HISTÓRIA DA PALESTINA

Ahmad al-Shuqairi, o primeiro presidente da OLP

Em maio de 1964, com apoio do líder egípcio Gamal Abdel Nasser, o militante nascido no atual Líbano foi escolhido dirigir a OLP

Figura central na história da luta palestina pela libertação nacional, Ahmad al-Shuqairi foi o primeiro presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Filho de Shaykh As‘ad al-Shuqairi, um líder religioso exilado pelos otomanos, al-Shuqairi  tinha uma mãe, de origem turca, que se casou novamente após a morte de seu pai. Posteriormente, o padrasto também faleceria, levando a família a um período de dificuldades financeiras. Ainda jovem, al-Shuqairi mudou-se para Tulcarém, na Palestina, onde iniciou seus estudos.

Sua educação foi marcada por um profundo interesse pela língua árabe e pelo Islã, influenciado por figuras como Shaykh Abdullah al-Jazzar, mufti de Acre. Após concluir o ensino secundário em Jerusalém, o futuro dirigente da OLP ingressou na Universidade Americana de Beirute, mas foi expulso em 1927 por participar de protestos contra o colonialismo francês, que à época, dominava o Líbano.

Esse episódio marcou o início de sua militância política. De volta à Palestina, se dedica ao jornalismo e a advocacia, graduando-se na faculdade de Direito Jerusalem Law Classes em 1933. Durante esse período, al-Shuqairi começou a se destacar como um defensor dos direitos dos palestinos, atuando em casos de disputas de terras e defendendo camponeses contra as políticas britânicas.

A segunda fase da vida de al-Shuqairi, entre 1933 e 1947, foi marcada por sua atuação como advogado e ativista nacionalista. Durante a Revolução Árabe de 1936-1939, terminaria sendo preso pelos britânicos em decorrência de sua militância.

Após a Segunda Guerra Mundial, al-Shuqairi tornou-se uma figura proeminente no cenário internacional. Em 1945, ele foi enviado pelo líder palestino Musa Alami, para estabelecer um escritório árabe em Washington, com o objetivo de defender a causa palestina nos Estados Unidos. De volta à Palestina, ele assumiu a liderança do Escritório Árabe em Jerusalém, onde trabalhou até a Nakba (palavra árabe que significa “catástrofe”) de 1948, quando quase um milhão de palestinos foram expulsos de suas terras para a criação do Estado artificial de “Israel”.

A partir de 1947, al-Shuqairi dedicou-se à diplomacia, representando a Síria e, posteriormente, a Liga Árabe nas Nações Unidas. Sua atuação na ONU foi marcada por uma defesa incisiva dos direitos palestinos, o que lhe rendeu reconhecimento internacional. Em 1957, ele foi nomeado ministro de Estado para Assuntos da ONU pelo governo da Arábia Saudita, cargo que ocupou até 1962. Durante esse período, al-Shuqairi viajou extensivamente, estabelecendo contatos com líderes mundiais, incluindo o então secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética Nikita Khrushchev.

Em maio de 1964, com o respaldo do líder egípcio Gamal Abdel Nasser, foi escolhido como o primeiro presidente da OLP. Após a Guerra dos Seis Dias em junho de 1967, contudo, renuncia ao cargo em meio a uma severa pressão, com a demissão oficializada em dezembro do mesmo ano. Seus adversários e opositores o transformaram em um bode expiatório para a derrota.

Entre 28 de maio e 2 de junho de 1964, al-Shuqairi participou, ao lado de 396 representantes indicados por Jordânia, Síria, Líbano, Faixa de Gaza, Egito, Catar, Kuwait, Líbia e Iraque, de uma Conferência Palestina – o Primeiro Conselho Nacional Palestino, realizado em Jerusalém Oriental. Os participantes usavam crachás com um mapa da Palestina e a frase “Nós retornaremos”.

O jornal britânico The Times relatou que, após o discurso de abertura do rei Hussein da Jordânia, al-Shuqairi afirmou aos delegados que “os palestinos enfrentavam 16 anos de sofrimento e havia chegado o momento de confiar em si mesmos e libertar a Palestina da ocupação israelense”. A conferência declarou a criação da OLP como representante oficial dos árabes palestinos. Além disso, al-Shuqairi e seus colegas anunciaram o estabelecimento do Fundo Nacional Palestino e, na Segunda Cúpula Árabe, realizada em Alexandria em setembro de 1964, a formação de uma ala militar, o Exército de Libertação da Palestina.

Nos meses que antecederam a Guerra dos Seis Dias, foi atribuído a al-Shuqairi o comentário de que os judeus seriam “lançados ao mar”. Quando questionado especificamente sobre os judeus nascidos em “Israel”, ele teria respondido: “Os que sobreviverem permanecerão na Palestina, mas, na minha opinião, ninguém sairá vivo”. Embora essas declarações tenham recebido pouca atenção naquele momento, após a guerra foram amplamente utilizadas como justificativa pelo governo israelense para o conflito.

al-Shuqairi negou repetidamente ter feito tais afirmações. Sua versão dos fatos raramente foi publicada pela imprensa ocidental, mas foi transmitida pela rádio francesa em setembro de 1967:

“Disse exatamente o contrário. Dois dias antes da agressão israelense, estava em Amã e, durante uma coletiva de imprensa, me perguntaram se, caso os árabes vencessem a guerra, lançaríamos os judeus ao mar. Imediatamente, respondi que não tínhamos essa intenção, nem desejávamos exterminá-los. No entanto, fontes judaicas distorceram minhas palavras, e, como se sabe, o sionismo é mestre em mentiras e manipulações.”

Sob sua liderança, a OLP buscou unificar as diversas facções palestinas e mobilizar apoio internacional para a causa. No entanto, a derrota dos exércitos árabes na Guerra dos Seis Dias (1967) minou sua autoridade e al-Shuqairi enfrentou crescente oposição de grupos guerrilheiros palestinos, que criticavam seus métodos mais orientados à diplomacia. Sob pressão, renunciou ao cargo em dezembro de 1967.

Após sua renúncia, al-Shuqairi dedicou-se à escrita, escrevendo mais de vinte livros sobre a causa palestina e a Unidade Árabe entre 1968 e 1979. Em 25 de fevereiro de 1980, falece na cidade de Amã, Jordânia.

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