Universidade Marxista

A teoria marxista da Revolução

Na primeira aula do curso da 53ª Universidade Marxista, Rui Costa Pimenta explica por que um partido revolucionário deve ter uma teoria da revolução

O Partido da Causa Operária (PCO) deu início, no último dia 6 de julho, à sua 53ª Universidade de Férias, que ocorre na Estância Primavera, em Sorocaba. O curso, que se estenderá até o dia 13 de julho, tem como tema “A teoria marxista da revolução e a situação atual”, e sua primeira aula foi ministrada pelo Presidente Nacional do Partido, Rui Costa Pimenta, assim como será o restante do curso.

A aula inaugural de Pimenta começou sublinhando a importância crucial da teoria da revolução. “A teoria da revolução não se trata de uma tese a ser provada, mas de um fato comprovado”, afirmou Pimenta. Ele prosseguiu destacando que “um partido político que não tem uma teoria da revolução, uma doutrina da revolução, logicamente não pode ser um partido revolucionário”.

Essa falta, segundo o dirigente, é uma realidade preocupante na esquerda atual. “O que nós observamos hoje no Brasil e grosso modo internacionalmente é que as organizações da esquerda dita revolucionária, comunista, sejam elas de filiação stalinista, vamos dizer assim, ou outra, não têm de fato uma teoria da revolução. Isso parece ser uma ciência que se perdeu pelo caminho”, pontuou.

No cenário brasileiro, a situação é ainda mais grave: “boa parte da esquerda nem sabe o que é e por que teria que ter uma teoria dessa natureza. Eles pensam assim: nós somos revolucionários, a classe operária vai fazer a revolução e pronto”.

O percurso da teoria da Revolução: de Marx à Revolução Russa

Pimenta delineou o percurso do curso, que abordará a concepção da revolução antes de Marx, a formulação da “revolução permanente” pelo próprio Marx e o desenvolvimento dessa teoria no que ele considera ser o “grande laboratório da teoria da revolução”: a Revolução Russa de 1917. “O maior teste sobre as questões ligadas à revolução foi a Revolução Russa de 1917, que apresentou de maneira clara, desenvolvida, científica, a comprovação das teses marxistas”, explicou. Ele ressaltou que “o marxismo é uma dinâmica entre teoria e prática”, onde a teoria deve passar pelo teste da prática, e a Revolução Russa foi a prova cabal.

Um dos pontos centrais da aula foi a análise de um prefácio do livro de Marx, “Introdução da Crítica da Economia Política“. Pimenta mergulhou na distinção marxista entre “política” e “sociedade civil”. “A gente fala muito de política, mas o que é política? É tudo aquilo que diz respeito ao Estado”, definiu.

Em contrapartida, “a sociedade civil é basicamente a sociedade econômica, aquela parte que não é o Estado, que não é política”. A essência do pensamento de Marx, segundo Pimenta, reside na primazia da economia: “as relações jurídicas têm que ser explicadas pela sociedade civil, e não por aquilo que as pessoas pensam. Por aquilo que as pessoas fazem no dia a dia”.

Ele enfatizou: “todos os fenômenos que existem na sociedade são causados pela economia. A relação entre os fenômenos todos da sociedade pode ser direta ou indireta, mas tudo está relacionado com a economia. A anatomia da sociedade é a economia política”.

A inevitabilidade da Revolução e a determinação social

O presidente do PCO também desmistificou a ideia de que a teoria marxista seria um dogma. “O marxismo não é uma teoria dogmática, que substitui a análise dos fatos”, salientou. Ele é, na verdade, “um instrumento para compreender a realidade”.

A discussão avançou para a natureza social do ser humano, afirmando que a existência individual é impossível fora das relações coletivas. “O ser humano individual é impossível. Nós tivemos aí vários casos que foram analisados, alguns casos, de crianças que os pais perderam a criança, e a criança foi criada no meio dos animais (…) Quando essas crianças cresceram elas não conseguiam se desenvolver como seres humanos. Não eram verdadeiros seres humanos”, ilustrou.

As relações sociais são “necessárias” e “independentes da vontade”, ou seja, são obrigatórias e inevitáveis. Pimenta desafiou a ideia de livre-arbítrio individual: “não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência.” Ele continuou: “você não é o que pensa que é, você pensa aquilo que você é. Aquilo que você pensa depende daquilo que você é na economia da sociedade”.

Finalmente, Pimenta abordou a complexidade da inevitabilidade da revolução, que ele vê não como uma escolha, mas como uma compulsão. “Se é inevitável, por que eu lutaria pela revolução? Pelo mesmo motivo que você levanta da cama de noite para pegar um copo d’água porque você está com sede”, comparou.

A revolução acontece “porque as pessoas são compelidas à revolução. A revolução é uma força que toma conta dos seres humanos”. Ele citou a luta palestina como um exemplo contemporâneo dessa força: “a vontade dos soldados do Hamas de matar os sionistas não é uma questão de escolha, é quase um fogo que consome a pessoa por dentro”.

Encerrando a aula, Pimenta reiterou que a ação revolucionária não é uma decisão fria e calculada, mas uma incontrolável necessidade diante da inviabilidade da vida sob certas condições. “Eu comecei a militar na época da ditadura (…) eu tinha vontade de tocar fogo no mundo”, revelou. “No final das contas, a coisa mais revolucionária do mundo é a classe dominante”, concluiu, ressaltando que, em um mundo “não raciocinado”, a revolução “passa por fora de nossa decisão”.

A 53ª Universidade de Férias do PCO, que acontece até o dia 13 de julho em Sorocaba, promete aprofundar esses e outros temas cruciais para a compreensão da teoria marxista da revolução, convidando os participantes a uma imersão na análise da situação atual sob uma perspectiva revolucionária.

Além disso, é possível acompanhar o curso de forma remota pelo sítio unimarxista.org.br. Ainda há tempo de se inscrever e acompanhar esta aula, que está salva na plataforma, e as próximas, ao vivo.

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