Florestan Fernandes Jr. publicou um artigo nesta quarta-feira (26), no Brasil247, cujo título é O acerto de contas que a República devia à história. Trata-se de uma fantasia, não existe nenhum “acerto de contas”, longe disso.
Muito se tem ouvido de punição, isso desde o fim da ditadura militar. Mas o fato é que nada aconteceu de importante ou efetivo, pois os militares continuam com as armas e a esquerda não tem como impor suas vontades, ou levar torturadores para as barras dos tribunais.
No Brasil a maioria da esquerda é carola, para essa gente, falar em armas é pior do que duvidar da virgindade de Maria. O máximo que sabem fazer é uma guerrinha moral, que piorou com o advento do identitarismo, uma gente que só pensa em grana e que costuma disfarçar sob a capa de uma hipotética “reparação histórica”.
Em seu primeiro parágrafo, Fernandes Jr. escreve o seguinte: “confesso que como muitos brasileiros, comemorei a prisão dos condenados do núcleo 1 da trama golpista. Para quem viveu a ditadura militar, esse momento representa, de certa maneira, um acerto de contas com a História da República. Afinal, pela primeira vez oficiais de alta patente foram condenados e presos pelo crime de alta traição ao país”.
Na verdade, o golpe é ficarem repetindo que havia uma “trama golpista”. Sobre essa farsa se montou um julgamento relâmpago que colocou na prisão Jair Bolsonaro e algumas figuras ligadas a ele.
O julgamento foi tão “idôneo”, que o juiz-relator-investigador-interrogador, Alexandre de Moraes, figurava como vítima no mesmo processo. Mas, claro, ninguém vai duvidar que esse paladino da democracia tenha agido com total neutralidade e isenção.
Segundo o jornalista, “todos os militares detidos nesta terça-feira (25/11) pertencem a uma corrente majoritária das Forças Armadas, que nega a existência da ditadura no Brasil. Ideologicamente ligados à extrema direita, defendem modelos autocráticos de Estado. Augusto Heleno, por exemplo, foi Chefe de Gabinete e assessor direto do então ministro do Exército, General Sylvio Frota, um dos líderes da linha-dura do regime, grupo responsável por perseguições, torturas e assassinatos de opositores. Entre as vítimas, estavam o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manoel Fiel Filho”.
É bem provável que não exista um único militar de alta patente que assuma que houve uma ditadura militar no Brasil. Todos dizem que tivemos uma “revolução”.
O general Augusto Heleno, aquele que Lula mandou para o Haiti em seu primeiro mandato, é tudo isso aí que Florestan escreveu, mas foi acusado e julgado por outros motivos. Não houve, portanto, um acerto de contas.
Um pouco de História
Florestan escreve que “Em março de 1977, Frota tentou, sem sucesso, derrubar o general presidente Ernesto Geisel, num episódio que quase mergulhou o país em um estado de horror absoluto”. Aqui seu texto fica completamente confuso. O que seria melhor, defender o ditador Geisel contra o golpista Sylvio Frota? Nunca saberemos.
Em seguida, o jornalista diz que “décadas depois, no primeiro turno da eleição de 2018, Eduardo Bolsonaro afirmou que para fechar o STF bastaria ‘um soldado e um cabo’. No 8 de janeiro de 2023, mobilizaram muito mais do que isso e fracassaram”.
Eduardo Bolsonaro não é conhecido por sua inteligência. Todos poderiam se perguntar: Para que fechar o Supremo se essa corte colocou Lula ilegalmente na cadeia e pavimentou o caminho que seu pai, Jair Bolsonaro, vencesse as presidenciais? Ele deveria agradecer.
Por falar em 2018, um general, Villas-Bôas Corrêa, ameaçou colocar os tanques nas ruas se o STF não prendesse Lula. Nem é preciso dizer que foi prontamente obedecido. Aliás, só faltava um voto, pois metade dos ministros já tinha votado contra o habeas corpus para Lula.
