Oriente Médio

A PALESTINA NA ATUALIDADE: a heroica resistência de um povo

"Sob o pretexto de se redimir do holocausto judeu, o imperialismo ajuda a promover um novo holocausto, agora contra o povo palestino'

*Por David Pureza

Após o acordo de cessar-fogo assinado entre o Hamas e o Estado Sionista, mediado pelo Egito, Catar e EUA, em fevereiro de 2025, se encerra mais um capítulo da heroica resistência do Povo Palestino. Essa vitória, obtida a partir dos ataques de sete de outubro de dois mil e vinte e três, promovido pelo Movimento de Resistência Islâmica Hamas, expôs, não só o enfraquecimento do aparelho repressivo de Israel, como a eficiente ação perpetrada pelos palestinos, proporcionando a negociação de troca de cerca de 100 reféns israelenses por milhares de palestinos, encarcerados no pior sistema judiciário do mundo. Coloca o Hamas, dentre outros grupos de resistência, como o principal representante do povo palestino. Para além disso, essa ação chamou novamente a atenção de todo o mundo para a causa palestina, exposta de forma inequívoca nas palavras de seu líder Ismail Hanié: “… [o] Hamas, na Palestina, é um movimento de libertação nacional palestino que limita sua resistência e luta dentro da Palestina ocupada, e não fora da Palestina, e contra a ocupação israelense. Não é hostil a ninguém, mesmo que discordemos, mas foca na sua causa, no seu povo, no seu direito firme e inerente, dentro da terra abençoada da Palestina.” (PIMENTA, Org., p. 27)

Esse artigo dá continuidade a um acompanhamento da história da divisão da Palestina, a partir da publicação de uma edição comemorativa do Jornal do Brasil (JB), com uma compilação sobre o século XX. Essa publicação nos permitiu organizar uma linha do tempo que apresenta a ordem cronológica da usurpação das terras palestinas pelos sionistas e imperialistas. O artigo anterior se encerra na data de catorze de maio de mil novecentos e quarenta e oito com a análise da décima oitava manchete da publicação: “Criação do Estado de Israel, na Palestina”. Até ali foi possível compreender todas as ações feitas antes da formação do enclave sionista na Palestina. Seguiremos com os desdobramentos.

A primeira Guerra Árabe-Israelense

Manchete do dia 15/05/1948: “Liga Árabe declara guerra a Israel”

No dia seguinte a decisão de criação do Estado de Israel, divulgada em 14/05/1948, essa manchete informa a ocorrência de uma revolta por parte dos países árabes que não aceitaram a decisão da ONU, expressas na matéria da seguinte forma: “… ficaram ainda mais indignados quando os israelenses ocuparam uma faixa territorial muito maior do que a que lhes cabia pelo acordo da ONU.” Ou seja, nem as terras roubadas dos palestinos, doadas pela ONU, foi suficiente para satisfazer o apetite dos sionistas. Segue a matéria informando que: a: “Os árabes acabaram confinados a uma porção do território Centro-Leste – a partir de Jerusalém – e a uma pequena faixa de terra em Gaza. Insatisfeitos, começaram a atacar a região por todos os lados: pelo Leste, transjordanianos e iraquianos; pelo Norte, sírios e libaneses; pelo Sul, egípcios.” 

A divisão feita pela ONU estabeleceu para os judeus, que correspondiam a 30% da população, 53,5% do território, e ao Estado Palestino, com 70% da população, 45,4%. Desde janeiro de 1946 os britânicos, que controlavam a região, haviam fixado uma cota mensal de imigração de10.500 judeus, o que maximizou uma imigração que já vinha se intensificando desde o fim da 1ª Guerra Mundial. Ao final da 1ª Guerra Mundial a população judaica na Palestina era de cerca de 56 mil pessoas, contra uma população árabe nativa de 644 mil, dando um salto em 1931para 174.600 judeus, numa população total de 1.035.800. (MAGNOLI, Org., 2007) A crise da Bolsa de Valores de 1929 e a ascensão dos anti-semitas, de cunho nazista na Europa impulsionou ainda mais essa imigração. Já sob os efeitos da Segunda Grande Guerra e da política inglesa, houve uma escalada desses números, alcançando, em 1946, um total de 808 mil judeus em uma população de quase dois milhões de pessoas. Observa-se que essa imigração desenfreada de judeus vindos predominantemente da Europa, demonstra que, antes mesmo de qualquer divisão de território indicada pela ONU, já se estabelecera uma usurpação crescente das terras palestinas, sendo que a maioria da população originária daquele local sempre foi de palestinos. Só por isto já se configura uma invasão e massacre do povo palestino operada por sionistas e imperialistas.

