Em texto publicado pela Folha de S.Paulo, o articulista André Borges afirma que os protestos contra a PEC das Prerrogativas representaram a volta do “poder das ruas” e o enterro de um “esquema mafioso” que teria tomado conta da Câmara dos Deputados. Segundo o colunista, “foi uma reação imediata e esperada de qualquer cidadã ou cidadão que ainda guarda dentro de si um mínimo de bom senso e indignação”. Essa descrição, no entanto, nada tem a ver com a realidade: os atos foram convocados pela rede Globo e articulados por ONGs financiadas pelo imperialismo, funcionando como fachada para pressionar o Senado a arquivar uma medida democrática aprovada pela Câmara.
Borges insiste que os atos não deveriam ser vistos como coisa “de esquerda ou de direita”, mas como “reação de cidadãos que guardam um mínimo de bom senso e indignação”. Na sua versão fantasiosa, foi o povo, em estado de pureza cívica, quem teria derrotado a proposta.
Mas a própria organização dos atos desmente essa história. Quem convocou as manifestações foram artistas ligados à rede Globo, como Caetano Veloso e Paula Lavigne, em parceria com organizações não governamentais (ONGs) mantidas por financiamento internacional. Longe de serem expressão da iniciativa popular, foram mobilizações artificiais, moldadas para criar um clima de pressão política sobre o Senado. Tanto é que a própria Paula Lavigne declarou depois que não eram atos “da esquerda”.
Ao descrever a PEC como “esquema mafioso” e “plano infame”, Borges não apresenta uma análise política, mas apenas repete a campanha caluniosa fabricada pela imprensa burguesa. A proposta, chamada de “PEC da Bandidagem” pela Globo, era na verdade a restauração de um direito democrático consagrado na Constituição de 1988: a imunidade parlamentar, que exige autorização do Legislativo para processar deputados e senadores. Esse mecanismo foi criado justamente para impedir a perseguição política e proteger a independência do Parlamento.
Chamar esse direito democrático de “mafioso” é inverter a realidade: a verdadeira máfia é a do Judiciário golpista, que passou a decidir quem pode ou não ser candidato, quem pode ou não ter mandato, e que tem atuado como um instrumento direto do imperialismo.
O artigo de Borges está a serviço de uma operação política muito clara: apresentar as manifestações patrocinadas pela Globo como expressão legítima da “democracia” e, ao mesmo tempo, transformar a Câmara dos Deputados — instituição mais representativa do país, com mais de 500 parlamentares eleitos — em ninho de “esquemas mafiosos”.
Segundo ele, “os protestos conseguiram antecipar o enterro do plano no Senado”, como se o Senado tivesse obedecido à voz popular. Na verdade, o Senado apenas atendeu à pressão da imprensa e do STF, que atuaram como árbitros da política nacional, passando por cima de uma decisão tomada pela maioria esmagadora da Câmara. Borges não só oculta esse fato como o distorce, exaltando uma vitória do Judiciário golpista e do imperialismo sobre o Parlamento.
Borges ironiza a direita bolsonarista, dizendo que ela ficou “no sofá da sala” e que só foi capaz de reclamar da presença de artistas nos atos. O que o colunista omite é que, do outro lado, toda a esquerda oficial embarcou de corpo e alma na farsa da Globo. PSOL, PCdoB e até setores do PT comemoraram a mobilização como uma “primavera brasileira”, repetindo a linha da imprensa golpista.
Ao afirmar que “a rua é pública” e que os protestos teriam “reaglutinaram um sentimento esfarelado”, Borges dá roupagem de epopeia democrática a um movimento que nada mais foi do que uma operação de revolução colorida em pequena escala. O objetivo não foi defender a democracia, mas sim reforçar o poder do Judiciário e do imperialismo contra o Parlamento e contra qualquer resquício de soberania popular.





