O artigo de Alberto Cantalice, diretor da Fundação Perseu Abramo, sobre o lançamento da cartilha Brasil Seguro, Família Protegida é uma das expressões mais grotescas da capitulação da esquerda pequeno-burguesa diante do Estado burguês. Sob o pretexto de “avançar na pauta da segurança pública” e de “mudar o viés demagógico da extrema direita”, o articulista apresenta um programa que é uma uma rendição ideológica completa à política repressiva.
O centro da fraude do programa de Cantalice reside no Eixo 1: “Reformas Estruturais Para uma Segurança pública antirracista, cidadã e Democrática”. Essa proposta é uma mentira cínica ou, na melhor das hipóteses, o reflexo de um profundo cretinismo político.
A polícia é o braço armado do Estado burguês. A sua função de classe é reprimir os pobres, proteger o grande capital e garantir que a juventude negra e periférica permaneça sob o terrorismo estatal. A violência e a ausência de cidadania não são “desvios” ou “falhas” de treinamento; são a função essencial da polícia.
Propor uma polícia “antirracista” é o mesmo que propor um capitalismo sem exploração. É uma farsa cosmética que visa apenas legitimar e fortalecer o aparelho repressivo. Cantalice busca pintar de rosa o fuzil que mata na favela, garantindo que o Estado continue a exercer sua violência, mas agora com um selo de “democracia” e “antirracismo”.
Onde Cantalice realmente se desnuda é nas propostas concretas de punição e controle territorial, mostrando que ele adota o fascismo que diz combater. O autor exige penas altíssimas para a ocupação territorial pelo crime e diz que de criminoso é na cadeia, seja ele “faccionado, assaltante, assassino ou fraudador elitizado”. Ele ainda pede dificuldade na progressão de regime e líderes em presídios federais.
Ao invés de propor a única saída de classe — a dissolução das polícias e a autodefesa popular —, Cantalice avança no programa de encarceramento em massa e na escalada da repressão militar nos territórios. Ele usa a menção a crimes de colarinho branco (PF/Receita Federal) como uma migalha para justificar a necessidade de mais terrorismo contra os pobres.
Cantalice fala como se fosse um xerife do grande capital. A direita diz “bandido bom é bandido morto”; Cantalice diz “bandido bom é bandido preso por penas altíssimas e sem progressão de regime”. É a mesma política.
Cantalice, ao invés de usar sua força política para denunciar que a raiz da violência é a ditadura dos bancos e do imperialismo, assume a responsabilidade de aperfeiçoar o mecanismo que oprime o povo.





