No domingo (26), foi realizada mais uma Análise Política da Semana, apresentada pelo presidente do PCO, Rui Costa Pimenta. O programa que vai ao ar tradicionalmente aos sábados na Causa Operária TV teve de ser adiado em um dia devido a problemas familiares de Pimenta. O programa transmitido diretamente da Universidade de Férias do PCO, no entanto, foi memorável. Tratou da liberdade de expressão, da vitória do Hamas na Faixa de Gaza, da política errada da esquerda em relação ao trumpismo, dentre outros temas.
Rui, como de costume, começou a análise abordando a questão da liberdade de expressão. Ele destacou o último ataque realizado pelo governo Tarcísio: “o presidente do Conselho de Direitos Humanos comparou o secretário de Segurança de Tarcísio com Hitler e foi condenado a 4 meses de detenção. O secretário Derrite é responsável por um grande massacre no litoral paulista, e esse é o motivo da comparação. Mas, agora, no Brasil, não se pode falar mais nada; não se pode falar de nazismo e de Hitler”.
Seguiu comentando o caso do PCO: “nós perdemos o processo em 1ª instância para Kim Kataguiri por causa disso. Falamos que ele era nazista, pois queria bloquear ajuda humanitária às vítimas do genocídio em Gaza. Mas não se pode falar que é nazismo. Segundo a juíza, não podemos falar que é nazismo porque isso afeta a reputação de Kim Kataguiri. Ela nos condenou a pagar 10 mil reais. Será que a reputação de Kataguiri vale 10 mil reais? Eu não pagaria nem 10 reais”.
E concluiu: “não se pode falar de Kataguiri, de Derrite, o secretário de Segurança, de Netanyahu, etc. Não se pode falar porque as pessoas não gostam de ser comparadas com Hitler. Gostam de fazer coisas violentas e criminosas, mas não querem ser comparadas com Hitler”.
A esquerda e o trumpismo
Um dos grandes destaques da análise foi a questão da submissão da esquerda ao imperialismo, que fica clara em sua posição em relação à Trump. Ele começa tratando de qual deveria ser a posição da esquerda em relação ao governo dos EUA: “mudou o governo dos EUA: saiu o Biden e entrou o Trump. Deveríamos dizer: saiu um criminoso e entrou outro criminoso. O governo dos EUA é a mais perfeita forma de crime organizado. Os EUA são o país mais corrupto do mundo. Como eles dominam um grande número de países, são a maior fonte de corrupção que existe. Como se faz para um país entregar suas riquezas a baixo custo? Corrompendo as autoridades políticas”.
E a explicação continua: “o imperialismo é, em sua essência, uma organização criminosa. Nós conhecemos as façanhas dos países coloniais. Na época do imperialismo, isso ainda se intensificou. Se pegarmos as guerras promovidas pelo imperialismo, vamos contabilizar cerca de meio bilhão de pessoas mortas. É uma organização de poder devastador, responsável por crimes extraordinários contra a humanidade. Todas as operações militares sempre foram criminosas, ao longo de todo o século XX”.
Pimenta então faz a sua consideração política sobre a conjuntura da esquerda: “a subida de Trump ao governo vai levar à direitização generalizada da esquerda. Muitos poderiam pensar que, se a situação vai para a direita, a oposição iria mais para a esquerda. Não é assim que funciona a luta política. Quando Trump entra no governo, a esquerda vai ainda mais para a direita. O que ocorre é uma verdadeira enxurrada de apologia ao imperialismo. Trump seria o único monstro, enquanto todos os outros seriam tratados como santos.
Esses problemas vão levar a esquerda ao colapso. Eles não têm noção. A chamada luta contra a extrema direita não vai ajudar em nada. Agora eles denunciam a extrema direita e acreditam que isso os tornará menos submissos. A tendência geral, no entanto, é não travar luta nenhuma, absolutamente nada — é só folclore. É como o episódio da saudação nazista de Elon Musk: como se, no fundo, todos não fossem nazistas”.
E termina com um deboche e alto nível: “nesse momento, surgem os heróis esquisitos: Reinaldo Azevedo, Janones, entre outros. Isso demonstra que não há luta, apenas folclore. Agora a propaganda gira em torno da presidenta do México, que está em guerra verbal contra Trump. Eles acreditam que é um duelo de palavras, por isso são a favor da censura”.
