Adil Jabir foi um dos mais destacados intelectuais palestinos do século XX, com uma trajetória que atravessa o jornalismo, a educação, a administração pública, a pesquisa acadêmica e a militância nacional. Nascido na cidade portuária de Jafa, era o filho mais velho de Aref Adil Jabir e Zakia Abdullah al-Imam, bisneta de Ahmad al-Jazzar, o famoso governador otomano de Acre e defensor da Palestina contra as invasões napoleônicas. Cresceu em uma família numerosa, com seis irmãos, e em uma casa que unia tradição, erudição e propriedade fundiária — seu pai era dono de cerca de 100 dununs de pomares de laranja em Yibna, ao sul de Jafa.
Sua formação escolar começou com o xeque Ahmad al-Saʿati e seguiu na escola Rushdiyya, terminando os estudos secundários em 1905 no Collège des Frères de la Salle, instituição católica de ensino francês em Jafa. A partir daí, sua educação o levou a Istambul, onde ingressou no Instituto Francês de Comércio, e depois à Universidade de Genebra, na Suíça, onde completou estudos em ciências sociais e economia. Durante as férias de verão, voltava à Palestina, mantendo forte vínculo com sua terra natal.
Em 1906, à época da restauração da constituição otomana, Jabir fundou, ao lado de Martin Alonzo, o jornal al-Taraqqi (O Progresso), primeiro periódico de Jafa, dedicado à discussão de ideias modernas e ao desenvolvimento nacional árabe. Embora tenha durado apenas seis meses, o jornal representou um marco histórico no desenvolvimento da imprensa na Palestina otomana, sendo uma das primeiras expressões organizadas de opinião pública local.
Em 1912, durante suas férias em Jerusalém, Jabir conheceu o ex-sultão de Marrocos, Moulay Abdel Hafiz, que havia abdicado do trono e se dirigia à Meca. Impressionado pela fluência de Jabir no francês, o ex-monarca o convidou para ser seu secretário pessoal durante a peregrinação. Concluído o hajj, ofereceu-lhe uma vida de prestígio no Marrocos — com salário elevado, uma residência e cargo de confiança —, mas Jabir recusou e retornou à Palestina, preferindo dedicar sua vida à causa nacional.
De volta à Palestina, iniciou sua carreira como professor nas escolas Dusturiyya — fundada por seu amigo Khalil al-Sakakini — e Salahiyya, dirigida pelo reformista egípcio Abdel Aziz Gawish. Através do ensino, Jabir atuava diretamente na formação das novas gerações da juventude palestina. Nesse período, participou da Jamʿiyyat al-Funun (Associação das Artes), que promovia reuniões em casas e clubes, nas quais se discutiam os temas da unidade nacional, superação do sectarismo, emancipação das mulheres e independência cultural.
Durante o Mandato Britânico, entre 1918 e 1921, Jabir assumiu a vice-direção do Departamento de Educação e passou a dirigir temporariamente a Escola Normal de Professores. Escrevia regularmente para o jornal Lisan al-ʿArab (A Língua Árabe), e traduziu trechos de uma obra do sionista Max Nordau sobre identidade nacional, publicando-os no jornal Lisan al-Hal com o título Ruh al-Qawmiyya (O Espírito do Nacionalismo), entre março e abril de 1922 — material utilizado para fins didáticos e críticos.
Em 1923, foi nomeado pelo Conselho Supremo Muçulmano diretor da Biblioteca e Museu da Mesquita de al-Aqsa, instituição inaugurada naquele mesmo ano. Organizou o acervo e redigiu folhetos explicativos, inclusive um guia para turistas sobre a Mesquita de Ibraim, em Hebron. Também representou a Palestina em conferências sobre arqueologia no Cairo, nos anos de 1921 e 1924.
Ainda em 1923, Jabir foi convidado a lecionar economia e ciência política nas Palestinian Law Classes, programa jurídico estabelecido pelos britânicos em Jerusalém. No campo do jornalismo, fundou em 1930, com Khair al-Din al-Zirikli e Khaled al-Duzdar, o jornal diário al-Hayat, editado em Jerusalém. Embora a publicação tenha durado menos de dois anos, ela marcou nova etapa de sua intervenção no debate público. Posteriormente, integrou o conselho editorial da revista al-Iqtisadiyyat al-ʿArabiyya (A Economia Árabe), ao lado de Fuad Saba, entre 1935 e 1937.
Durante a Segunda Guerra Mundial, tornou-se colaborador regular da rádio Palestine Broadcasting Service, então dirigida em sua seção árabe por Ajaj Nuwayhed. Ministrava palestras literárias e científicas no rádio, alcançando uma audiência ampla entre os árabes da Palestina.
Jabir possuía uma das mais vastas bibliotecas privadas de Jerusalém, localizada em sua residência no bairro de Baqʿa. Sua coleção rivalizava em tamanho e importância com as bibliotecas de nomes como Nuwayhed, Khalil Baidas e Khalil al-Sakakini. Com a ocupação sionista de Jerusalém Ocidental em 1948, sua casa e biblioteca foram saqueadas e confiscadas — como aconteceu com milhares de palestinos expulsos pela força durante a Nakba.
Forçado ao exílio, Jabir refugiou-se no Cairo, onde foi admitido na Academia da Língua Árabe, ao lado de seu amigo Sakakini. Em 1951, mudou-se para a Jordânia e foi nomeado senador. Com a saúde debilitada, retirou-se para Jericó, onde faleceu em 19 de dezembro de 1953. Seu funeral teve honras de Estado, com discurso do então primeiro-ministro jordaniano, Fawzi al-Mulki.
Adil Jabir integrou o Conselho Municipal de Jerusalém entre 1939 e 1945, participou do conselho consultivo do Departamento de Antiguidades e era membro honorário de institutos científicos e antropológicos da Suíça. Foi reconhecido em vida como um dos grandes homens de letras da Palestina: educador, economista e filólogo.





