No programa Análise Política da Semana, exibido neste sábado (27), na Causa Operária TV (COTV), o presidente do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, concentrou a maior parte de sua análise no escândalo envolvendo o ministro Alexandre de Moraes e o Banco Master. Antes, porém, o dirigente iniciou o programa com uma denúncia sobre o avanço de medidas de restrição à liberdade de expressão em países europeus e voltou a criticar setores da esquerda por apoiarem esse tipo de política.
O caso Jacques Beaud e punições sem processo
Pimenta afirmou que o coronel Jacques Beaud, a quem descreveu como analista de questões militares na Internet, foi alvo de sanções e acusações políticas na Europa, sem que houvesse processo judicial. Segundo o dirigente, Beaud foi acusado de “desinformação” e de divulgar conteúdos que “possivelmente favorecessem os russos”. Para Pimenta, a acusação diz respeito a uma situação “totalmente fictícia”, que só faria sentido, em termos formais, se houvesse guerra declarada.
Ao ler o que atribuiu ao próprio Beaud, Pimenta afirmou: “todas as minhas contas bancárias foram congeladas, não tenho permissão para viajar no interior da União Europeia, o que significa que eu não tenho permissão para ir e voltar ao meu país”. Ele acrescentou que Beaud disse ter sido impedido de retornar ao seu país e que a medida ocorreu “sem que houvesse nenhum tipo de processo judicial”, ou seja, sem direito de defesa.
Para Pimenta, o episódio mostrou um mecanismo arbitrário de perseguição: “qualquer pessoa pode ser atingida com acusações genéricas e a pessoa é atingida, mas não pode se defender”. O dirigente afirmou que esse tipo de política se espalhou onde o imperialismo impôs medidas de censura e disse que, em nome do combate ao “discurso de ódio”, apresentaram-se argumentos que, na prática, serviram a perseguições políticas, inclusive em temas que não têm relação com esse pretexto.
Pimenta afirmou que a perseguição se concentrou, em escala internacional, sobretudo na questão palestina. Ele disse que milhares foram perseguidos e censurados e citou, como exemplo, o próprio PCO: “nós mesmos, eu mesmo pessoalmente, o PCO, vários militantes do PCO, estamos sofrendo esse tipo de perseguição”. Pimenta relembrou que a COTV e canais ligados a ela tiveram vídeos derrubados, perderam monetização e enfrentaram processos.
Ao fazer um balanço do ano, o dirigente disse que o saldo foi “completamente negativo” e que a estrutura de censura ficou “completamente estabelecida”, com novas proibições ao longo do período. Ele também criticou a esquerda por apoiar isso, afirmando que esse apoio ocorreu sob justificativas que não se confirmaram na melhoria das condições reais da população.
Banco Master e Moraes
Ao passar ao tema principal, Pimenta afirmou que o caso Alexandre de Moraes/Banco Master se tornou “o assunto da semana, se não o assunto do ano”. Segundo ele, o jornal O Globo acusou Moraes de atuar para favorecer o Banco Master, evitar a liquidação do banco e pressionar o Banco Central nessa direção. Pimenta afirmou que o caso deixou um saldo de “aproximadamente 60 bilhões” de prejuízo.
O dirigente também afirmou que veio a público um contrato do escritório da esposa do ministro, Viviane Barci de Moraes, com o Banco Master, pelo valor de R$129 milhões a serem pagos em três anos. Pimenta descreveu o acordo como “o mais caro” e “o mais fantástico” do sistema judicial brasileiro, e disse que, em outros países, “isso teria dado lugar à renúncia do ministro de forma quase imediata”. Em sua avaliação, o fato “é um escândalo, não há dúvida nenhuma”.
Pimenta afirmou que Dias Toffoli concentrou a condução do caso e colocou dados do processo em segredo de Justiça, “inclusive para os próprios membros do STF”. Em seguida, segundo Pimenta, Toffoli marcou uma acareação envolvendo o Banco Central, o BRB e representantes do Banco Master para discutir a liquidação do banco.