Esse evento não foi uma “trama golpista”, e sim um golpe de fato, mas o STF não teve vontade de punir ninguém, uma vez que fazia parte da coisa.
Segundo o articulista, “a resposta a Eduardo Bolsonaro veio no rigor da lei. Diferentemente de 1964, hoje basta a ação do Poder Judiciário e de uma Polícia Federal autônoma, que cumprem as determinações constitucionais com firmeza e responsabilidade”.
É curioso, pois o rigor da lei não serviu, não em 1964, mas há pouco, em 2018. De que forma estava agindo o Poder Judiciário à época? Servia ao golpe.
A Polícia Federal era tão “autônoma”, que em 2016, a mando da CIA, investigava a então presidenta em exercício, Dilma Rousseff.
Foi essa polícia que agiu coordenada com a grande imprensa para demonizar o PT. Foram seus agentes que tripudiaram em cima de Lula no velório de seu neto, bem como ameaçaram jogá-lo pela janela, enquanto voavam para prisão de Curitiba.
Farsa judicial
Florestan Fernandes Jr. diz que “apesar do avanço da extrema direita, que elegeu governadores e construiu uma bancada expressiva no Congresso Nacional, a democracia se impôs. Nenhum dos condenados pode questionar o devido processo legal, pois todos os direitos foram assegurados e as defesas atuaram plenamente”, e isso é uma completa falsificação da realidade.
As pessoas foram julgadas já na última instância. Os advogados de defesa reclamaram que não tiveram acesso integral ao processo, e quando receberam o material não havia tempo hábil para montar a defesa. Se bem que, é patente, não havia defesa possível, pois a sentença já era conhecida desde o início do “julgamento”.
O devido processo legal foi pisoteado, tem gente condenada por sentar em uma determinada cadeira ou passar batom em uma estátua. Pessoas que deveriam ter tido seus casos tipificados e remetidos à primeira instância foram julgadas sem que haja instâncias recursivas. É uma verdadeira aberração jurídica que não fica devendo nada para o Mensalão e a Lava Jato.
Novela da Globo
O brasileiro está acostumado com as novelas da Globo, onde os bandidos são desmascarados, vão para a cadeia, e os bonzinhos se casam no final.
Na mesma linha, Florestan diz que “resta agora que a Justiça avance sobre os foragidos e investigue com a mesma firmeza os articuladores civis do golpe”. É isso, a “esquerda” brasileira agora confia na justiça.
Maquiando golpistas
O jornalista, que já chegou a dizer que o STF é o último bastião de defesa da democracia, fala de maneira elogiosa de um dos mais ditatoriais ministros da corte, para o qual, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, “agem de ‘maneira covarde e traiçoeira’”. De que maneira agiu Moraes quando votou pela prisão de Lula? Talvez o senhor Florestan Fernandes Jr. possa nos responder.
Em seu último parágrafo, Fernandes Jr. escreve que “a história finalmente começa a cobrar sua fatura. Não é vingança, é o restabelecimento da verdade, da ordem constitucional e da dignidade republicana. Que este momento sirva como marco para encerrar de vez o ciclo de tutelas militares, rupturas e ameaças. A democracia brasileira, tantas vezes ferida, mostra mais uma vez que é capaz de se levantar”.
É quase inacreditável, pois os protagonistas dessa história são o STF e Alexandre de Moraes, golpistas de primeira hora.
Em qual planeta aqueles que pisotearam, e pisoteiam, a Constituição quereriam restabelecer a verdade, a ordem constitucional e a dignidade republicana? Trata-se de um delírio.
Isso de encerrar ciclo de tutelas militares é uma piada. O STF obedeceu caninamente os militares em 1964 e também em 2018. Apesar de ter prendido três ou quatro por pressão do imperialismo.
A democracia brasileira continua sendo ferida, pois o regime se fecha mais e mais. Não se pode falar mais nada, e a truculência do Estado já mostrou os dentes, como se viu na última chacina no Rio de Janeiro.





