Na quinta-feira da semana passada, dia 7 de agosto, o portal do PSTU, Opinião Socialista, publicou o artigo “Sobre o sectarismo, o oportunismo e as relações com o governo Lula na luta contra Trump”. Pareceria uma piada que uma organização como o PSTU esteja denunciando o sectarismo e chamando à unidade para combater o imperialismo, afinal, trata-se de um partido que apoia todas as iniciativas imperialistas pelo mundo, sem qualquer exceção, justificando tais posições com os pretextos mais sectários imagináveis, pois nenhum governo ou movimento seria bom o bastante para ser apoiado contra o imperialismo. Será que temos uma virada na política de capacho imperialista do PSTU? Vamos ao texto:
“Os revolucionários e a classe trabalhadora devem se colocar na vanguarda da luta contra o ataque de Trump-Bolsonaro (em outras palavras, do imperialismo norte-americano) ao Brasil, um país semicolonial.”
Aqui, temos um primeiro problema. Trump e Bolsonaro não representam o imperialismo norte-americano de fato. Basta ver que, na primeira eleição de Jair Bolsonaro, a posição da burguesia pró-imperialista brasileira era em bloco a favor do PSDB, de Geraldo Alckmin, que não vingou.
Essa mesma burguesia emplacou, utilizando-se da esquerda, a campanha do “ele não”, com vistas a propagandear a direita dita democrática. Isso se confirma pois a mobilização para o segundo turno das eleições de 2018 pela campanha do “ele não” foi menor do que no primeiro turno. Ora, se era uma campanha de fato contra Jair Bolsonaro, no segundo turno fazia-se muito mais importante impulsionar a campanha, mas ocorreu o oposto.
Já nos EUA, o conjunto do imperialismo se dedicou a uma perseguição contra Donald Trump, visando retirá-lo das eleições. Isso não ocorreu sem motivo. Pouco depois de eleito, Trump acabou com a USAID, ferramenta importante do imperialismo na manutenção de sua ditadura sobre todo o mundo, com golpes de Estado armados em todos os continentes povoados. Ao mesmo tempo, buscou acabar com a guerra da OTAN contra a Rússia na Ucrânia, o que falhou em executar. Ainda, forçou um cessar-fogo do genocídio na Faixa de Gaza, o que igualmente falhou em manter, em face dos interesses do imperialismo, e evitou uma entrada na guerra contra o Irã, realizando uma operação teatral para manter os EUA fora do conflito direto.
Ao mesmo tempo, a política de Trump de ingerência sobre a política brasileira é uma medida imperialista, mas que também demonstra o caráter menor do próprio Trump. Ao invés de derrubar o governo, de impor um bloqueio econômico, como faz o setor principal do imperialismo, as ameaças são diminutas “tarifas de importação”, algo praticado por todos os países do mundo, e até mesmo natural.
Portanto, temos uma definição errada de imperialismo oferecida pelo PSTU, o que será central para o posicionamento da legenda. Apontam eles, corretamente sobre a defesa da soberania nacional contra o imperialismo:
“Nessa luta, devemos estar dispostos a fazer unidade de ação com todo mundo que se disponha a enfrentar o ataque, incluindo o governo Lula e quem mais queira participar.”
“Se o governo e a burguesia nacional, que no dia a dia gerenciam os interesses das multinacionais e do sistema financeiro internacional aqui dentro, assumirem a postura de enfrentar e reagir a esse ataque, estaremos dispostos a fazer unidade de ação em tal luta, mas sem perder nossa independência política e organizativa.”
Assim, afirma o PSTU que adotará a política de pressionar o governo Lula a adotar a reciprocidade e responder às medidas econômicas com medidas próprias contra os EUA, uma posição acertada. Eles chegam mesmo a citar León Trótski, o comandante máximo do Exército Vermelho e uma figura central da Revolução Russa, para justificar sua posição de defesa do governo brasileiro contra a ingerência imperialista. Mas aí, o PSTU acaba por se autodenunciar.
“Diante de um ataque imperialista ou de uma invasão militar imperialista, no caso de um golpe militar bonapartista ou da ascensão do fascismo, o sectário, se nega a considerar a “forma” de lidar com este governo (ou seja, as táticas) e, inclusive, também se recusa a adequar as suas.
Uma postura sectária que pode chegar ao ponto da traição, como demonstrou Trotsky em relação à posição ultraesquerdista adotada pelo stalinismo que, quando da ascensão de Hitler, igualou a Social Democracia ao Nazismo e se negou a golpear junto com ela contra os nazistas.”
Ora, quando a burguesia imperialista, em bloco com a burguesia nacional, organizava o golpe contra o governo do PT, o PSTU não apenas não denunciou o golpe, como o apoiou enfaticamente, chegando a bradar pelo “Fora, Dilma” em manifestações da esquerda à época. Era a ala esquerda do golpe, fundamental para acanhar os defensores do governo na esquerda, para diminuir e desorganizar uma resistência ao que vinha. E não se trata de fato isolado.
Igualmente, o PSTU se coloca a favor da derrubada do governo soberano da Venezuela, ponde-se ao lado do bloqueio imperialista, do golpe, dos atentados diuturnos contra o chavismo; posição idêntica ao tratamento do PSTU para com a Nicarágua. Ademais, essa posição se repete para Síria, contra o governo de Bashar al-Assad, cuja queda deu lugar a uma nova onda de limpeza étnica no país, e destruição de sítios históricos; para o Irã revolucionário, onde a Revolução Islâmica teve êxito e deu lugar à organização de todo o Eixo da Resistência contra o sionismo e o imperialismo no Oriente Médio, um enfrentamento que perdura até hoje; para a Líbia de Muamar Gadafi, que foi destruída quando era o país mais avançado do continente africano, e reduzida a um país com mercados de escravos a céu aberto. E essa posição se repete na Ucrânia, onde o PSTU apoia o governo nazista instalado pelo golpe imperialista contra a Rússia, que deu lugar a um genocídio no Donbas, ao assassinato de sindicalistas, e ao uso da população ucraniana como bucha de canhão contra a artilharia russa, com vistas a enfraquecer aquele país. Vale destacar que trata-se de exemplos longe de exaustivos sobre a posição de capacho imperialista do PSTU.
Vemos portanto que, apesar de ser capaz de apresentar uma posição formalmente correta contra o imperialismo, o PSTU apenas a apresenta neste caso, e por um motivo muito simples. O PSTU não é contra o imperialismo, pelo contrário, ele é favorável ao imperialismo, e está hoje adotando uma posição supostamente coerente porque trata-se de realizar oposição não ao imperialismo, mas ao trumpismo que, afinal, parece não ter os dólares no lugar certo para garantir este apoio.





