O artigo Precisamos saber quem pediu proteção contra a Polícia Federal em São Paulo, de Moisés Mendes, publicado no Brasil247 nesta segunda-feira (17), mostra o nível de desconexão com a realidade que certas figuras que se dizem de esquerda assumiram.
Mendes diz “precisamos”. Talvez o articulista tenha a ilusão de que a PF esteja sob controle da esquerda ou da presidência. Ou, pior, se esqueceu que essa polícia é mesma que investigou Dilma Rousseff quando ela ainda era presidenta do Brasil.
Os exemplos não param na ex-presidenta. A PF foi peça fundamental durante o Mensalão, na Lava-jato e no golpe de 2016.
Publicamos, no início de 2025, uma matéria (leia na íntegra) detalhando as ações da Polícia Federal envolvendo pessoas que de alguma maneira se opõem ao sionismo: Lucas Passos, Breno Altman, Muslim Abuumar, além do marroquino Abdelkrim Ennahi, conhecido como Karim.
Além desses casos, e do próprio PCO, chama a atenção o fato de Thiago Ávilla ter sido detido em novembro do ano passado no aeroporto ao retornar do Líbano. A PF queria saber onde esse brasileiro esteve e com quem falou. Por acaso a polícia age assim com quem visita “Israel”? A serviço de quem está a Polícia Federal?
Dormindo com o inimigo
Moisés Mendes escreve um texto no qual se apresenta como inconformado, diz que “é mais grave do que parece o plano a que Guilherme Derrite se dedica para amordaçar a Polícia Federal. Assim como é diversionista a versão que hipnotizou parte das esquerdas, segundo a qual Hugo Motta foi o inventor de Derrite como relator do PL Antifacção”.
O jornalista protesta, pois, segundo supõe, querem “amordaçar” a PF. Ou seja, o articulistas é daqueles que querem essa polícia com ainda mais poderes. Quer fortalecer outro aparato de repressão do Estado contra a classe trabalhadora.
Um dos problemas da maioria da esquerda é não enxergar a realidade de um ponto de vista marxista, não entende o que seja a luta de classes. Por isso, acaba acreditando que a polícia serve para combater o crime.
A esquerda pequeno-burguesa entrou na onda do combate ao “crime organizado”, o bicho-papão que inventaram para o aumento de leis ainda mais repressivas. Essas leis, por norma, servirão apenas para perseguir os movimentos populares.
Mendes questiona: “a pergunta que ele [Derrite] não responde, desde a apresentação do plano pró-facções, é a que um adolescente pode estar fazendo agora a um colega no colégio: por que atacar a Polícia Federal numa hora dessas?”. A direita não está atacando a PF, apenas quer manter a predominância dos governos dos estados no aparato de repressão. Enquanto a esquerda quer dar super poderes para uma polícia que claramente é controlada pela CIA e pelo Mossad.
Com a desculpa do combate ao crime organizado, a esquerda está executando o plano do imperialismo, o de transformar o Brasil em uma ditadura cuja missão é sufocar qualquer revolta popular.
Como sempre, Bolsonaro…
A visão desses setores direitistas da esquerda é unidimensional. Mendes quer saber “Quem do bolsonarismo, com nome e CPF, estaria ameaçado com o avanço das investigações da PF, principalmente na Faria Lima? Quem são, na real, os que precisam ser protegidos? Quantos são hoje?”. Esse jornalista escreve como se a PF não fosse bolsonarista. Pensa que o intuito de Tarcísio e Derrite (pré-candidato a governador de São Paulo) ficasse restrita a proteger bolsonaristas.
Foi no governo FHC que se iniciou a subordinação da Polícia Federal aos interesses do imperialismo por meio de acordos. Não existe contradição entre os interesses do grande capital e os interesses de Tarcísio, que é visto com bons olhos para substituir Lula.
O que a direita pretende é ter um controle maior sobre a repressão, enquanto a esquerda iludida entrega tudo de mão beijada para o imperialismo. Em nome de supostamente lutar contra a extrema direita, contra o bolsonarismo, estão dando poderes àqueles que prenderam Lula ilegalmente e pariram Bolsonaro.
Delírio
Moisés Mendes escreve que “a tentativa de eliminar a Polícia Federal da sua missão mais importante na atualidade é encarada por alguns setores, inclusive da imprensa, como parte do jogo da política. Não é. Não pode ser considerado um movimento normal”. Qual seria a missão mais importante da PF? Alguém acredita que é combater o crime ou a extrema direita?
O que não pode ser considerado movimento normal é a esquerda defender um aparato de repressão do Estado burguês. Fora isso, de onde esse jornalista tirou a ideia que a imprensa estaria de algum modo conivente com o “ataque” de Derrite à PF?
A grande imprensa trabalhou em conjunto com a Polícia Federal para perseguir o PT. Moisés Mendes não pode dizer que desconhece esse fato. Foram inúmeras diligências contra dirigentes petistas combinadas para que a Globo e demais órgãos da imprensa dessem os “furos” de reportagem com gente saindo algemada para a prisão.
Mendes, que não se cansa de defender Alexandre de Moraes, um dos ministros do STF que votou pela prisão inconstitucional de Lula, diz que “a extrema direita que pretende se livrar de Alexandre de Moraes – e que espera ter o controle absoluto do Senado para cercar o STF – tentou se livrar também da Polícia Federal”. E isso nem de longe pode ser levado a sério.
Dando asas à imaginação, o jornalista sustenta que “Tarcísio é chefe de Derrite. Os dois sabem que, aniquilando a PF e minando a atuação da Receita e, se possível, do Ministério Público, o serviço estará quase completo”. O jornalista crê que Tarcísio esteja em uma Cruzada para proteger alguém de dentro do bolsonarismo. Supõe, equivocadamente, que Tarcísio seja bolsonarista, e não apenas um aliado ocasional.
Fechando seu texto, que beira ao cômico, Mendes sugere que a PF vá atrás de Tarcísio, diz que “a própria Polícia Federal é desafiada a dar respostas à investida das facções políticas. É o que esperamos que aconteça. Precisamos dos nomes dos que se sentem ameaçados pela PF em São Paulo”.
“Precisamos”, assim o jornalista escreve. Alguém precisa alertar esse senhor que ele não apita nada na PF, a menos que ele seja um agente, com alguma importância, da CIA ou do Mossad.





