Desde o início da luta das mulheres, impulsionada fundamentalmente pelo movimento operário revolucionário, há uma distinção clara entre a posição da classe operária e o feminismo burguês. Ou seja, essa diferença existe há mais de um século. Os marxistas, que estabeleceram o 8 de março como o Dia Internacional da Luta da Mulher Trabalhadora, sempre alertaram para a necessidade de diferenciar esses dois movimentos.
O feminismo burguês preocupa-se com os direitos políticos da mulher e outras questões de interesse da burguesia. O identitarismo segue a mesma linha. Raramente se vê os identitários discutirem problemas cruciais para a maioria das mulheres, como a falta de creches. Para a mulher trabalhadora, essa questão pode ser uma questão de sobrevivência para si e seus filhos. Já para a mulher burguesa, trata-se de um problema menor, sendo considerados mais relevantes debates como o uso do pronome neutro.
A política marxista sobre a questão da mulher deve ser clara. Após a luta da classe operária como um todo, a questão da mulher é a mais importante. As mulheres representam metade da população mundial e da classe operária. Dessa forma, seus problemas precisam ser tratados de maneira específica. No entanto, o marxismo entende que essa luta não pode ser separada da luta mais ampla da classe trabalhadora.
As mulheres enfrentam desafios que os homens não experimentam, como a maternidade, que entra em conflito direto com o trabalho. Esse é um problema particular, e, por isso, a revolta inicial da mulher tende a ser contra essa situação específica antes de se voltar contra a opressão capitalista como um todo. O mesmo ocorre em colônias, onde os trabalhadores inicialmente se revoltam contra os colonizadores antes de questionar o sistema capitalista.
O identitarismo e a extrema direita
O identitarismo propõe resolver a questão da mulher por meio da repressão estatal, uma abordagem que tem em comum com a extrema direita. Os marxistas, por outro lado, entendem que os problemas são de origem social. O crime, por exemplo, é impulsionado pelas condições sociais, e não será solucionado por meio de maior repressão. Da mesma forma, aumentar as penas para o feminicídio significa delegar à polícia a solução da violência contra a mulher, o que apenas reforça a opressão da classe trabalhadora como um todo.
As duas questões centrais para as mulheres são a maternidade e a igualdade. O identitarismo pouco discute a primeira, o que revela sua natureza burguesa. Enquanto mulheres burguesas têm condições financeiras e empregados para cuidar de seus filhos, as trabalhadoras sem apoio enfrentam enormes dificuldades. Garantir condições para que as mulheres possam ter e criar seus filhos é uma questão central.
O segundo ponto crucial é a igualdade jurídica. Historicamente, muitas leis colocaram as mulheres em uma posição de inferioridade. A luta pelo voto feminino, por exemplo, foi defendida pela classe operária porque ampliaria a participação dos trabalhadores na política.
A questão da repressão, por outro lado, não resolve os problemas das mulheres. O feminismo identitário foca na violência contra a mulher, mas não propõe soluções estruturais. O problema só será resolvido com maior organização política das mulheres. Mulheres ativamente engajadas na política estão mais protegidas contra a violência do que aquelas que permanecem isoladas e individualizadas.
A extrema direita explora questões como feminicídio e estupro para aumentar a repressão estatal. Leis mais severas não protegem as mulheres, apenas aumentam o número de trabalhadores presos. Quanto maior a opressão da classe trabalhadora, maior será a opressão das mulheres.
A emancipação da mulher e classe operária
A emancipação das mulheres está diretamente ligada à revolução proletária. A ideia de que a mulher se libertará sem uma revolução é ilusória. Muitas das conquistas femininas foram resultado direto de revoluções. A União Soviética, por exemplo, foi o primeiro país a garantir igualdade jurídica entre homens e mulheres.
A adoção de reformas favoráveis às mulheres nos países europeus decorreu do medo da burguesia em relação à classe operária, como uma estratégia para evitar revoltas maiores. A luta por reformas deve ser encarada como um meio para alcançar a revolução. Assim, mulheres que buscam verdadeiramente sua emancipação devem enxergar o partido operário e revolucionário como o verdadeiro caminho para essa transformação.
A classe operária é a única força dentro da sociedade capitalista capaz de realizar essa mudança. Em sua luta, confronta diretamente o Estado capitalista e tem condições de derrotá-lo. Atualmente, a força da classe operária é comparável ao poder dos capitalistas, pois é ela a base desse sistema.
Não há mais espaço para confusão entre o movimento operário e o identitarismo. Durante muito tempo, o identitarismo foi denunciado como uma doutrina falsa e pró-imperialista. Hoje, além de reacionário em um sentido geral, ele se tornou uma tendência explicitamente contra-revolucionária.
O identitarismo tem servido de base para apoiar o genocídio em Gaza e para defender políticos responsáveis por essas atrocidades. Seus defensores chegaram ao ponto de acusar o PCO de fascismo por não apoiar Biden e Kamala Harris.
A eleição de Trump tem sido usada como pretexto para justificar um suposto novo período de terror, ignorando os horrores cometidos sob governos anteriores, como a invasão do Iraque e do Afeganistão, o genocídio em Gaza e a perseguição a países como Venezuela e Irã. O discurso contra Trump serve apenas para expor o caráter pró-imperialista e contra-revolucionário da esquerda identitária.
A luta das mulheres não pode ser dissociada da realidade concreta. A defesa da contra-revolução travestida de pautas identitárias não contribui para a emancipação feminina e, na prática, fortalece a opressão capitalista sobre toda a classe trabalhadora.