Para o presidente do PCO, a iniciativa agravou a crise porque a acareação se vinculou ao debate sobre reverter a liquidação do banco e porque o sigilo impediu que a sociedade soubesse “o que aconteceu com esse banco, o que eles fizeram, quais foram os esquemas, para quem eles deram dinheiro”. Pimenta afirmou: “o mais natural de todo mundo, mas ninguém está levantando essa reivindicação, é que o inquérito seja transparente”.
Ele acrescentou que o segredo de Justiça virou rotina em procedimentos do STF e citou, como exemplo, o Inquérito das “Fake News”, em que os investigados possuem acesso totalmente limitado às informações.
Bancos defendem Banco Central
Pimenta disse que, diante do conflito, setores ligados ao grande capital divulgaram uma carta defendendo a adoção de um código de ética para ministros do STF. Ele afirmou que a iniciativa aparece como tentativa de conter o que esses setores passam a tratar como “excessos” e, ao mesmo tempo, preservar a instituição. Pimenta sustentou que esses setores querem “jogar a água suja”, mas preservar “a criança”, isto é, preservar o STF.
O dirigente também afirmou que bancos divulgaram nota defendendo o Banco Central e se posicionando contra qualquer tentativa de reversão da liquidação do Banco Master. Para Pimenta, o confronto se ligou ao controle do mercado bancário por um punhado de bancos, que não aceitam absorver prejuízos de operações fora do seu controle nem abrir espaço para concorrentes menores.
‘Corredor da morte’
Ao analisar o impacto para Alexandre de Moraes, Pimenta afirmou que o ministro entrou “no corredor da morte”, expressão com a qual indicou que Moraes passou a operar sob risco real de queda política: “se ele vai ser executado ou se ele não vai… nós vamos ter que ver”.
Pimenta apontou duas causas para a crise. A causa direta, segundo ele, foi o relacionamento de Moraes com o Banco Master e a defesa do banco. A causa indireta, disse, foi a perda de função do poder extraordinário acumulado pelo ministro após o desfecho do processo contra Bolsonaro e após um acordo político que, na avaliação dele, esvaziou a utilidade daquele arranjo.
Pimenta insistiu que a crise não se explicou por moralismo, mas por dinheiro e disputa interna do regime. Ele afirmou que o Estado brasileiro é dominado pelo grande capital, sobretudo pelos bancos, e que esse capital se associou ao imperialismo. Nesse quadro, ele definiu Alexandre de Moraes como “funcionário” desses setores e resumiu o conflito como “patrão contra empregado”.
Globo e a esquerda
Ao comentar a polêmica entre setores da esquerda, Pimenta rejeitou escolher lado entre o ministro e o jornal que publicou as denúncias: “nenhum dos dois. Não há como estar do lado de nenhum dos dois”. Ele disse que O Globo não agiu para melhorar a situação do País e afirmou que a disputa expôs problemas internos do regime, tratados com cautela porque os próprios setores do grande capital buscaram uma saída negociada e a preservação do STF.
Pimenta também criticou a incoerência de setores que seguiram o chamado da Rede Globo nas manifestações contra a PEC das Prerrogativas e o PL da Dosimetria, mas que, agora, apontam o envolvimento d’O Globo nas denúncias contra Moraes como prova de sua idoneidade. Ele afirmou que dirigentes do PT evitaram sair em defesa pública de Moraes porque avaliaram que as forças em movimento são poderosas e porque não querem carregar o desgaste de defender uma figura atingida por um escândalo em ano pré-eleitoral.
Planos de saúde: lucro recorde e cortes de tratamento
No fim do programa, Pimenta comentou reportagem da Revista Piauí sobre o lucro recorde de planos de saúde em 2025. Ele afirmou que a reportagem mostrou casos de negativas de tratamento e cancelamentos de contrato quando os custos aumentaram. Pimenta relacionou o tema ao domínio do capital financeiro sobre o Estado e afirmou que a pressão por cortes em saúde pública convive com a exploração do setor privado. Para ele, planos de saúde operam para dar lucro e, quando o paciente se torna caro, é descartado.




