Arary Galvão Oliveira

Militante do PCO e professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

Coluna

Adeus, Natália

“É muito grande o pesar, mas na luta revolucionária iremos encontrar o apoio entre os companheiros e manter acesa a história da nossa companheira”

Tínhamos 15 anos na ocasião em que nos conhecemos. Começou na militância do movimento secundarista; depois, estivemos juntos na militância na UEE e na UNE. Quando enfrentávamos as dificuldades e vicissitudes no movimento estudantil da Unimep — que já vivia o início da sua crise —, tivemos várias vezes o apoio de Natália, entre outros companheiros da AJR. Eles iam de São Paulo a Piracicaba numa Kombi velha, trazendo panfletos, camisetas e cartazes que, produzidos em São Paulo, eram muito mais baratos. Panfletamos, fizemos assembleias e reuniões tensas e intermináveis para ajudar a dirigir um movimento que, há mais de 20 anos, já antecipava que a única saída para a Unimep era sua estatização. Acompanhei também a militância dela na USP, as ocupações e as perseguições pelas quais passou.

​No nosso partido, pude acompanhar o processo de estruturação do PCO por meio da Sorg e seu decidido trabalho. Tivemos eleições, e muitas, e muito mais lutas: da guerra no Iraque à defesa da Palestina, por uma candidatura operária do PCO, enfrentando as impugnações, passando pela luta contra o golpe e em defesa da liberdade de Lula.

​Neste ano, perdi minha mãe para o câncer e vivi de perto a dramática lentidão com que o tratamento é realizado diante da velocidade da doença. Agora, perco uma companheira inestimável e uma amiga querida, daquelas que, mesmo sem contato frequente, nos proporcionam o conforto de saber que, acontecesse o que quer que fosse, ela estaria ao lado — fosse na redação do JCO, num palanque ou numa trincheira.

​A história da classe operária é pródiga em exemplos de amizade e companheirismo; não por acaso, seus intelectuais, Marx e Engels, comprovam o espírito de cooperação e amparo. Trótski, ao se manifestar diante da morte de Lênin, disse: “agora a nossa responsabilidade é maior”. É muito grande o pesar, mas na luta revolucionária iremos encontrar o apoio entre os companheiros e manter acesa a história da nossa companheira Natália na luta pela construção do partido revolucionário e pela emancipação da classe operária.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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