as anunciadas até agora. Em carta aberta, o presidente norte-americano indicou que a medida contra o Brasil foi motivada por dois fatores: o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que responde por tentativa de golpe de Estado, e decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) consideradas desfavoráveis a empresas de tecnologia dos EUA.
Na quinta-feira (10), Trump ampliou as tarifas também para o Canadá, com alíquotas de 35%. Segundo o republicano, somente os países que transferirem sua produção para território norte-americano terão direito à isenção. “As tarifas não se aplicarão se os produtos forem fabricados nos EUA”, escreveu.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que responderá às medidas com base na Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso neste ano. A legislação permite a suspensão de acordos comerciais, investimentos e direitos de propriedade intelectual com países que adotem barreiras unilaterais contra produtos brasileiros.
As tarifas impostas pelos Estados Unidos tiveram impacto imediato nos mercados. O Ibovespa registrou queda acumulada de 3,59% ao longo da semana, caindo de 141.263,56 para 136.187,31 pontos, reflexo da incerteza gerada entre os investidores. Já o dólar subiu 2,26%, encerrando a semana cotado a R$ 5,55. Em Nova York, os principais índices também recuaram: Dow Jones caiu 1,02%, o S&P 500 recuou 0,31% e a Nasdaq teve baixa de 0,08%.
A União Europeia e o México são, ao lado do Canadá e do Brasil, os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos. Com as novas tarifas, Trump coloca em xeque acordos internacionais e amplia o isolamento econômico do país, num movimento que, segundo a Câmara de Comércio Americana para a UE, ameaça comprometer até US$9,5 trilhões em negócios bilaterais.





