Estados Unidos

A maior ameaça à ‘democracia’ de todos os tempos da última semana

Esquerdistas que defendem a censura apelando para exageros típicos de desesperados, cuidado com o que apoiam

O assessor da liderança do PT no Senado Marcelo Zero publicou um artigo no portal de esquerda Brasil 247, intitulado Aliança entre as Big Techs e Trump representa a maior ameaça às democracias do mundo desde a ascensão do nazifascismo, trazendo considerações tão exageradas quanto curiosas sobre o poder dos monopólios da internet, como indicado no título. Após considerações sobre os governos opositores do imperialismo, Zero entra no tema de seu artigo, dizendo:

“Se a nossa mídia conservadora procura verdadeiras ameaças à nossa região e às nossas democracias deveria olhar para outras direções. Mais especificamente, deveria mirar para o Norte do continente americano.

Lá, está prestes a tomar posse, na maior potência do planeta, um presidente que, além de não ter compromisso algum com democracia, tanto interna quanto externamente, é escancaradamente intervencionista e expansionista.

Segundo várias organizações estadunidenses comprometidas com a defesa da democracia, como a American Progress e a American Civil Liberties Union (ACLU), Trump, baseado no Projeto 2025, da organização de extrema-direita Heritage Foundation, intentará implantar um ‘presidencialismo imperial’ nos EUA, uma espécie de ‘autocracia’, à semelhança de países como a Hungria, por exemplo.”

Seria um ótimo conselho observar os rumos da política norte-americana, porém os motivos elencados pelo assessor tornam a orientação profundamente desorientada, a começar quando se baseia em ONGs como American Progress para sua análise. A ONG teve como primeiro presidente e CEO John Podesta, chefe de gabinete da Casa Branca (sede do governo dos EUA) durante o mandato de Bill Clinton, além de ter sido presidente da campanha presidencial de Hillary Clinton em 2016. Trata-se, portanto, de uma pessoa profundamente alinhada ao núcleo mais direitista do partido mais ligado ao imperialismo no país.

A ACLU, por sua vez, é outra ONG igualmente financiada por fundações imperialistas, tais como Ford Foundation e Open Society Foundation. O estranho aqui não são “denúncias” feitas por ONGs diretamente ligadas ao Partido Democrata, como a American Progress, ou diretamente ligadas ao imperialismo como a ACLU. É o fato de alguém que se diz de esquerda cair nessa conversa fiada o que realmente causa espanto. Zero, porém, continua:

“Essa agenda antidemocrática está fundamentada na ‘teoria unitária do Executivo’. Essa filosofia de governo, visa a minar a separação tradicional de poderes e a conferir ao Presidente controle quase completo sobre a burocracia federal, incluindo agências independentes designadas pelo Congresso, ou ainda o DOJ [sigla em inglês para Departamento de Justiça, equivalente ao Ministério da Justiça do Brasil] e o FBI [a polícia federal dos EUA].”

Ora, e o que pode haver de mais democrático do que um presidente eleito pelo voto popular, de milhões de eleitores, escolher o gabinete com o qual pretende governar? Longe de ser um exercício de autocracia, é o normal que o presidente escolha seu gabinete, sendo o que acontece na maioria dos países do mundo, entre eles o Brasil.

O mandatário brasileiro, por sinal, é um exemplo do quanto é problemática a decisão de tentar governar com opositores, haja visto a asfixia que sofre seu governo. Zero continua:

“Na realidade, Trump já está dedicado, há meses, a aparelhar toda a máquina do Estado com indivíduos que, por mais desqualificados que sejam, lhe dediquem fidelidade canina. Ele quer, inclusive, que todos os funcionários públicos prestem juramento ao MAGA.

(…)

Toda, ou praticamente toda a sua equipe, é composta por gente ligada ao MAGA e às suas propostas de extrema-direita. Quadros republicanos conservadores, porém moderados e racionais, estão sendo excluídos.”

