Polêmica

A manipulação se chama Fernando Haddad

O ideólogo do PT, Emir Sader, procurou dar uma explicação para a recente pesquisa Datafolha, em que a aprovação do presidente Lula caiu 11 pontos percentuais

O ideólogo do PT, Emir Sader, procurou dar uma explicação para a recente pesquisa Datafolha, divulgada na última sexta (14), em que, entre outros números negativos, a aprovação do presidente Lula caiu 11 pontos percentuais, atingindo a casa dos 24%. 

Com o título A guerra das comunicações – da manipulação dos preços à manipulação da mídia, e publicado no sábado (15) no sítio do Brasil 247, o artigo de Sader afirma que a pesquisa é “uma manobra política, para quebrar o clima favorável ao Lula que existia no país” e seu resultado é obra da manipulação dos preços dos alimentos e da manipulação dos grandes especuladores.

Sader considera o resultado da pesquisa “absurdo”. Isso porque, segundo ele, “Lula faz um bom governo”. Para demonstrar, cita os frequentes números que a propaganda oficial e não oficial costuma divulgar: crescimento econômico, “pleno emprego”, redução da pobreza e extrema pobreza. Ele cita números, percentuais, etc. Na sua visão, não haveria nenhum motivo real que justificasse os números desastrosos que a pesquisa Datafolha apresentou.

Emir Sader, então, se volta para quem realizou a pesquisa: a Folha de S. Paulo. Ele diz: 

“Como explicar esses resultados paradoxais de pesquisas? O que era um problema real até aqui se torna um problema muito grave, quando a Folha de São Paulo atribui ao Lula o apoio de apenas 24%. Conhecemos de sobejo o que significa a Folha de São Paulo. E ao que ela chegou, durante a ditadura, de que o empréstimo de seus carros para os órgãos repressivos da ditadura militar, foi uma das tantas ações de conivência com a ditadura. Só isso – nunca desmentido pela ‘Falha’ – bastaria para desqualificar qualquer tipo de credibilidade daquela que é um verdadeiro partido da direita brasileira.”

Que a Folha de S. Paulo não merece a menor credibilidade, que ela consiste de fato num verdadeiro partido da direita brasileira, que ela foi, verdadeiramente, um colaborador da ditadura de 1964, isso tudo é verdadeiro. Mas apenas denunciar a Folha sem entrar no mérito da pesquisa não é suficiente. E Emir Sader sabe disso. Por isso, ele elenca mais indícios para explicar o resultado da pesquisa. Ele continua:

Para se dar esta conjuntura – a mais grave para o governo Lula – se combinam dois tipos de manipulação: a manipulação dos preços dos alimentos de consumo popular, por um lado. As carnes não custam menos de R$ 50 nos supermercados. A picanha, que o Lula gostava de mencionar, que estava entre R$ 50 e R$ 60, está por mais de R$ 8 (sic). O leite foi de R$ 5 para R$ 7.

Além da subida real dos preços, há a manipulação dos grandes especuladores, que ganham economicamente com os preços elevados e politicamente com o desgaste do governo.”

Sader, nesse ponto, menciona um elemento que se choca frontalmente com sua premissa fundamental de que no governo Lula a situação econômica caminha a mil maravilhas. Sader fala em manipulação dos grandes especuladores, mas também reconhece a “subida real dos preços”.

A questão da inflação tem sido um dos grandes problemas do governo Lula até aqui. Ao contrário da propaganda, o aumento do preço dos alimentos é real, e as grandes massas do povo sentem imediatamente na pele essa realidade. A alegação de que a inflação está sob controle é completamente contestada pelos dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), que apontam um aumento muito maior na inflação dos alimentos. Em janeiro de 2025, o preço da cesta básica na cidade de São Paulo subiu 1,25% em relação a dezembro de 2024, alcançando o valor de R$851,82, o mais caro entre as capitais. Comparado a janeiro de 2024, o aumento foi de 7,36%, bem acima da inflação oficial. Os dados revelam que 10 dos 13 produtos que compõem a cesta básica tiveram aumento no preço, com destaque para o tomate (14,67%), café em pó (6,26%), óleo de soja (2,91%) e carne bovina de primeira (1,26%). No acumulado de 12 meses, os aumentos foram ainda mais expressivos: café em pó (37,78%), óleo de soja (35,38%), carne bovina de primeira (27,00%), leite integral (11,50%) e manteiga (7,78%).

Enquanto isso, o salário-mínimo foi reajustado, no mês passado, em apenas 7,5%, chegando a míseros R$ 1.518, valor que – pelos cálculos do DIEESE, é suficiente apenas para comprar menos de duas cestas básicas mensais (média de R$ 828 cada), nas 17 capitais pesquisadas; quando para uma família operária média, de quatro pessoas, são necessárias três cestas. O reajuste contido do salário mínimo é parte da política do “plano Haddad” de “contenção dos gastos públicos”. Com a medida e os cortes no BPC (Benefício de Prestação Continuada), só neste ano, o ministro da Fazenda pretende economizar algumas dezenas de bilhões de reais. Uma economia, diga-se, que atinge os trabalhadores e o povo pobre, mas que se converte, por meio dos mecanismos da dívida pública e a política de aumento de juros, em centenas de bilhões para os banqueiros e especuladores financeiros.

O quadro econômico ganha contornos mais concretos e reais quando se traz à tona que cerca de 50 milhões de pessoas se encontram na extrema pobreza, recebendo o Bolsa Família, e quase 40% da população economicamente ativa situa-se na dita “economia informal”. 

A política econômica do governo Lula, sob a batuta de Fernando Haddad, se provou um desastre. Haddad é um operador dentro do governo da política neoliberal que, tempos atrás, jogou a popularidade dos tucanos no chão. Feita para beneficiar os banqueiros e especuladores, ela só pode gerar repulsa por parte da maioria do povo. 

A realidade da situação econômica do povo insiste em contrariar a propaganda e os desejos dos ideólogos míopes do PT. Emir Sader deixa claro em seu artigo os perigos dessa miopia. Para ele, a pesquisa Datafolha não é senão uma “operação de curta duração, que só consegue resultados ocasionais”. Traduzindo: não há motivo para o governo Lula se preocupar.

Nada mais falso. E nada mais contraproducente para o próprio governo Lula. A pesquisa Datafolha deveria ser encarada como mais um indício, pálido e distorcido, da necessidade de dar uma guinada na política econômica do governo. 

Desde o início, Haddad, à frente do Ministério da Economia, esteve com uma política de corte de gastos em benefícios sociais para garantir o pagamento das benesses inacreditáveis dos banqueiros por meio dos juros da dívida pública.

Entre suas medidas mais recentes e mais impopulares e contra os trabalhadores, o ministro estabeleceu um teto para o aumento do salário mínimo. Mais recentemente ainda, houve a grande polêmica do Pix, que quebraria o sigilo de contas bancárias que movimentassem mais de cinco mil reais em um mês ao longo do ano.

Uma medida como essa, obviamente, mirava penalizar setores muito pobres da população. Felizmente, o governo voltou atrás da proposta, mas não sem receber um duro golpe em sua popularidade. Se há realmente alguma manipulação contra o governo Lula é a sua política econômica neoliberal capitaneada por Haddad. 

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