A América Latina atravessa uma conjuntura marcada por intensas crises políticas, acentuadas por uma escalada de ofensivas da direita pró-imperialista e um aprofundamento da política neoliberal imposta pelo imperialismo. A região, que nos últimos anos havia experimentado uma ascensão de governos nacionalistas moderados, agora vive uma nova onda de retrocessos coordenados pelo grande capital.
Na Bolívia, assistiu-se a mais um ataque direto contra a soberania popular. A exclusão arbitrária da candidatura de Evo Morales — o principal nome da esquerda boliviana e com reais condições de vitória — abriu caminho para que a direita, de perfil abertamente entreguista, assumisse o comando do país. A eleição que resultou nesse desfecho está longe de poder ser considerada democrática. Trata-se, mais uma vez, de uma “eleição” onde o imperialismo manipulou o cenário para garantir seus interesses. A comemoração de figuras como o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), que saudou a vitória do novo presidente boliviano como uma conquista política, revela o alinhamento entre a direita latino-americana e os ditames neoliberais do imperialismo.
No Peru, o cenário também é alarmante. Um novo golpe, dentro do golpe que já havia derrubado Pedro Castillo, consolidou o retorno do fujimorismo — um regime marcado por práticas autoritárias e violação dos direitos democráticos. O governo golpista iniciou sua gestão reprimindo protestos populares, resultando inclusive em mortes.
No Equador, o governo, oriundo de um golpe articulado por Lenín Moreno, intensifica a repressão. A perseguição judicial contra Rafael Correa, outro importante líder da esquerda regional, e sua consequente exclusão do processo eleitoral, compõem o mesmo roteiro utilizado contra Morales na Bolívia e contra outros líderes nacionalistas.
A Argentina, sob o governo de Javier Milei, vive um verdadeiro experimento neoliberal. Mesmo enfrentando forte resistência popular e uma crise social profunda, o presidente ultradireitista segue desmontando o Estado e promovendo políticas de terra arrasada. Até o momento, não há sinal de que deixará o cargo antes do previsto, apesar da instabilidade.
O cenário se agrava com a escalada de agressões do imperialismo norte-americano na região. Cuba, historicamente bloqueada por uma política criminosa e genocida, voltou a pedir na ONU o fim do embargo. A Venezuela também segue sob ataques constantes, que incluem sanções, bloqueios e tentativas de desestabilização. Recentemente, houve ações ilegais no Mar do Caribe, com ataques a embarcações — práticas que lembram a atuação de máfias internacionais, mas conduzidas por governos que se apresentam como “democráticos”.
A Nicarágua, igualmente alvo de sanções e ameaças, completa o quadro de países sob cerco.
Dentro desse panorama, poucos governos de esquerda seguem em pé. No Brasil, o governo Lula, apesar de suas contradições, é um dos poucos que ainda representa uma barreira ao avanço total da direita. Na Colômbia, Gustavo Petro enfrenta grandes dificuldades para manter-se diante das pressões do aparato estatal e dos interesses norte-americanos. A situação do Chile também aponta para a retomada da direita, o que reforça a tendência de retrocesso geral.
Trata-se, portanto, de um momento em que a correlação de forças no continente é amplamente desfavorável à esquerda. As fraudes eleitorais, os golpes, a repressão aberta e o controle imperialista das economias indicam uma grande ofensiva sobre a região.
A crise atual exige não apenas denúncia, mas uma reorganização da esquerda latino-americana em torno de um programa revolucionário, capaz de enfrentar o imperialismo em todas as frentes e mobilizar a classe trabalhadora.





