Polêmica

Apesar da euforia, faixa de isenção é 4 vezes menor que a de FHC

O placar, além de surpreender, tem que fazer o trabalhador desconfiar, pois foi unânime. Foram 493 votos a favor e nenhum contra

Carteira Vazia

No artigo de Oliveiros Marques publicado no Brasil247 neste 2 de outubro, quinta-feira, o título diz que o Governo vence de goleada. É a política, na verdade, seria melhor dizer, “é a propaganda”, pois a realidade é bem diferente, uma vez que a tabela do imposto de renda está muito defasada.

Com a mesma euforia do título, o olho da matéria afirma que “a lição que fica é clara: o mito de que a direita detém o monopólio das redes e das ruas no Brasil não se sustenta”. Não, o mito continua, pois a esquerda apenas engatinha nas redes, tanto que o presidente Lula nem mesmo tem um programa para falar com o trabalhador.

Quanto ao monopólio das ruas, não foi a esquerda que levou manifestantes para os atos contra o Congresso, mas a Rede Globo. Segundo Paula Lavigne, ligada a esse instrumento do imperialismo no Brasil, o chamado teria sido feito pela “sociedade civil”, mais conhecida como PSDB, ou liberais de todo tipo.

Seguindo em sua peça publicitária, Marques atesta que “o placar surpreendeu. Poucos imaginavam que seria esse. Diante dos movimentos da oposição, tentando livrar os super-ricos, as bets e os bancos de pagar um impostinho, era razoável esperar que votassem contra. Mas na política, quem tem campanha, tem medo. Quem tem voto em disputa, recua diante da pressão popular. E eles recuaram”.

O placar, além de surpreender, tem que fazer o trabalhador desconfiar, pois foi unânime. Foram 493 votos a favor e nenhum contra. Até o PL, partido de Bolsonaro, contribuiu com 82 do total. Fora isso, os super-ricos, as empresas de apostas e os bancos vão bem, obrigado, nadas lhes acontecerá.

Exagero

Governo e setores da esquerda estão tratando a votação como “conquista imensa”. Wellington Dias (ministro do Desenvolvimento Social) chegou a dizer´, absurdamente, que 187 milhões de trabalhadores seriam beneficiados. Quase 90% da população brasileira, que hoje está em pouco mais de 213 milhões de pessoas.

Gleisi Hoffmann (ministra das Relações Institucionais), disse que É um dia histórico para os trabalhadores brasileiros. É o início de um processo em que os mais ricos começam a ser mais onerados pelos impostos e pelos tributos, e o povo trabalhador começa a ser desonerado. Ou seja, o povo trabalhador que paga imposto hoje passa a pagar menos, ou não paga, e os mais ricos desse país começam a pagar mais impostos.

Segundo Oliveiros Marques, “16 milhões de brasileiros e brasileiras beneficiados. Dez milhões que simplesmente deixarão de pagar o imposto de renda. Outros seis milhões que terão suas alíquotas reduzidas. É gente que finalmente verá no contracheque um alívio concreto. Justiça tributária acontecendo de fato, no bolso, na vida real. É preciso comemorar, sim. Bater bumbo. Espalhar alegria. Porque não se trata apenas de uma medida técnica. É a materialização de uma escolha política: a de que o peso do Estado não pode recair sempre sobre os mesmos ombros, enquanto os mais ricos seguem blindados”.

A redução da alíquota, porém, não é gradual, ou seja, não tem uma faixa de isenção geral a partir da qual todos começam a obter descontos. Abaixo, apresentamos uma simulação comparando o salário bruto e o quanto deixará de ser pago:

R$ 3500 — R$ 39,76
R$ 4500 — R$ 200,39
R$ 5500 — R$ 246,32
R$ 6500 — R$ 113,18
R$ 7500 — R$ 00,00

É preciso lembrar que a tabela de imposto de renda não teve reajuste desde a segunda metade do governo Dilma, que esteve acossado pelos golpistas. Portanto, os governos Temer e Bolsonaro não reajustaram. A defasagem nesse período foi de 51%.

