Na esteira da maior chacina da história do Rio de Janeiro, perpetrada nesta terça-feira (28) nos Complexos do Alemão e da Penha, a direita dita “democrática” anunciou a criação de uma iniciativa para fazer lobby no Congresso Nacional pela aprovação de uma lei que classifica o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) como organizações terroristas.
O anúncio foi feito durante reunião encabeçada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. A reunião, feita em apoio a Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro, também contou com a presença do mesmo, bem como com a de Ronaldo Caiado (governador de Goiás) e Romeu Zema (governador de Minas Gerais). No decorrer deste ano, Freitas, Caiado e Zema, foram diversas vezes cotados como possíveis substitutos de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2026, sendo o governador de São Paulo o mais cotado para ser o representante do imperialismo.
Enquanto todos os citados governadores, representantes de uma direita supostamente civilizada, aplaudiram a chacina perpetrada pelas polícias Militar e Civil do Rio de Janeiro, a iniciativa pelo lobby foi batizada cinicamente de “Consórcio pela Paz”.
A classificação do PCC e CV como organizações terroristas é uma das principais exigências do governo Trump em relação ao Brasil. Esta exigência faz parte da política de suposto combate ao tráfico de drogas, que vem sendo chamado por Trump e seu governo de “narcoterrorismo”. Por sua vez, este falso combate ao narcotráfico faz parte da ofensiva geral do imperialismo para erguer ditaduras por toda a América Latina, com a finalidade de intensificar seu controle sobre a região.
Nesse sentido, Tarcísio de Freitas, durante a reunião, fez um ataque implícito ao governo Lula, afirmando que “não vai haver país forte quando o crime organizado está governando“, conforme noticiado pelo portal de comunicação Revista Fórum, que também informou que Tarcísio resolveu assumir a liderança do lobby pró-Donald Trump para aprovar a lei que classifica as citadas organizações criminosas como terroristas.
Paralelamente a isto, Martin De Luca, advogado da Trump Media & Technology Group (empresa de comunicação do presidente dos EUA, Donald Trump), questionou ao seu público, em sua página do X “você acha que os Estados Unidos deveriam designar o PCC e o Comando Vermelho como organizações terroristas estrangeiras?”. Pouco antes, em outra publicação, ele afirmou que “quando um grupo do crime organizado é designado como Organização Terrorista Estrangeira (FTO, na sigla em inglês) pelos EUA, de acordo com a Seção 219 da Lei de Imigração e Nacionalidade, as implicações para autoridades públicas, empresas e bancos que auxiliam, protegem ou facilitam a atuação desses grupos são profundas”, acrescentando que “qualquer político, banqueiro, empresário ou intermediário que facilite conscientemente as atividades de uma FTO pode ser indiciado nos Estados Unidos se qualquer parte da conduta envolver o sistema financeiro americano”.
Ele também se pronunciou sobre a chacina, elogiando a operação que resultou nela, bem como o governador, Cláudio Castro, ao mesmo tempo em que criticou pronunciamentos de Gilmar Mendes e Flávio Dino, afirmando que ambos “criticaram publicamente a grande operação do Rio contra o Comando Vermelho, um dos sindicatos do crime mais violentos da América Latina, apenas um dia depois de ter acontecido”,
Ele acrescentou que “a preocupação deles não era com os civis encurralados por gangues que usavam drones, granadas e fuzis” e que os citados ministros “pareciam preocupados com o fato de os criminosos estarem de posse de fuzis do Exército venezuelano”, declaração que faz parte da propaganda caluniosa contra Maduro e o chavismo nesta atual ofensiva do imperialismo contra a Venezuela e seu povo.
De Luca também se pronunciou sobre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter marcado para 04 de novembro julgamento como pode levar à cassação e à inelegibilidade de Cláudio Castro por suposto abuso de poder político e econômico:
“Um dia depois de o governador do Rio Cláudio Castro liderar a maior operação do Brasil contra o Comando Vermelho, grupo que os EUA estão considerando designar como organização terrorista estrangeira, o TSE, composto por ministros do STF, repentinamente marca seu julgamento para possível destituição do cargo”, declarou o advogado de Trump.
Ao elogiar Castro mais uma vez, De Luca deixou fez uma crítica às instituições brasileiras por supostamente serem coniventes com o crime organizado, crítica esta que é uma preparação de terreno para futura campanha contra o governo Lula:
“O governador do Rio é um dos poucos dispostos a enfrentar o crime organizado, algo que o governo federal parece relutante em fazer. O Brasil não pode derrotar o crime organizado se suas instituições punirem a coragem e recompensarem a paralisia.”
Da reunião liderada por Tarcísio, que resultou no chamado Consórcio da Paz (o lobby pró-Trump), também participaram Eduardo Riedel, governador do Mato Grosso do Sul; Jorginho Mello, governador de Santa Catarina; e Celina Leão, vice-governadora do Distrito Federal.
Em outras notícias, a emissora CNN informou na terça-feira, o dia da chacina, que o governo do Rio de Janeiro “entregou há cerca de oito meses ao governo de Donald Trump um relatório que, segundo fontes próximas ao governador Cláudio Castro, comprova que o Comando Vermelho é um grupo terrorista com atuação nos Estados Unidos”.
No dia seguinte, quarta-feira (29), a mesma emissora também noticiou que, em maio deste ano, o secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Guilherme Derrite, “reuniu-se com representantes do governo Donald Trump para passar informações sobre a atuação do PCC (Primeiro Comando da Capital) nos Estados Unidos e defender que a organização deve ser classificada como terrorista”.