Na continuidade da linha do tempo, obtida a partir da publicação do JB, destacamos duas manchetes: “Primeiro armistício entre judeus e árabes na Palestina”, do dia 11/06/1948 e “Exércitos dos EUA, Itália e Tchecoslováquia são destinados à defesa de Israel”, do dia 15/06/1948. Observa-se, dessa forma, que após quatro dias do cessar fogo os imperialistas desrespeitam a decisão dando apoio bélico a Israel.

Após tomar mais territórios do que previa a ONU, Israel recebe uma ajudinha dos EUA, a maior potência militar do planeta e dos italianos, que pouco tempo antes eram governados pelo regime fascista. A Tchecoslováquia colaborou, durante essa trégua, fornecendo armas ilegais para a principal organização militar dos judeus com um efetivo de 30 mil homens, a Haganá (Defesa em hebraico)

Seguindo com a ordem cronológica dos fatos sucedem-se as seguintes manchetes: “Volta dos combates na Palestina” (09/07/1948), “ONU ordena cessar-fogo na Palestina” (15/07/1948), “Nova trégua na Palestina” (03/09/1948), “Em Jerusalém, judeus e árabes assinam cessar-fogo” (30/11/1948). Essa sucessão de eventos está relacionada ao fim da 2ª Guerra Mundial e ao estabelecimento da Guerra Fria que provocou a deflagração de diversos movimentos de cunho nacionalista contra o neocolonialismo impetrado pelos países europeus e pelos EUA.

A manchete do dia 05/06/1948 vem com a seguinte frase: “França aceita a independência do Vietnam sob a direção do imperador Bao Dai e do general Xuan” demonstrando que a França, que dominava a região até a 2ª Guerra Mundial, foge com a chegada dos japoneses. Após a derrota dos japoneses, a França recupera a colonização da região e recoloca Bao Dai, testa de ferro do imperialismo francês, no trono. É importante esclarecer que quem liderou a verdadeira luta de independência dos vietnamitas na expulsão dos nipônicos foi o líder comunista Ho Chi Minh, ao norte. Dessa forma, o títere Bao Dai representou, no lado sul, em Saigon, a retomada da colonização francesa.

A intervenção dos EUA na Coréia aparece na seguinte manchete: “Coréia do Sul proclama independência” (15/08/1948). O governo americano, que incentivou a divisão na Alemanha, com a criação da Alemanha Ocidental; do Vietnam, unindo-se aos franceses, na divisão entre norte e sul; também o fizeram na Coréia, dividida entre norte e sul, aproveitando-se da fragilidade de países ora divididos para impor seu domínio imperial.

Seguem-se as manchetes: “ONU rejeita o pedido de anexação de Israel” (17/12/1948), “França reconhece o governo de Israel” (24/01/1949), “Mapaii, partido trabalhista israelense, vence as eleições parlamentares” (25/01/1949), “Jerusalém é bombardeada durante conflito entre árabes e judeus” (12/02/1949), “Constituição do primeiro governo em Israel, dirigido por David Ben Gourion” (08/03/1949), “Papa Pio XII se pronuncia a favor da internacionalização de Jerusalém e dos demais lugares considerados santos da Palestina” (15/04/1949), “Israel é admitido na ONU” (11/05/1949), “Israel abole as leis de imigração e convida todos os judeus para o país” (15/05/1949). Essas manchetes apresentam uma sequência de eventos que configuram a formação do governo de Israel que adota, apenas um ano após a criação do Estado de Israel, um crescimento progressivo de imigração de judeus oriundos de todos os cantos do planeta configurando uma verdadeira invasão de territórios palestinos. Camargo deixa isto claro quando afirma que: “O Fundo Nacional Judaico, braço da Organização sionista Mundial, intensificou a compra de terras que se tornavam ‘propriedade eterna do povo judaico’, inalienável, que só poderiam ser arrendadas a judeus.” (MAGNOLI, 2007, p. 430). A título de curiosidade, é bom esclarecer que o Fundo Nacional Judaico é constituido por banqueiros que controlam o capital financeiro mundial.