Porém, se compararmos com a famigerada era FHC, como demonstra o gráfico, a taxa de isenção era de 8,04 salários mínimos, hoje são apenas 2 salários, e estamos falando de um governo ferozmente neoliberal. De lá para cá, a defasagem é de 148%.

Na era FHC a isenção era quatro vezes maior.

Os números estão aí, para quem quiser ver. Por isso que Marques diz que “a vitória não é apenas sobre números”, até porque não dá para chamar isso de vitória. Ainda assim, o articulista diz que é também a vitória da política, da mobilização, das ruas e das redes. A prova de que quando centro-esquerda e esquerda puxam o debate com clareza, consistência e organização, conseguem influenciar os rumos do país”.

Como se pôde notar, Marques é obrigado a se “corrigir” e colocar na história a “centro-esquerda”. Não existe isso de centro-esquerda. Quem convocou a mobilização foi a Globo, Folha de São Paulo, Estadão, pessoas e partidos ligados a George Soros e ONGs financiadas pela CIA.

Para Marques, “não foi uma vitória isolada: foi a vitória da estratégia, da persistência, da capacidade de traduzir um tema árido em uma mensagem simples e justa. E foi também o empurrão que fez os extremistas se recolherem em silêncio covarde, incapazes de sustentar seu discurso vazio diante de uma proposta que dialoga com a maioria”.

Qual persistência? Até outro dia a esquerda não levava ninguém às ruas e os extremistas, ou seja, o partido de Bolsonaro, votou integralmente pela proposta. Quem vai capitalizar em cima disso?

Truque de cartas

Sem poder deixar de lado que a esquerda apitou pouco nas manifestações e mesmo no resultado da votação, Marques é obrigado a dizer que o debate ultrapassou o campo progressista, alcançou a mídia tradicional e ganhou a sociedade” – grifos nossos.

Campo progressista, como se sabe, pode ser qualquer coisa que se oponha mesmo que formalmente ao bolsonarismo. Até João Doria, ou Bolsodoria, já se apresentou nesse circo.

Diante da votação, e de como a burguesia está de acordo com a nova tabela, é preciso perguntar: Vitória de quem, de Lula, ou de Lira?

Chavões

Finalizando seu texto, Marques fala dos super-ricos, dos bancos, das bets (o espantalho da vez), mas a verdade é que os banqueiros controlam o Banco Central e impõem ao trabalhador uma taxa de juros de 15%, a segunda maior do mundo.

Os bancos mordem mais de um trilhão de reais anualmente apenas com juros e serviço da dívida pública, que ninguém consegue auditar, pois já foi paga várias vezes e mesmo assim continua alimentando os parasitas do grande capital financeiro.

Marques diz que cobrar essa gente é “debate de classe, sim. Mas não precisou ser pesado ou abstrato”. Abstrato para quem? Só se for para aqueles que estão com a vida ganha, para o trabalhador é muito concreto. E quem disse que a luta de classes é uma coisa leve? É pesada, o Estado está aí para reprimir em favor da burguesia. Quem acha que vai mudar alguma coisa oferecendo flores está no lugar errado e nem pode se considerar de esquerda.

Oliveiros Marques diz que os direitistas não resistem ao menor contraponto quando encontram mobilização organizada, frequente e com conteúdo. O que ele entende por frequência? Só houve uma convocação feita pela direita e com cara de revolução colorida. Quanto ao conteúdo, era uma reivindicação ultrarreacionária com vistas a transformar o Supremo Tribunal Federal em uma monarquia absolutista com poder de atropelar o Congresso e até mesmo o Executivo.

No final das contas, o articulista está apenas fazendo frente com a Globo, Caetanos e Lavignes. Diz que “quanto mais o campo progressista ocupar as ruas e as redes, mais sua narrativa – que é simples, justa e majoritária – será espraiada e defendida. Essa vitória mostra que quando a centro-esquerda e a esquerda falam com unidade, fala com o Brasil”.

Falar em nome de “campo progressista”, “centro-esquerda”, nada mais é que colaboração de classes. É tentar jogar o trabalhador no colo da direita liberal, do imperialismo. É por isso que a extrema direita vem ganhando força, pois a classe trabalhadora já não consegue distinguir a esquerda da direita.

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