HISTÓRIA DA PALESTINA

A luta contra o sionismo antes da invasão inglesa da Palestina

No início do século XX, os palestinos perceberam que os sionistas tentavam dominar suas terras, gerando uma luta que antecede o término da Primeira Guerra Mundial

Antes da conquista dos palestinos pelo imperialismo britânico em 1917, a Palestina era governada pelo Império Otomano. Nessa etapa de sua história, os palestinos possuíam uma participação direta no parlamento dos otomanos em Istambul. O movimento sionista ainda não possuia a força que teria após os britânicos tomarem a Palestina, mas já havia começado a migração em massa de judeus europeus, algo que já tinha um impacto nas zonas rurais, de onde os camponeses eram expulsos. Em 1914 a oposição ao sionismo apareceu no parlamento.

Em 1910 já há relatos de confrontos com os sionistas. Uma expedição arqueológica britânica que estava escavando sob a região da esplanada das mesquitas em Jerusalém gerou confrontos. Segundo o acordo feito com o Xeque al-haram, os trabalhadores da expedição realizavam as escavações durante as primeiras horas da madrugada, quando os portões externos ficavam trancados por quatro ou cinco horas. Eles vinham trabalhando há um mês quando, de repente, se espalhou o boato de que estavam procurando a espada e o ouro do Rei Salomão e que a escavação havia sido aprovada pelo governo.

O boato chegou à procissão de Nabi Musa, liderada pelo Mufti Camil al-Husseini, que fez um discurso inflamado. Kamil acusou o governador de Jerusalém de participar de uma conspiração anti-muçulmana com os britânicos para transformar o Haram em um local arqueológico. A procissão se transformou em um protesto em massa. Neste caso já fica claro que a influência dos britânicos, mesmo sem a dominação política total, já era enorme. Em 1911, o debate sobre o sionismo já era algo presente na imprensa, já se discutia os efeitos da migração em massa dos judeus europeus para a Palestina.

Em 1914, o parlamentar Said al-Husseini levantou a questão da Palestina pela primeira vez no recém-eleito parlamento otomano, argumentando que “os judeus estavam propondo criar um estado na região que incluiria a Palestina, a Síria e o Iraque“. Após o debate, o ministro do Interior, Khalil Bei, declarou que o império se opunha ao sionismo. No entanto, Said considerou que isso não foi visto de fato como um problema para o império.

No início do século XX o movimento sionista estava em busca de patrocinadores por toda a Europa. Um setor inclusive chegou a tentar cooperar com a Rússia Czarista, capital do antissemitismo mundial naquele momento. Isso também aconteceria anos depois com a Alemanha nazista. Obviamente houve uma aproximação com os otomanos, pois eles controlavam a Palestina, mas o Sultão não considerava que o movimento sionista teria nenhum ganho real. Foram os banqueiros britânicos que se tornaram os grandes patrocinadores do sionismo, eles já sabiam a importância que teria o Oriente Médio devido à presença do petróleo.

O parlamentar Husseini então foi a imprensa. Ele contou ao editor do Al-Aqdam sobre sua indignação com a passividade do Império Otomano diante da ameaça sionista: “O governo deveria acordar e enfrentar o que está acontecendo“, disse ele.

O principal perigo residia na aquisição de terras dos camponeses pelos sionistas. Assim como o prefeito Hussein, Said também temia a fraqueza dos camponeses, embora fossem os senhores de terra, incluindo a família Husayni, que vendiam terras aos sionistas. Os camponeses por sua vez era quem mais resistia pois o sionismo tinha a política de expulsá-los de suas terras.

Said não foi o único Hosseini a tornar pública sua posição contra o sionismo. Em 1914, o jovem Jamil al-Husseini também foi entrevistado pela imprensa, e pode ser considerado um precursor do movimento de resistência palestino. Ele falou sobre a necessidade de lutar contra o sionismo porque “isso poderia levar à expulsão dos palestinos de suas terras“. O sionismo estava sendo ajudado pelo governo, alertou ele, e “as pessoas comuns não percebem o que está acontecendo“. Ele argumentou que os oficiais do governo estavam facilitando a aquisição de terras pelos sionistas.

Ao mesmo tempo havia uma tentativa de acordo com os sionistas para o governo que surgiria com a queda do Império Otomano. Naquele momento já estava claro para os setores mais conscientes que era uma questão de tempo até que o chamado “homem doente da Europa” caísse. Mas as tentativas não avançaram, os sionistas em última instância não estavam interessados em acordos com árabes, suas alianças naturais eram com o imperialismo europeu.

O próprio Said participou de uma das reuniões com líderes sionistas, em associação com a iniciativa de Victor Jacobson, representante da Federação Sionista em Istambul, que convidou vários palestinos importantes para jantar em sua casa. Nessa ocasião, Said descobriu que o movimento sionista queria que ele promovesse o apoio à autodeterminação pan-árabe na Palestina, em vez da autodeterminação palestina, a fim de alcançar um entendimento duradouro entre o sionismo e o mundo árabe.

Por sua parte, Jacobson descobriu que a liderança palestina não estaria disposta a aceitar uma imigração em massa judaica na Palestina, principalmente porque temia não ser capaz de limitá-la e que, eventualmente, ela tomaria conta de todo o país. Dessa já fica claro o choque entre o sionismo e os palestinos que se tornaria cada vez maior.

Essa conjuntura mudou completamente quando mudou a correlação de forças. A Palestina sob o controle dos ingleses se tornou a Palestina do projeto sionista. Os grandes inimigos dos palestinos inclusive se tornaram as forças armadas da Inglaterra que ocuparam o país. Em 1936, quando aconteceu a Revolução Palestina, o grande inimigo era os ingleses, e depois os sionistas, que eram seus aliados.

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