Na publicação do JB do dia 17/05/1949, a manchete em destaque é: “Grã-Bretanha aceita a independência da Irlanda, mas não abre mão da Irlanda do Norte”. Fica patente que o imperialismo age de forma truculenta para manter a dominação, pois ao tempo em que reconhece a independência da Irlanda, conquistada após trinta anos de luta dos irlandeses, mais uma vez, investe no divisionismo dos territórios, mantendo sua dominação sobre a Irlanda do Norte.

Desde 1919 o Parlamento independente da Irlanda, de maioria católica, reivindicava sua autonomia, senda que a resposta britânica, a essa luta se deu ao final deste ano, de forma criminosa, quando foram disparadas pelas tropas da Guarda Real Irlandesa rajadas de metralhadora contra os expectadores irlandeses de um espetáculo esportivo, matando dezenas de pessoas. Esse episódio, descrito pela banda irlandesa U2 na letra da música sanday blody sanday, relata o terror e a violência impiedosamente utilizado pelo imperialismo. Esse comportamento, repetidas vezes adotado mundo afora pelos britânicos, rendeu aos mesmos a alcunha “pérfida Albion”. Albion é o nome atribuído pelas fontes latinas e gregas às ilhas Britânicas.

Para concluir essa etapa histórica acerca da primeira guerra árabe-israelense, as manchetes do JB tratam da atuação dos grupos paramilitares israelenses e seus líderes. Em 25/11/1949: “Israel e Jordania não aceitam a internacionalização de Jerusalém” e em 08/12/1949: “ONU aprova a internacionalização de Jerusalém”. A decisão da ONU, sob o pretexto de defesa dos lugares santos, usa a falácia da paz que se estabelece sobre os cadáveres de milhares de palestinos assassinados violentamente pelas forças de defesa dos judeus. Essas forças eram constituídas pelo Haganá e milícias da extrema direita judaica (Irgun e Gangue Ster).

O Irgun, liderado por Menachem Begin, foi o responsável pelo atentado, em 1946, em Jerusalém, no Hotel King David, onde estavam hospedadas as autoridades inglesas, matando 91 pessoas. A intenção era a de deixar claro que o domínio da região deveria ser dos sionistas e não dos britânicos. A Gangue Ster, liderada por Yitzhak Shhamir, massacrou mais de cem civis árabes, incluindo velhos e crianças, na cidade de Der Yassin, provocando a fuga de mais de 100 mil palestinos, em abril de 1948. Essa foi a primeira leva de refugiados. Os líderes das duas forças de direita judaica tornaram-se, por seus atos criminosos, primeiros-ministros.

A primeira Guerra Árabe-Israelense resultou num aumento extraordinário do território israelense em detrimento dos palestinos, num total de 700 mil. Deste total, 350 mil foram para a Cisjordânia e Jordânia; 190 mil foram para a Faixa de Gaza; 100 mil, para o Líbano; 75 mil, para a Síria; 4 mil, para o Egito e 4 mil para o Iraque. Essa usurpação fez com que os judeus, que sempre foram minoria, mesmo após a determinação da ONU de terem direito a 55% do território palestino, ampliassem para 79%.

Não se trata de uma luta de Davi contra Golias, mais sim de um complô das nações imperialistas, que forneceram e fornecem até hoje, os mais avançados armamentos do mundo, como o faz os EUA, a Inglaterra, a França e a própria Alemanha. Esta última, sob o pretexto de se redimir do holocausto judeu, ajuda a promover um novo holocausto, agora contra o povo palestino.

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