No último Clássico da Rivalidade, no dia 12 de fevereiro, no qual o Flamengo venceu o Botafogo por 1 a 0 pelo Campeonato Carioca, os jogadores rivais entraram em uma confusão com socos e discussões. A briga, após um jogo tenso, começou depois do apito final, após um empurrão do zagueiro botafoguense Alexander Barboza em cima do atacante flamenguista Bruno Henrique, conhecido por tirar sarro do rival carioca.
Para defender o companheiro de equipe, o capitão do Flamengo e meio-campista da Seleção Gerson entrou em uma briga contra Barboza — que dias depois, justificou sua atitude em uma nota nas redes sociais:
“Defender o escudo que represento de qualquer forma é o que me ajudou na minha carreira profissional a ser quem sou e alcançar as coisas que consegui, e quem o desrespeita não merece meu respeito de forma alguma.”
Quando Gerson e Barboza começaram a brigar, jogadores dos time se envolveram na confusão e o zagueiro reserva do Flamengo deu um soco na boca do zagueiro botafoguense, arrancando um dente da vítima. A briga continuou, depois, nos túneis do Maracanã.
Até aí, tudo normal: brigas entre jogadores durante um clássico são comuns no futebol brasileiro, onde se vive realmente o futebol e as paixões ficam exacerbadas.
No entanto, um áudio divulgado no dia seguinte ao jogo, um morador de um condomínio na Barra da Tijuca, onde morariam jogadores do Botafogo e do Flamengo, afirmou que a briga já estava anunciada (o que explica a tensão intensa durante o jogo) dias antes do clássico. Tudo porque após a derrota na Supercopa Rei, jogadores alvinegros teriam apelidado o atacante flamenguista de “cara de ‘traveco’” e “cabelo frito”.
Isso foi suficiente para que a milícia moral identitária inflasse as redes sociais denunciando um suposto racismo dos jogadores do Botafogo — time repleto de negros em seu elenco oficial —, por estarem criticando o cabelo de um jogador negro. O próprio perfil oficial da Supercopa Rei no X respondeu a um torcedor do Botafogo que usou o apelido contra o atacante do Flamengo:
“Racismo é anti-desportivo, é crime! Racismo não faz parte da história do Botafogo de Futebol e Regatas”, escreveu.
Acontece que a brincadeira não ocorre pelas características crespas do cabelo de Bruno Henrique, mas pelo procedimento de alisamento que ele faz. O termo “cabelo frito” é comum no linguajar popular para falar de pessoas que, realizando esse procedimento estético, passaram do ponto e deixaram os fios de cabelo queimar através de um processo químico ou do simples uso de uma chapinha.
Segundo o áudio, o jogador do Flamengo estaria perguntando, em seu condomínio, quem o teria apelidado dessa forma, buscando tomar medidas judiciais contra o crítico — que não tem nenhuma obrigação em achar o cabelo do jogador do Flamengo bonito. É, claramente, ir além dos limites do razoável considerar que o apelido “cabelo frito” seria uma espécie de racismo, tendo em vista que pessoas brancas também podem ter o “cabelo frito”, isto é, queimado.
A milícia identitária, defensores de uma política antipopular, autoritária e que está perdendo a força mundialmente, busca qualquer motivo para defender a censura, em mais uma política autoritária.