Nessa quinta-feira (16), o ministro da Defesa de “Israel”, Israel Katz e o diretor-geral do ministério, Eyal Zamir, disse que uma libertação de prisioneiros sob a custódia do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe) estaria sendo preparada, endossando o anúncio feito no dia anterior, por Catar, Hamas e Estados Unidos, de um acordo de cessar-fogo. As autoridades israelenses “determinaram que todas as capacidades do ministério sejam disponibilizadas para implementar o acordo de libertação de reféns, receber os reféns que retornam e dar suporte às suas famílias”.
Apesar disso, durante o dia inteiro, contrariando as expectativas, o governo israelense não confirmou oficialmente a adesão ao acordo de cessar-fogo. Segundo a emissora israelense Canal 12, o primeiro-ministro Benjamin Netaniahu realizou sua sexta reunião em dois dias com o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, tentando evitar que o líder do partido da coalizão do Sionismo Religioso não deixasse o governo quando o acordo fosse anunciado. A emissora afirmou ainda que as reuniões com Smotrich deverão ocorrer até a noite do próximo sábado (18).
De acordo com o governo israelense, o acordo de cessar-fogo, que Hamas, Estados Unidos e Catar já confirmaram como oficial, seria votado nessa quinta-feira (16). No entanto, Netaniahu suspendeu a votação, alegando que o Hamas estaria fazendo exigências de última hora. A acusação, no entanto, foi desmentida pelo Hamas.
Após um ano e meio de guerra, “Israel” entrar em um acordo de cessar-fogo sem ter conquistado um único objetivo é, em si, uma humilhação. Que esse acordo tenha sido anunciado pelo seu inimigo, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), e pelo seu mais importante aliado, os Estados Unidos, é uma humilhação sem igual.
A forma como se deu o anúncio do acordo expôs a fraqueza e o total colapso do governo de Benjamin Netaniahu. “Israel” se encontra tão desmoralizado que o seu grande patrocinador, o imperialismo norte-americano, perdeu a paciência e passou por cima do governo sionista. Anunciar o acordo antes de o governo israelense formar um consenso é, no final das contas, obrigá-lo a fazer o acordo, uma vez que Netaniahu sabe que não é possível sustentar uma guerra sem o apoio norte-americano.
Os motivos que levaram os Estados Unidos a aceitar o acordo de cessar-fogo são claros. O Hamas impôs uma derrota militar, moral e econômica muito profunda a “Israel”. As perdas militares são tão grandes que estão colocando em xeque toda a economia do país. Afinal, uma coisa é uma guerra de um mês, outra coisa é uma guerra que dure mais de um ano e não tenha perspectiva de derrotar o adversário.
Acontece que a guerra de “Israel” não era apenas contra o Hamas. No norte da Palestina ocupada, mais de cem mil colonos foram expulsos após os ataques precisos do Hesbolá, o maior partido do Líbano. No mar, as ações extraordinárias do Iêmen causaram um estrago profundo à economia israelense.
Tanto custo para nada. No final de contas, tudo o que “Israel” conseguiu fazer foi destruir ainda mais a infraestrutura de Gaza e assassinar dezenas de milhares de civis. O Hamas segue ainda mais fortalecido do que antes da gloriosa Operação Dilúvio de Al-Aqsa. Os prisioneiros israelenses seguem sob a guarda do Hamas e sem perspectiva de serem resgatados.
Esse conjunto de derrotas levou a uma revolta da população israelense contra o seu próprio governo. Netaniahu é visto como um fracassado que está punindo as famílias dos prisioneiros e as famílias dos soldados. Recentemente, uma pesquisa mostrou que 88% da população era contra a política do primeiro-ministro frente a guerra.
Há ainda um aspecto importante dessa crise. Na medida em que as forças de ocupação estão sendo vistas como fracas e o Hamas está sendo visto como uma força cada vez mais poderosa, a ditadura da Autoridade Palestina também está entrando em colapso. A repressão cada vez mais brutal à Resistência na Cisjordânia é prova de que o governo de Mahmud Abbas está por um fio.
A ideia de que o Hamas venceu a guerra já chegou até à imprensa sionista. Em um artigo do Times of Israel, David K. Rees afirma que Pela primeira vez, Israel acabou de perder uma guerra. Em uma lista de 14 pontos, ele elenca as conquistas do Hamas na guerra. Quanto a “Israel”, conclui: não conseguiu nada.
Diante deste cenário, o imperialismo norte-americano era obrigado a aceitar o cessar-fogo. Não o fazer seria correr o risco de ver a sua dominação sobre o território palestino implodir. Caso a guerra continuasse, o Hamas poderia acabar tomando conta da Cisjordânia, o governo israelense poderia cair pela pressão das ruas e o Estado de “Israel” entrar em dissolução.
Donald Trump agiu para salvar “Israel” de seu fim imediato. Contraditoriamente, Netaniahu ainda não declarou apoio ao acordo por um motivo muito simples: o cessar-fogo é o reconhecimento de que a sua política fracassou. Aceitar agora o cessar-fogo é reconhecer que levou o “país” inteiro para o buraco. É, como dizem alguns jornais israelenses, “render-se ao Hamas”.
Se Netaniahu fizer isso, estará bastante comprometido politicamente. Verá os seus adversários ganharem muito mais força no regime. Da mesma forma, a extrema direita, que é inimiga mortal do acordo de cessar-fogo, romperia com o governo, deixando Netaniahu na corda bamba.
A posição da extrema direita pode ser vista claramente no partido Otzma Yehudit, do Ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, que afirmou que o acordo irá “colocar em risco a segurança de Israel, minar as conquistas da guerra e constituir uma vitória completa para o Hamas”. O próprio partido, em um comunicado, afirmou que “não faremos parte de um governo que faz acordos tão imorais”.
Ao mesmo tempo, o líder da oposição, Jair Lapid, que é muito próximo do Partido Democrata norte-americano, prometeu ao primeiro-ministro Benjamin Netaniahu, expondo a divisão no governo israelense, uma “rede de segurança política”.
Netaniahu está em um beco sem saída. Manter a guerra deverá levar à sua queda. Afinal, irá contrariar o imperialismo norte-americano e, ao mesmo tempo, aumentar as tensões nas ruas. Por outro lado, acabar com a guerra levará a uma desmoralização tão grande que dificilmente lhe manterá no poder, principalmente diante do impasse que a extrema direita está impondo a ele.
A cada vez mais provável queda de Netaniahu, caso aconteça, será mais um grande feito da resistência palestina. O Hamas, na medida em que se manteve firme na defesa do povo palestino, lutando e derrotando a entidade sionista, arrastou o imperialismo para uma profunda crise.
Em 2024, essa crise foi suficiente para que o então presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, desistisse da corrida presidencial – bem como foi suficiente para garantir a vitória de Donald Trump contra Kamala Harris. Biden, apenas o sétimo presidente norte-americano a não concorrer à reeleição, ficou conhecido como “Zé genocida”, uma vez que foi obrigado, para combater a resistência palestina, a mostrar a sua face mais fascista.
Agora, com a crise em “Israel”, o Hamas poderá derrubar mais um monstro genocida.