Infelizmente, diante do avanço da extrema direita a esquerda apenas se acovarda e se esconde detrás de inimigos ainda mais perigosos, o imperialismo democrático de Biden, Macron e do PSDB.
A vitória gigantesca do Hamas
Outro tema com muito destaque foi a análise sobre a vitória do Hamas em Gaza e como a esquerda pequeno burguesa perdeu qualquer resquício de política revolucionária. A vitória do Hamas foi tão espetacular que vale transcrever a citação completa:
Segue o texto revisado com as correções de ortografia e ajustes de fluidez:
“O que o Hamas fez na Faixa de Gaza foi uma vitória difícil até mesmo de dimensionar. Para entender o que aconteceu, é preciso conhecer a história desse conflito, mas também a história de outros conflitos.
O exército de ‘Israel’ foi derrotado duas vezes: a primeira no Líbano, em 2000, e a segunda agora em Gaza. Só de dizer isso, podemos dimensionar o que estamos falando. É o exército mais bem armado do mundo, apoiado por todos os países imperialistas, por vários países dominados pelo imperialismo, pelo Egito, pela Jordânia e agora até pela Síria, seus vizinhos. Até o regime político libanês apoia ‘Israel’. Quem se opõe a isso é o Hezbollah. Eles recebem bilhões de dólares em armas, e todas as operações militares são organizadas por um enorme complexo de espionagem e inteligência mundial.
E não estamos falando do exército de um país, mas de uma organização do imperialismo mundial. O Hamas estava lutando contra essa organização riquíssima, composta por Estados poderosos. O conflito durou 15 meses, e o imperialismo declarou que acabaria com o Hamas, mas não chegou nem perto. Os jornais israelenses, ao verem a manifestação de força do Hamas na Faixa de Gaza, perguntaram: ‘O que os soldados ficaram fazendo esse tempo todo que nem conseguiram diminuir a força do Hamas?’ Eles libertaram quatro mulheres das forças armadas israelenses, apresentadas diante de um batalhão inteiro do Hamas.
Lutando contra um inimigo desse tamanho, com esse poder e esses recursos, durante 15 meses, o imperialismo não conseguiu impor uma derrota à resistência armada. Pensei em algum precedente histórico para essa vitória, mas não consegui encontrar nada. Para ser marxista, é preciso conhecer a luta dos povos e dos trabalhadores, mas o que vimos na Faixa de Gaza é inacreditável. É quase sobrenatural. Eles estão confinados em uma faixa de 300 km², praticamente uma cidade, onde quase todos os prédios foram destruídos, civis foram mortos em grande número, e, mesmo assim, o imperialismo não conseguiu derrotar a resistência, em particular o Hamas.
Quando o Vietnã ganhou a guerra, eu tinha 18 anos. Achei aquilo a coisa mais espetacular que já havia acontecido — e, de fato, foi espetacular. Mas o Vietnã não era uma faixa de 300 km²; eles tinham um país, tinham um Estado e foram apoiados pela China e pela URSS (mesmo que de forma limitada). Já o Hamas não tinha nada disso. Se a vitória do Vietnã foi espantosa, a determinação do Hamas é inacreditável.
Eles tiveram apoio do Hezbollah, do Iêmen e do Irã, mas esse apoio sempre foi indireto. Não era possível enviar pessoas ou material para o Hamas, já que o bloqueio da Faixa de Gaza era absoluto. Eu até fico imaginando como isso foi possível. As pessoas precisavam comer, precisavam de munição, e, mesmo assim, mantiveram os combates o tempo todo, sem interrupção.
O mais impressionante é que o governo fascista e criminoso de Netanyahu aceitou interromper o combate. Isso é um reconhecimento da derrota. No Líbano, eles tentaram ocupar o país e não conseguiram. Em Gaza, fizeram um acordo para retirar as tropas, aceitaram a troca de prisioneiros e consentiram em permitir a entrada constante de ajuda humanitária — 600 caminhões por dia.
Não é apenas uma derrota; é uma derrota humilhante.”