O jornalista Bepe Damasco publicou no portal de esquerda Brasil 247 uma coluna intitulada E a comunicação, PT?, lembrando que o Partido dos Trabalhadores se encontra em meio ao Processo de Eleição Direta (PED), porém “um tema de importância estratégica, a comunicação digital, não vem sendo tratado com a prioridade que merece”, retomando o debate sobre as deficiências do maior partido da esquerda brasileira nesse campo. Debruçando-se sobre o problema, Damasco questiona:
“Se não falta dinheiro, quadros qualificados que conhecem a área, acesso a bons profissionais e compreensão da centralidade deste tipo de militância, quais os motivos para o emperramento da atuação digital?”
A resposta, no entanto, é simples: o que falta é política. Os problemas de comunicação enfrentados pelo partido não são decorrentes de erro no sentido da técnica, da imperícia ou incompreensão da importância de uma máquina de propaganda ativa, mas decorrente do fato de que o PT simplesmente abdicou de lutar. Exemplos para comprovar isso são abundantes.
De modo geral, a esquerda exultou com o que chamou de “ato flopado” organizado pela extrema direita no Rio de Janeiro, porém quando foi que mobilizou um terço sequer de um contingente equivalente ao visto em Copacabana desde o retorno de Lula ao Palácio do Planalto? Seja nas manifestações em defesa da Palestina, seja nas próprias reivindicações atuais da esquerda pequeno-burguesa – como a defesa da punição aos manifestantes do 8 de Janeiro -, o PT demonstrou uma dificuldade imensa na capacidade de mobilizar as bases do próprio partido.
Não é segredo para ninguém minimamente experimentado na política como se faz um ato: cria-se o clima com uma intensa mobilização das bases do partido em primeiro lugar, depois a agitação com panfletagens e atividades de convocação. O fato de o PT não o fazer não significa que o partido desaprendeu. Trata-se de uma decisão. O mesmo pode ser dito de um dos principais gargalos do governo, a política econômica.
Para o País crescer de verdade, gerando empregos, salários e melhorando os padrões de vida das massas trabalhadoras, os juros precisam cair e um programa de desenvolvimento feito sob a base de indústrias que empregam trabalhadores em grande escala, como a construção civil, precisa ser implementado. A política de juros altos, no entanto, é o oposto disso, sendo útil para os banqueiros, mas péssima para o povo. Também aqui, não estamos falando de um erro, mas de uma decisão que traz custos políticos.
Manter Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente sabotando o País, mesmo após ter identificado publicamente o problema que a ministra representava, igualmente, é uma decisão política. Vai custar o desenvolvimento do Norte e Nordeste do Brasil, a expansão da Petrobrás, as riquezas do petróleo, mas é também uma política de não fazer nada. Tal qual na mobilização popular. Tal qual na economia.
A pouco mais de um ano para as próximas eleições gerais, o PT simplesmente abdicou de travar a luta política e isso é o que emperra as comunicações do partido. Finalmente, não ter o que mostrar é um desafio adicional para qualquer um que se aventure a desenvolver essa lacuna, porém continua sendo um problema derivado da falta de política do maior partido da esquerda brasileira, que cedeu ao imperialismo na questão do petróleo, dos juros, da economia em geral e finalmente, da própria mobilização popular. Diz o jornalista:
“A comunicação virtual do partido tem registrado avanços se comparada com o passado recente, mas falta uma operação de guerra, a construção de uma grande força-tarefa, com capilaridade e conteúdo político unificado.”
Ocorre que para isso, o partido precisaria estar, efetivamente, em uma “guerra” e não é o que está acontecendo. É emblemático, nesse sentido, que a grande palavra de ordem do momento do partido seja a “sem anistia”, voltada a defender a punição dos bolsonaristas da manifestação de Brasília.
Independente de qualquer consideração, trata-se de uma palavra de ordem que não apela ao ativismo de ninguém, exceto de 11 pessoas que ocupam o Supremo Tribunal Federal (STF). Não deveria ser segredo algum que tão pouca gente vá às manifestações convocadas para pressionar os ministros do STF, uma vez que eles são os verdadeiros protagonistas da luta.
Some-se a isso a impopularidade de tudo o que o PT vem defendendo e temos uma situação que poderia ser descrita como “tempestade perfeita”. Juros nas alturas asfixiando a economia, o desemprego igualmente estratosférico, a carestia corroendo o bolso das massas e apoiadores querendo que o povo vá às ruas pedir prisão para opositores do governo, em um julgamento farsesco no qual todos já sabem o desfecho? Não tem gênio da propaganda no mundo que resolva.
A guinada à direita empreendida pelo PT e pelo governo é o primeiro problema a ser resolvido. Com uma política real, que traga resultados que possam ser mostrados e que não sejam meros golpes estatísticos, como a farsa do “pleno emprego” com apenas um terço dos trabalhadores realmente empregados, aí sim poderia-se discutir o caso da comunicação. É preciso, porém, ter o que o comunicar, algo que hoje, nem o PT e nem o governo tem.