53ª Universidade Marxista

A Revolução Russa e a teoria da revolução

A quinta aula do curso ministrado por Rui Costa Pimenta, nesta sexta-feira (11), abordou a formulação da teoria revolucionária a partir das experiências históricas

Na manhã desta sexta-feira (11), o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, ministrou a quinta aula do curso “A teoria marxista da revolução e a situação atual”. O tema central da exposição foi o desenvolvimento da teoria revolucionária a partir das grandes revoluções da história e, em especial, da experiência russa do século XIX e início do século XX.

Segundo Pimenta, a teoria revolucionária não é fruto da abstração, mas da generalização da experiência concreta: “A teoria nada mais é do que a generalização da experiência real”. Ele afirmou que o marxismo se desenvolve com as revoluções, e listou os principais marcos históricos dessa evolução: Revolução Francesa (1789), Primavera dos Povos (1848), Comuna de Paris (1871), primeira Revolução Russa (1905) e a Revolução de 1917.

O dirigente explicou que, após 1848, a revolução na Europa entrou em segundo plano, com o desenvolvimento do capitalismo até o início do século XX. Nesse período, afirmou, a própria discussão sobre a revolução também foi deixada de lado dentro do movimento socialista. “Essa é a época da famosa divisão entre o programa mínimo e o programa máximo”, disse, acrescentando que essa distinção foi adotada inclusive pelos fundadores do marxismo. “Quando nos aproximamos do século XX, os revolucionários voltam a discutir o programa máximo, pois a revolução está próxima”.

Sobre a Comuna de Paris, Pimenta afirmou que ela não alterou de maneira decisiva o panorama político, mas teve importância histórica. “A Comuna encerra o ciclo das revoluções burguesas”, declarou. Segundo ele, a partir de 1871 já não havia mais espaço para a ilusão de que a burguesia pudesse cumprir um papel revolucionário.

Na sequência, Pimenta tratou do papel da Rússia no desenvolvimento da teoria revolucionária. Ele destacou que a experiência russa passou a ocupar um lugar central na elaboração do marxismo. “A Revolução Russa não é um caso isolado. Ela influenciou revoluções na China, em vários países do mundo e até na Europa Ocidental”. Sobre a tentativa de separar o chamado “marxismo ocidental” da experiência russa, afirmou: “Isso é ilegítimo. A experiência russa tem caráter universal”.

O expositor afirmou que o Império Russo se tornou o elo mais fraco da cadeia imperialista mundial. Segundo ele, o país possuía uma monarquia autocrática, resquícios do feudalismo e uma classe operária que se desenvolvia rapidamente em meio à industrialização tardia. “Essas características impediram a política de colaboração de classes que predominava na França e na Alemanha”, observou. Ele também apontou que a Revolução Russa foi seguida por revoluções na Hungria e na Alemanha, o que demonstraria que não se tratava de um fenômeno isolado.

Pimenta citou o impacto da Revolução Francesa de 1789 e traçou um paralelo com a Revolução Russa de 1917. “O Partido Bolchevique estava isolado em 1917, mas em 1918 foi fundada a Terceira Internacional, e em poucos anos havia partidos comunistas em quase todos os países do mundo”, disse. Ele mencionou a fundação do Partido Comunista Brasileiro, em 1922, como parte desse processo.

A aula também abordou a origem do movimento revolucionário russo. Segundo Pimenta, o primeiro fato relevante foi a guerra contra Napoleão, em 1812, que mobilizou amplamente o povo russo e, apesar da vitória, abalou o regime czarista. “Toda grande mobilização de massas tem um caráter revolucionário”, afirmou. Em 1825, ocorreu o levante decembrista, promovido por oficiais do Exército que tentaram organizar um golpe de Estado após a morte do czar Alexandre I.

A partir de 1848, influenciada pelas revoluções na Europa, surgiu na Rússia a corrente conhecida como populismo (narodnismo). “O populismo russo nasce da intelectualidade e se baseia na ideia de que a Rússia não deveria seguir o caminho da Europa capitalista”, explicou. Segundo ele, os populistas viam a Rússia como detentora de um destino especial, ligado ao socialismo camponês. O movimento evoluiu do debate intelectual para a ação direta, com a formação de grupos como Terra e Liberdade e, posteriormente, o partido Vontade do Povo, que passou a adotar atentados contra autoridades como método de luta.

Pimenta relatou que o grupo Vontade do Povo foi responsável pelo assassinato do czar e quase matou outro. “Era um partido anarquista, influenciado pelo pensamento de Bakunin”, explicou. A repressão estatal levou à execução de seus membros ou ao exílio. Entre os que romperam com essa linha, destacou-se Jorge Plekhanov, que se opôs ao terrorismo não por rejeitar a violência, mas por considerar incoerente que anarquistas praticassem ações políticas.

No exílio, Plekhanov entrou em contato com o marxismo e escreveu O Socialismo e a Luta Política. Pimenta afirmou que Plekhanov elaborou o primeiro programa marxista russo e defendeu que a Rússia já atravessava um processo de desenvolvimento capitalista. “A discussão já não era se a Rússia ia passar pelo capitalismo, mas o que fazer diante do fato de que o capitalismo já estava se implantando”.

Segundo Pimenta, Plekhanov defendia que a revolução seria burguesa, mas que a classe operária deveria manter sua independência. “A burguesia é a burguesia, o proletariado é o proletariado. A revolução não é nossa ainda, mas devemos participar dela com nossas próprias bandeiras”, resumiu. A atividade do grupo de Plekhanov, centrada em propaganda, influenciou a nova geração marxista russa, incluindo Lenin.

Pimenta então apresentou a contribuição de Lênin ao debate. Segundo ele, Lênin partia do mesmo princípio da independência de classe, mas afirmava que a burguesia não teria condições de liderar a revolução. “Lênin disse que, se deixarmos a revolução nas mãos da burguesia, ela vai fracassar”. Como alternativa, Lenin propôs uma “ditadura democrática do proletariado e do campesinato”, expressão que, segundo Pimenta, designava a aliança dessas classes para cumprir as tarefas da revolução burguesa. “O democrático se refere às tarefas da revolução, não ao regime”, explicou.

Durante a exposição, Pimenta destacou que Lênin baseou suas formulações nos ensinamentos de Marx sobre 1848 e na observação da realidade russa. Ele afirmou que a tese era original, mas inteiramente marxista. “Lênin mostrou como aplicar o marxismo às novas condições. O marxismo é uma teoria viva”, disse.

A aula foi concluída com a análise da Revolução Russa de 1905. Pimenta afirmou que o levante surpreendeu os marxistas, pois revelou que a burguesia era totalmente contrarrevolucionária e mostrou o proletariado como sujeito político, com a formação dos conselhos operários. “Foi a primeira vez que o proletariado apareceu desenvolvendo suas próprias forças e sua organização de classe”, concluiu.

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