Nos últimos anos, o uso pelo Marrocos de programas de espionagem israelenses, especialmente o “Pegasus”, desenvolvido pelo grupo NSO, gerou grande polêmica. O “Pegasus” é um dos softwares de espionagem mais avançados, permitindo acesso a mensagens, fotos, chamadas e localização de dispositivos sem o conhecimento do usuário.
Relatórios de organizações de direitos humanos revelaram que diversos ativistas e jornalistas marroquinos foram alvos do “Pegasus”. Entre eles está a ativista saariana Aminatou Haidar, cujo telefone teria sido invadido, além de seis outros ativistas marroquinos que entraram com uma ação judicial contra a empresa desenvolvedora do programa.
Um dos casos mais marcantes envolve o jornalista Omar Radi, conhecido por suas investigações sobre corrupção e direitos humanos. Organizações internacionais denunciaram que seu telefone foi hackeado desde 2019, o que gerou fortes reações. Posteriormente, Radi foi preso em dezembro de 2020 sob acusações de “espionagem” e “agressão sexual”, acusações que ele negou, alegando que sua prisão foi uma represália por seu trabalho investigativo. Em março de 2022, a Justiça marroquina manteve sua condenação a seis anos de prisão.
Relatos indicam que o Marrocos utilizou o “Pegasus” para monitorar centenas de números de telefone na Espanha, incluindo políticos, jornalistas e ativistas de direitos humanos. Também há alegações de que milhares de telefones na Argélia foram espionados, entre eles os de altos funcionários políticos e militares, o que agravou as tensões entre os dois países.
O governo marroquino enfrentou duras críticas de governos e organizações internacionais, que o acusaram de utilizar o “Pegasus” para fins políticos. O caso foi debatido dentro da União Europeia, o que levou o Marrocos a rejeitar as acusações, alegando serem injustas. Na França, o país abriu processos contra veículos de imprensa que o acusaram de espionar figuras políticas, mas os tribunais franceses recusaram essas ações.
O caso gerou grande preocupação internacional sobre privacidade e direitos humanos, sendo visto como uma ameaça às liberdades fundamentais. Em meio a essa controvérsia, o ativista Fouad Abdelmoumni foi preso em outubro de 2024 após criticar o governo nas redes sociais, acusando-o de usar espionagem para fins políticos.
Esses acontecimentos evidenciam os desafios do uso de softwares de vigilância no Marrocos e o impacto na liberdade de expressão e nos direitos humanos na era digital.