Como destacado acima, o “aparelhamento da máquina” é um problema para os democratas e por uma boa razão: perdem a capacidade de fazer com o governo Trump o que a direita faz no Brasil com o governo Lula. Porque isso seria positivo a qualquer governante que não seja um suicida, é um mistério que deveria ser melhor explicado por Zero.

Não se trata, como quer indicar o autor, de um problema democrático, visto que o democrático é que o grupo eleito governe. Aqui, no entanto, as confusões de Zero deixam de lado o caráter abstrato e ganham concretude, quando fala em “republicanos conservadores, porém moderados e racionais”, que conforme denuncia o autor, “estão sendo excluídos”. O assessor não diz quem são, mas quem acompanhou as eleições norte-americanas sabe que os “republicanos moderados, racionais” são a ala de ninguém menos do que George W. Bush.

O homem simplesmente é responsável por alguns dos crimes mais hediondos cometidos pelos EUA nesse século, como a Guerra do Afeganistão e a Guerra do Iraque, conflitos com países miseráveis onde pessoas morreram na casa dos milhões. Eis os “moderados, racionais” de Zero. O governo Bush, por sinal, foi tão negativo que terminou com uma das piores avaliações da história dos presidentes norte-americanos, chegando a 65% de desaprovação ao final do mandato.

Com as antigas lideranças desmoralizadas pelo governo profundamente imperialista (e por isso mesmo, genocida) de Bush, o Partido Republicano foi tomado de assalto pelo trumpismo. Atentos ao fenômeno, os articuladores do imperialismo buscam censurar as brechas de comunicação abertas pela internet, para evitar que o mesmo aconteça em escala nacional.

Perder o controle do principal país imperialista do mundo, finalmente, seria uma catástrofe para os monopólios internacionais. Esse setor da burguesia, portanto, é que tem um interesse real na promoção da censura, por ter o que perder caso o repúdio popular contra a política imperialista possa ser expresso livremente. Indiferente ao que realmente está em jogo, Zero diz:

“Daí a centralidade do esforço em tornar a internet e as redes sociais um território livre, não para quaisquer manifestações, como alegam Musk e Zuckerberg, mas sim para as manifestações da extrema-direita, do discurso de ódio, das fake news etc.”

Ora, os monopólios privados naturalmente favorecerão a política que interessa à burguesia, e não os trabalhadores. Ocorre que, sendo representantes de uma ala hoje semi-oprimida da classe dominante, os setores mais frágeis da burguesia precisam enfrentar a censura se quiserem sobreviver na luta contra um inimigo mais poderoso como o imperialismo, que, por sua vez, precisa da censura para conter seus opositores na disputa intestina.

O problema é que a disputa entre direita tradicional e extrema direita é passageira. O autor fala em “nazifascismo” atribuindo esse fenômeno político a Trump, porém ignora que em um primeiro momento, o imperialismo mundial apoiou tanto Hitler quanto Mussolini, sendo fundamental para a ascensão de ambos.

É o imperialismo também, finalmente, que tem capacidade para instituir uma ditadura fascista global, como a que Zero diz temer, para a qual, a censura será um passo decisivo a ser estabelecido. Por isso é um erro crasso a esquerda prestar-se a aceitar a política de defesa da “democracia”, uma tolice destinada a enganar incautos e que na prática, nada mais é do que defender o regime imperialista.

Não se trata de tomar o partido de Trump, mas tampouco abraçar o imperialismo, uma força social infinitamente mais destrutiva e centro de toda a opressão mundial. O que precisa é ter a defesa dos interesses dos trabalhadores em mente e aproveitar a crise interna, envolvendo os distintos setores da burguesia, para criar condições melhores de luta para os trabalhadores.

Donald Trump só será um novo Hitler se aqueles que hoje estão com uma política de “defender a democracia” assim quiserem. Quando isso acontecer, a esquerda terá feito um grande favor ao endossar os ataques à liberdade de expressão e aos direitos fundamentais para se combater o fascismo.

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